Biden anuncia decadência da economia russa e quer tornar Putin um “pária” internacional
Congelar os ativos de quatro bancos e dos oligarcas, bloquear o programa aeroespacial e acabar com exportações de componentes "high tech" fazem parte das sanções. Ao mesmo tempo, Biden disse nesta noite de quinta-feira que as tropas americanas nos países bálticos servem para deter Putin de invadir países da NATO.
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As sanções anunciadas pelo presidente americano - enquanto os líderes europeus estão reunidos em Bruxelas para aprovar o pacote da UE, que deverá ser muito parecido - foram feitas, disse, para “maximizar o longo impacto na Rússia e ao mesmo tempo minimizar o impacto nos EUA e nos nossos aliados”. Biden admitiu, no entanto, que sempre que há um conflito desta envergadura há alterações nas bolsas mundiais e os consumidores vão sentir os efeitos, e em primeiro lugar, nos preços dos combustíveis.
“Mas por muito que isto possa doer seria muito pior se não parássemos as intenções de Putin já”. Biden disse que não há dúvidas que Putin tem ambições de reconstruir o império soviético à força, desrespeitando a lei internacional, e que as medidas que a NATO e os seus aliados vão tomar destinam-se a fazer dele “um pária internacional”.
Biden não se pronuncia se isto é uma nova Guerra Fria, mas garantiu que há um corte total de relações entre Washington e Moscovo. “Não tenciono falar com Putin”, sublinhou.
Biden salientou que a Aliança Atlântica e mais países estão unidos: “Quero ser claro, os EUA não fazem isto sozinhos, durante meses juntámos uma coligação representado mais de metade da economia global “. Entre eles estão os 27 da União Europeia, o Reino Unido, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, e mais recentemente juntou-se o Japão, “para amplificar o impacto desta resposta em uníssono”. Putin tem uma “visão sinistra para o futuro do mundo: Mas os EUA e os seus parceiros estão mais aliados mais coordenados e mais determinados do que nunca “, garantiu.
Que medidas são essas ? Vão levar tempo a fazer efeito, mas são profundas
Bancos e oligarcas
Os líderes dos G7 com os quais Joe Biden falou nesta manhã estão, segundo ele, “em acordo total”. Por causa dessa visão conjunta, o Estado russo vai deixar de fazer negócios em dólares, em libras, em euros e em ienes. Juntos, estes países, disse, vão impedir a possibilidade de o aparelho militar russo se financiar e crescer. Com as proibições de exportação para Rússia de componentes high tech, a Casa Branca prevê que o país se mantenha numa economia muito atrasada.
Vão também ser bloqueados do sistema financeiro americano, bancos russos que juntos tem 1 bilião de dólares em ativos. “O que significa que todos os bens que têm na América serão congelados”.
A Casa Branca vai também sancionar as elites e as famílias russas “que beneficiam das ações do Kremlin e por isso elas têm que partilhar a dor”. E esta perseguição aos bilionários russos “vai acelerar-se nos dias que se seguem”
Na terça-feira, a administração Biden impediu o governo russo de se capitalizar junto de investidores americanos ou da União Europeia. “Agora vamos aplicar as mesmas regras a empresas estatais que tenham bens de mais de 1.4 biliões de dólares”, acrescentou.
Tecnologia de ponta, espaço e armamento sofisticado
Tal como esperado, segundo o que também tem sido dito pelos líderes deste lado do Atlântico, será cortado o acesso “a bens tecnológicos para áreas estratégicas da economia russa”. Biden prevê que o corte das exportações de material high tech imposto por todos os aliados equivale a metade das importações da Rússia nestes componentes. Prevê ainda “dar um grande golpe na capacidade de modernizar a tecnologia militar” e “degradar a capacidade aeroespacial, incluindo prejudicando o programa aerospacial russo”.
Outra das ideias é “impedir a capacidade para construir navios, reduzindo economicamente o poderio russo. E isto será um grande golpe às ambições estratégicas de Putin”.
Apesar de interrogado insistentemente por jornalistas na Sala Este, Biden recusou responder se vão ser tomadas sanções específicas contra o próprio Putin, mas disse que os EUA estão preparados para impor mais sanções. Para já, a ideia é tornar a Rússia um país do terceiro mundo, com tecnologia obsoleta. “Embora com armas nucleares”, como dizem vários os comentadores.
A grande questão que ficou no ar é se estas medidas duras não vão levar muito tempo até começar a fazer feridas no poder do Kremlin. Biden admitiu que a situação poderá arrastar-se por meses ou por anos e que Putin vai testar a determinação e união dos países da NATO.
O grande medo: presença de botas americanas no Báltico e na Alemanha, mas nunca na Ucrânia
Além das sanções económicas, Biden explicou aos jornalistas a estratégia militar da Aliança Atlântica: “Estamos a tomar medidas para defender os nossos aliados da NATO”. Esta sexta-feira, dia 25, haverá uma cimeira da NATO, onde estarão os líderes de 30 nações “ para mapear os próximos passos para fortalecer todos os aspetos da Aliança Atlântica”. Mas, garantiu Biden, e repetiu, “Não nos envolveremos num conflito com a Rússia na Ucrânia”. As forças americanas, disse, “vão estar a defender os nossos aliados no leste”.
O Pentágono já enviou 7 mil soldados para a Europa que estão nos países vizinhos da Rússia, mas membros da NATO, Estónia, Lituânia Letónia e Roménia. E foram esta quinta-feira também enviadas tropas para a Alemanha.
Embora este contingente militar não vá pisar terreno que não lhes pertence – a Ucrânia não chegou a aderir à NATO – é “claro como água que os EUA irão defender cada centímetro de território da NATO com a força total da capacidade americana”. Se isto acontecer, disse, “ todos iremos honrar os nossos compromisso do artigo 5 , de que o ataque a um é um ataque a todos”. Biden explicou que a presença de tropas nestes países é uma maneira de evitar que a guerra se expanda e não um convite a um conflito mundial. Quão preocupado está com um conflito mundial? perguntou um jornalista. Biden respondeu que “
A única coisa que me preocupa é que se não o travarmos agora ele sentir-se-á encorajado para prosseguir as suas ambições”, que são, disse, “uma visão sinistra do mundo”.
Ajuda à Ucrânia
Embora não envie soldados para a Ucrânia, Biden disse que haverá “ajuda aos ucranianos para defender o país”. Na quarta-feira o presidente Zelensky já tinha pedido que o ocidente enviasse artilharia anti-míssil. Biden disse que vai assegurar o envio também de assistência humanitária. “Putin está a provocar grande dor nos ucranianos, mas o povo ucraniano conheceu 30 anos de independência e repetidamente mostrou que não tolerará ninguém que queira levar o seu país para o passado . Isto é um momento perigoso para toda a Europa e para a liberdade no mundo inteiro. Putin assaltou os princípios que governam a paz mundial”, resumiu.
E avisou que qualquer nação que apoie a agressão de Putin na Ucrânia será manchada por associação. A Bielorrússia estaria certamente na mente do presidente americano. Quanto à posição dúbia da China, Joe Biden disse que não estava preparado para responder a essa pergunta.