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Vídeo. Em Wiltz, todos os caminhos vão dar a Fátima

Esta quinta-feira, milhares de pessoas subiram até colina de "Bäessent", em Wiltz, acompanhando a figura de Nossa Senhora de Fátima. Mais uma vez, o santuário encheu-se de cânticos e orações, e de lenços brancos para a despedida de Nossa Senhora, o momento mais emotivo para os fiéis.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Wiltz foi uma das cidades que mais sofreu. Uma família de três irmãs - Léonie, Marie-Josée e Antonia Thill - refugiava-se na cave da casa paroquial, após a sua casa ter sido destruída. Já perto do final da guerra, quando os soldados americanos estavam próximos, os alemães decidiram evacuar Wiltz durante a noite. Por ser inverno e saber que se marchassem ao relento não iriam sobreviver ao frio, o padre pediu-lhes que adiassem a saída até ser de dia. E os alemães aceitaram. Nessa noite, no dia 13 de janeiro de 1945, um grupo de habitantes assinou uma promessa na cave: se Wiltz não fosse evacuada, iriam construir um santuário a Nossa Senhora de Fátima. No dia seguinte, os alemães não apareceram, e passado uma semana, a cidade foi libertada.

Com a chegada dos primeiros portugueses, a partir de 1968 iniciou-se uma peregrinação na Quinta-feira da Ascensão. Desde então - há 52 anos - que milhares de pessoas dirijem-se a Wiltz para subir a colina de "Bäessent" e prestar homenagem ao santuário de Nossa Senhora de Fátima. Na Rue du Pont, no centro de Wiltz, onde antes viviam as três irmãs, há agora barracas com música popular portuguesa e o cheiro a frango assado no ar. Dentro da igreja, ouvem-se orações e cânticos religiosos, que se misturam com os dos peregrinos a chegar. Muitos partiram no dia anterior, outros de madrugada, com os coletes refletores vestidos e de terço na mão.

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Os poucos restaurantes abertos também não escapam à azáfama desta quinta-feira de Ascensão. Bifanas, imperiais, batatas fritas, que vão e voltam, de mesa em mesa. Adriano Campos, de 21 anos, trabalha há sete anos num dos restaurantes que está agora cheio de peregrinos. Vive em Wiltz desde que era bebé, mas nunca participou na procissão. "Tínhamos sempre pessoas cá em casa e depois comecei a trabalhar aqui", conta, dizendo desconhecer a história por detrás do santuário. Mas Adriano não é o único. Há 41 anos que Fátima Ribeiro participa na procissão ao santuário de Wiltz, mas se foi feito pelos luxemburgueses ou portugueses, não sabe. Para a maioria, a devoção é o mais importante.

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Por volta das 14h30, a procissão arranca e cria uma enchente nas ruas. Do jardim ou das varandas, os habitantes observam a multidão a passar. Na chegada à colina de "Bäessent", um relevo da figura de Nossa Senhora estica os braços sobre os 180 nomes vítimas da guerra, gravados em granito, e a todos os fiéis que lá chegaram. Quando termina a missa, é tempo de dizer adeus a Fátima, e ao santuário, onde muitos só irão regressar para o ano que vem. Entre sorrisos e lágrimas, lenços brancos são abanados, enquanto se canta “adeus, Fátima, adeus”. A estátua de Nossa Senhora é de novo levantada e carregada pelas ruas abaixo. Depois de uma caminhada até ao topo e de uma missa em pé, é preciso voltar à igreja. Mas, a descer todos os santos ajudam.