Aterragens forçadas por motivos políticos, uma prática mais comum do que se pensa
A aterragem forçada do avião de passageiros que transportava o opositor bielorrusso Roman Protasevich no domingo surpreendeu o mundo mas esta não é uma prática inédita. O Contacto recorda vários episódios em que governos desviaram aviões para deter dissidentes.
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No domingo, soube-se que o Governo bielorrusso forçou a aterragem de um avião que fazia o trajeto entre a Grécia e a Lituânia quando passou pelo espaço aéreo da Bielorrússia. No interior do aparelho estava Roman Protasevich, um opositor às autoridades políticas do país. Foi detido e agora o Presidente Aleksandr Lukashenko está debaixo de fogo pelos métodos usados para capturar este dissidente.
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Os Estados Unidos e a União Europeia ponderam mais sanções contra Minsk e já pediram às companhias de aviação para evitarem o espaço aéreo bielorrusso. O assunto mereceu palavras bastante duras dos principais governos europeus e há uma ofensiva diplomática contra a Bielorrússia mas não é caso único. Ao longo da história houve vários episódios semelhantes.
França obrigou avião a aterrar na Argélia
Em 1956, cinco dirigentes do movimento independentista argelino Frente de Libertação Nacional voavam num avião civil que tinha partido de Rabat, em Marrocos, com destino à capital tunisina. Entre eles estava aquele que viria a ser o primeiro Presidente da Argélia, Ahmed Ben Bella. O país ainda era uma colónia francesa e os serviços secretos franceses mandaram vários caças para intercetar o voo forçando-o a aterrar na Argélia onde foram detidos pelas autoridades francesas.
Estados Unidos intercetam avião com palestinianos
Em outubro de 1985, um avião da Egyptair que transportava militantes da Frente Popular de Libertação da Palestina para a capital da Tunisia foi forçado a aterrar por aviões de guerra norte-americanos quando voava em espaço internacional sobre o Mediterrâneo. O aparelho aterrou numa base militar norte-americana na Sicília. Os quatro palestinianos foram detidos, julgados e condenados pelos tribunais italianos.
Irão captura suspeito de terrorismo
Abdolmalek Rigi, líder da Jundullah, um grupo extremista sunita considerado terrorista no Irão e nos Estados Unidos, foi detido por Teerão em fevereiro de 2010 quando viajava para o Paquistão. Também neste caso, o avião foi forçado a aterrar e foi revistado. Em junho desse mesmo ano, o líder sunita foi executado pelas autoridades iranianas.
Washington desvia avião
Em 2010, um voo proveniente de França com destino ao México foi desviado a pedido do Governo dos Estados Unidos para prender um passageiro.
União Europeia em silêncio com comportamento da Turquia
Dois anos depois, em 2012, a Turquia forçou um avião de passageiros que viajava de Moscovo para Damasco a aterrar em solo turco, a fim de o inspecionar em busca de equipamento militar. Na altura, Ancara estava nas boas graças de Bruxelas com a União Europeia a apostar na mudança de regime na Síria e não houve qualquer reprimenda ao Governo de Erdogan.
Portugal, França, Espanha e Itália à caça de Snowden
Em 2013, estes países negaram o acesso ao seu espaço aéreo do avião oficial do então Presidente da Bolívia, Evo Morales, a pedido do governo dos Estados Unidos. Sem combustível suficiente para rotas alternativas, o aparelho viu-se forçado a aterrar na Áustria, onde terá sido alvo de buscas porque se acreditava que o dissidente norte-americano Edward Snowden estaria a bordo. Então, várias convenções e tratados internacionais foram violados.