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Brasil: Manifestação mostra divisão política em São Paulo e protestos começam a desagregar-se

A manifestação que começou na tarde de quinta-feira em São Paulo mostrou uma divisão política entre os participantes, e os protestos, até agora unificados e convocados pelo Movimento Passe Livre, começam a desagregar-se.

© Créditos: AFP

Na avenida Paulista, principal palco de manifestações da cidade, um grupo de cerca de uma centena de pessoas com os rostos pintados de verde e amarelo passava por volta das 22h30 de quinta-feira [3h da manhã no Luxemburgo].

Traziam consigo bandeiras do país e, em determinado ponto da via, ajoelharam-se no chão e cantaram o hino nacional, alguns sorrindo.

"Eu sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor", cantavam, segurando cartazes com críticas e insultos à Presidente Dilma Rousseff.

"Ela [Rousseff] não conseguiu fazer infra-estruturas à volta dos estádios [para o Mundial2014]. Está ‘surfando’ na herança negativa do governo de Lula [da Silva]", afirmou o consultor de empresas Rafael Gonzales, que se disse apartidário, mas mais próximo do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o principal opositor do Partido dos Trabalhadores (PT) de Rousseff.

Menos de 200 metros atrás seguia outro grupo de dimensão semelhante, liderado por uma bandeira símbolo do anarquismo, com os rostos sérios e, em alguns casos, com a boca e o nariz cobertos por panos. "Chega de alegria, a PM [Polícia Militar] mata pobre todo o dia", cantavam.

O grupo mostrava cartazes com nomes de regiões da periferia de São Paulo, como Grajaú, no extremo sul, chamava "patriotas" de "idiotas" e realçava que protesto "não é Carnaval".

"A questão do transporte serviu para que a população acordasse. Mas o problema é muito mais fundo. A periferia é esquecida, a polícia precisa de melhorar. E não é com nacionalismo que vamos conseguir", disse uma estudante de Geografia, de 22 anos, que não quis divulgar o nome.

Mais cedo, no início do protesto, brigas entre manifestantes considerados apartidários e representantes de partidos políticos de esquerda deixaram um ferido e diversas bandeiras queimadas. "Sem partido", gritavam os primeiros. "Sem fascismo", respondiam os segundos.

Panfletos colados em paragens de autocarros e quiosques evidenciavam a divisão dos próximos actos.

Um deles convocava para a "1ª manifestação dos apartidários e sem bandeira", para a próxima terça-feira. Outro, para derrubar a "cura gay" – projeto do legislativo brasileiro –, para hoje.

Algumas reivindicações eram comuns a diversos grupos, como mais investimentos na educação e na saúde, menos corrupção e menos gastos com o Mundial2014.

Destacavam-se os cartazes contra o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o pastor evangélico Marco Feliciano, conhecido por declarações homofóbicas.

Esta semana, a comissão aprovou um projecto que, se aprovado pelo legislativo, permitirá que psicólogos se envolvam em projetos da cura da homossexualidade.

Alguns manifestantes destacavam-se por não saberem bem o porquê de seu protesto. Entre cinco jovens encontrados pela Lusa com máscaras semelhantes às usadas pelos hackers do Anonymous, por exemplo, apenas um soube reconhecer o grupo.

Fernanda Barbosa, da Agência Lusa