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Brasil: Mais de um milhão protestaram em 80 cidades, fazendo 34 feridos e 1 morto

Novas manifestações foram desencadeados ontem em mais de 80 cidades brasileiras, mobilizando mais de um milhão de pessoas. Em muitas, os protestos originaram confrontos com a polícia militar, fazendo 34 feridos e um morto.

© Créditos: AFP

Em Brasília, manifestantes tentaram invadir o edifício histórico do Itamaraty que apedrejaram. Em Ribeirão Preto, estado de São Paulo, um jovem de 18 anos foi atropelado por um condutor de um camião que avançou com o veículo sobre os manifestantes.

No Rio de Janeiro, um pequeno grupo de manifestantes reminiscentes mais radicais vandalizou um posto da Polícia Militar, enquanto outros continuavam a atirar pedras contra lojas, conforme mostrava imagens da televisão local.

Mais cedo, uma manifestação pacífica reuniu mais de 300 mil pessoas na cidade, mas o acto terminou com vandalismo e pilhagens.

Em Brasília, focos de incêndio ainda podiam ser vistos na Esplanada dos Ministérios por volta das 22h (3h da madrugada no Luxemburgo) e muitos manifestantes atiravam objectos para que o fogo se propagasse ainda mais.

De acordo com uma das manifestantes, que participou nos protestos em Brasília, a maior parte dos integrantes estava pacífica e tentava repreender os actos de violência gritando "vandalismo não".

"Quando a polícia reprimiu os que tentaram invadir o Itamaraty [ edifício histórico, ndR], lançaram muita bomba de efeito e gás pimenta e muita gente foi embora, parte dispersou-se. Se o movimento tivesse sido só pacífico, acho que a manifestação teria durado até mais tarde e inclusive reunido mais pessoas", afirmou à Lusa pelo telefone a historiadora Natália Codo.

Em Vitória, capital do Espírito Santo, registaram-se igualmente pilhagens e vandalismo ontem à noite. O clima era tenso, com manifestantes mais radicais a tentar arrancar as grades de protecção.

Um morto e três feridos em atropelamento durante protestos

Uma pessoa morreu ontem à noite e outras três ficaram feridas em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, após um condutor avançar sobre um grupo de manifestantes, segundo a imprensa local.

A vítima fatal é um rapaz de 18 anos que participava nos protestos que decorriam em várias cidades brasileiras no final da tarde de quinta-feira.

O veículo terá avançado contra um grupo de jovens manifestantes numa das ruas que foram fechadas para o protesto, de acordo com o diário "Estado de São Paulo".

O condutor fugiu após o atropelamento. A polícia investiga o acidente para tentar localizar o responsável.

Em Ribeirão Preto, as manifestações reuniram cerca de 25 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar. Na capital do Estado, os protestos somaram 100 mil manifestantes.

Danos ao prédio do Itamaraty foram "consideráveis"

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, António Patriota, afirma que os danos ao edifício histórico do Itamaraty foram "consideráveis" e condenou os actos de vandalismo ocorridos durante a manifestação desta quinta-feira na capital brasileira.

"Fiquei muito indignado com o que ocorreu, o prédio é um património da nação brasileira, que representa a busca do entendimento pelo diálogo com base no direito, foi um acto de vandalismo que não pode se repetir", afirmou o ministro em entrevista à emissora de rádio CBN.

De acordo com o ministro, havia um número reduzido de funcionários dentro do prédio no momento do conflito, mas ninguém ficou ferido. Já os danos materiais foram importantes, com vidros partidos e buracos, "provavelmente provocados por algum tipo de bala".

"Conclamaria a todos os manifestantes que observassem a calma e que respeitassem o património da nação brasileira. Saudamos as manifestações pacíficas, mas quando se trata de distribuição do património já são ações que precisam ser condenadas", reforçou.

Em Salvador, polícia Militares entraram ontem à noite em confronto com manifestantes, na Baía, para os impedir de se aproximarem do estádio Arena Fonte Nova, onde ia decorrer o jogo da Taça das Confederações entre Nigéria e Uruguai.

Cerca de 20 mil pessoas tentaram aproximar-se do estádio, quando os polícias usaram bombas de efeito para os deter, a cerca de dois quilómetros da Arena Fonte Nova, segundo o jornal "Estado de São Paulo". Não há informações sobre feridos ou detidos.

A origem dos protestos

Os protestos começaram no início de Junho em São Paulo, exclusivamente contra a subida de 20 centavos nos preços dos transportes públicos, mas estenderam-se a outras cidades no Brasil e de outros países.

A repressão policial às manifestações motivou outras pessoas a protestarem pela paz e pelo direito de manifestação, bem como outras queixas, entre quais corrupção e a falta de transparência.

Em particular, as manifestações criticam os elevados gastos com a organização de eventos desportivos como o Mundial2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, em detrimento de outras áreas como a saúde e na educação.