Contacto

Uma cidade atrás das grades

Mais de 600 pessoas pagam os seus crimes dentro dos muros da prisão de Schrassig, onde uma dúzia de profissões coabitam nos dias sem fim. Fatigados e sem meios de segurança devidos, os guardas prisionais esperam anciosamente a entrega de novas armas.

© Créditos: Guy Jallay

A prisão nunca dorme. Atrás das suas paredes de betão e arame farpado, a torre vigiam vivem os cerca de 600 detidos, acompanhados pelos funcionários da prisão. São 24 horas por dia, 365 dias por ano. Sem pausas para o pessoal, que é obrigado a acompanhar a vida diária dos prisioneiros.Toda a penitenciária deve estar sempre preparada: uma pessoa pode ser levada para lá sob boa escolta a qualquer hora do dia ou da noite.

Mesmo na ausência de recém-chegados, a penitenciária não dorme. É preciso satisfazer as necessidades dos 600 prisioneiros permanentes e a vida quotidiana dos trabalhadores, que são quase tão numerosos quantos os que estão guardados, em determinadas horas do dia. Para estar preparado para qualquer chegada, um guarda e uma guarda devem estar sempre em alerta. Além de dois enfermeiros, responsáveis por realizar um primeiro check-up de saúde dos recém-chegados - e que cuidam das necessidades das pessoas já encarceradas.

As portas do Schrassig permanecem fechadas a maior parte do tempo. No entanto, em média, cerca de 1.000 pessoas entram todos os dias e trazem uma certa animação ao local. Desde a chegada e partida dos funcionários, até a entrega de alimentos, bebidas, papel higiênico e outros bens, passando pelo transporte de prisioneiros, e pela chegada de visitantes e advogados que se deslocam para falar com os presos.

São 37 profissões diferentes que se cruzam nos corredores de Schrassig. Uma variedade que excede largamente a de outras administrações luxemburguesas. As profissões tradicionais de guardas prisionais e pessoal médico coexistem com artesãos, gerentes de oficinas e cozinheiros. A administração da prisão também emprega um padre e um imã para acompanhar os prisioneiros mais religiosos.

Os cuidados médicos são uma parte importante da vida diária da instituição. Tudo por causa da saúde precária de muitos prisioneiros, devido à falta de exercício físico e à dureza da vida na prisão. Outro problema é o aumento da idade dos detidos. Um envelhecimento devido a muitos condenados começarem a ser presos mais velhos, juntando-se a isso o facto de as sentenças estarem a ficar mais longas. É necessário, por causa dessa nova realidade, criar um serviço geriátrico para a instituição prisional se adaptar a esta situação.

© Créditos: Gerry Huberty

As armas que se fazem esperar

Apesar da disponibilidade constante de pessoal médico, o acompanhamento médico é sempre insuficiente. Em 2016, 40 detidos fizeram uma concentração para protestar contra a alegada falta de cuidados de saúde. O motivo que desencadeou o protesto foi a morte devido a um cancro de um detido, óbito que os outros detidos consideram ter sido devido por falta de tratamento adequado.

Do lado do pessoal, as queixas também não param de aumentar. Além do ritmo de trabalho muito cansativo, é a segurança que preocupa os guardas. Vários incidentes fizeram as primeiras páginas dos jornais em 2018, quando dois guardas Schrassig foram atacados por reclusos alcoolizados. Considerando que estavam com falta de equipamento para a sua função, os guardas de Schrassig obteveram do Ministério da Justiça a inclusão de sprays de pimenta e paintballs na "lista de recursos autorizados". Após estes casos, novas armas foram prometidas aos guardas, com entrega "a partir de setembro de 2019". No entanto, só em dezembro próximo é que este novo equipamento vai estar disponível em Schrassig, adianta a direcção da administração prisional. No total, 120.000 euros de equipamento de protecção e armas são esperados, incluindo "quatro armas de ar comprimido, um projector de gel de pimenta e coletes à prova de bala". Mesmo a tempo do Natal.

Uma etapa rumo à liberdade

Fundada em 1984, a prisão de Schrassig, abrigava apenas metade do número atual de presos. A situação alterou-se em 1996, quando a nova parte do edifício ficou operacional. A construção de uma nova prisão preventiva em Sassenheim, que abrirá as suas celas o mais tardar em 2023, irá reforçar o sistema prisional do Luxemburgo. O nascimento do novo estabelecimento mudará as etapas a que são sujeitos os detidos nas prisões do Grão-Ducado: Os presos irão para Sassenheim, enquanto os tribunais decidem os seus processos, e depois para Schrassig, se for imposta uma sentença. E só no final das suas sentenças é que os detidos serão enviados para Givenich. A prisão semi-aberta continuará a ser a última paragem no caminho de regresso à vida em liberdade.

Uma reportagem de Sophie Hermes, Steve Remesch et Maximilian Richard com Alexander Abdelilah .

© Créditos: Gerry Huberty

Uma reportagem de Sophie Hermes, Steve Remesch et Maximilian Richard com Alexander Abdelilah .