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Amnistia Internacional retira estatuto de preso de consciência a Alexei Navalny

A ONG justifica a decisão com o passado nacionalista e xenófobo do opositor russo.

© Créditos: AFP

Bruno Carlos Amaral De Carvalho

A Amnistia Internacional decidiu retirar o estatuto de "prisioneiro de consciência" ao opositor russo Alexei Navalny devido à sua retórica xenófoba no passado. A organização de direitos humanos tomou a decisão de retirar esse estatuto à mediática figura da oposição russa, que lhe atribui quando foi detido a 17 de janeiro, na sequência de uma onda de queixas que vários funcionários da ONG descrevem como "uma campanha coordenada". Os apoiantes do ativista vêem estas denúncias como uma conspiração patrocinada pelo Kremlin para desacreditar o opositor aos olhos do Ocidente mas a verdade é que, de facto, Alexei Navalny defendeu posições nacionalistas e xenófobas no passado.

A Amnistia Internacional continua a considerar o ativista "prisioneiro político" e exige a sua libertação, afirmou por telefone um porta-voz da organização na Rússia ao El País. Navalny, que foi preso logo após a sua chegada à Rússia vindo da Alemanha, onde recuperou de um envenenamento que seria responsabilidade das autoridades russas, segundo o opositor, foi condenado a três anos e meio na sequência de um caso controverso e de longa data que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem já considerou "arbitrário e injusto".

Até a batalha pelo relato do envenenamento é motivo de disputa política. A Rússia alega que nada teve a ver com o caso e que não faria sentido uma vez que o principal suspeito seriam os serviços secretos russos. O Kremlin afirma que a Alemanha se recusa a entregar as provas de como houve de facto envenenamento. Do outro lado, os apoiantes de Navalny asseguram que foi uma tentativa de assassinato para arredar o opositor do caminho.

A verdade é que o opositor de 44 anos criou um partido de extrema-direita há alguns anos e comparou imigrantes asiáticos a baratas. Alexei Navalny entrou de cabeça na política russa em 1999. Era o último de Boris Ieltsin à frente do Kremlin e o primeiro-ministro era Vladimir Putin, que no ano seguinte será pela primeira vez Presidente russo. Navalny optou por entrar no Yabloko, partido liberal, com algum peso no espetro político. Mas no fim de 2007 o jornal russo Gazeta noticiava a expulsão do jovem daquela formação política por danificar a imagem do Yabloko. Porquê? "Pelas suas atividades nacionalistas".

Ler mais:Alexei Navalny, nacionalista xenófobo ou liberal pró-Ocidente?

Foi então que decidiu formar o seu próprio partido, Narod, de posições nacionalistas e anti-imigração. Também por essa altura, em 2010, Alexei Navalny recebeu uma das bolsas de estudo do Programa Maurice R. Greenberg da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que procurava formar líderes globais. Foi então que se começou a apresentar como um ativista anti-corrupção e a denunciar o mau uso de dinheiros públicos.

Em 19 de setembro de 2007, o famoso opositor russo fez um dos seus vídeos mais polémicos. Estava ainda no partido nacionalista Narod. Nele, compara imigrantes muçulmanos a insetos e defende o porte de armas de civis para resolverem o problema. Atualmente, o vídeo continua na sua página no Youtube. Questionado dez anos depois pelo The Guardian sobre se se arrependia do que disse respondeu que não.

Agora, a Amnistia Internacional afirma numa declaração que Navalny "não denunciou publicamente e que atinge o limiar da defesa do ódio". A organização não especifica a que comentários se refere. Embora vários vídeos de há duas décadas o mostrem como um político populista e nacionalista, o opositor alega ter-se afastado destas posições e abraçado uma ideologia mais liberal.

O diretor da Amnistia Internacional para a Rússia, Natalia Zvyagina, explicou numa entrevista à estação de rádio Echo, de Moscovo, que o estatuto de "prisioneiro de consciência" é concedido a pessoas "presas unicamente pelas suas crenças expressas de forma não violenta" e que os "antecedentes" de Navalny contradizem essa premissa. Zvyagina reconheceu que a ONG tomou agora a decisão devido a numerosas queixas recebidas na sede da Amnistia em todo o mundo que um porta-voz da organização descreve como "muito semelhantes".

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