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Mau tempo

Três empresas, três relatos do caos deixado pelas cheias

São proprietários de restaurantes, pasteleiros e fornecedores. Para Maximilian von Hochberg, Tom Oberweis e Jérémy Pastre, as inundações de meados de julho ainda não são uma recordação do passado.

(Texto: Marlène Brey / Fotografia e vídeo: Sibila Lind)

Três semanas após as inundações, a marca da água ainda é visível. É tão alto como a cintura de Maximilian von Hochberg (que mede 1,85 metros). "Foi aqui que o (rio) Petrusse entrou", diz o proprietário do "Cercle", em Clausen. Na cave, a água varreu tudo. Tal como nas oficinas da Oberweis, em Cloche d'Or. Ali, a água destruiu o armazenamento e a maquinaria, causando quase dois milhões de euros em prejuízos. Em Gasperich, o restaurante "Le Comptoir Bohème" viu as mesas serem levadas por uma enchente incontrolável. E os casos somam-se.

Quantas empresas foram afetadas pelas inundações de 14 e 15 de julho? "Demasiado cedo para dizer. Neste momento, muitas empresas ainda estão a fazer um balanço dos danos sofridos e a analisar a situação com as seguradoras", diz a tutela das Classes Médias.

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As companhias de seguros planeiam entregar cerca de 120 milhões de euros em indemnizações, e o Estado já reservou 50 milhões para colmatar as consequências da catástrofe natural no Grão-Ducado. Para já, a única indicação do impacto das cheias na atividade económica é o número de casos de desemprego parcial introduzidos por "força maior" nas últimas semanas.

Até 22 de julho, o Ministério da Economia tinha validado 16 pedidos de empresas que não tinham sido capazes de retomar as operações normais. Desde então, foram apresentados 149 outros pedidos que o comité económico irá avaliar.

(vídeo em francês)

Na rue Eugène Ruppert, o asfalto foi acabado de colocar, uma vez que a estrada teve de ser reconstruída, assim como a ponte Grund. O "Comptoir Bohème", de Jérémy Pastre, abriu as suas portas, mas para deixar entrar a corrente de ar, não os clientes. As marcas de lama ainda estão a desaparecer gradualmente. A equipa de 30 empregados tem trabalhado duro nestas semanas para deixar tudo em ordem. Este foi um duro golpe para o estabelecimento que tinha acabado de abrir em meados de junho.

O mesmo trauma no "Cercle". A inundação, a subida do Alzette, o Pétrusse a seguir, a água a começar a invadir a adega, a polícia a pedir a todos que saíssem das instalações às 22h, o disjuntor geral a rebentar às 2h da manhã e a mergulhar todo o bairro na escuridão... A noite de 14 está bem presente na memória de quem lá esteve. Maximilian Von Hochberg foi o último a deixar o espaço e agora só pensa em limpar tudo e avaliar as perdas na adega. Não sabe quando é que o restaurante reabrirá.

Tom Oberweis, famoso pasteleiro que é também o presidente da Câmara de Comércio, pede desculpa pela aparência do local. Neste canto da capital, em Cloche d'Or, nada fazia prever que estas instalações pudessem sofrer com as inundações. Léa Oberweis fez o cálculo: "2.000 m2 de superfície em 2,50 m de altura, ou seja, cinco milhões de litros [de água]".

Comida, frigoríficos, elevadores, máquinas: tudo se estragou e, de momento, as reparações chegaram a um impasse. os equipamento e as peças sobressalentes não se encontram em lado nenhum. Demasiada procura, produção insuficiente. "Uma consequência da crise", explica Tom Oberweis. Falando à rádio 100,7, estimou os danos entre 2 e 2,5 milhões de euros.

A contribuição do Governo será apenas um apoio. E "o auxílio estatal apenas cobrirá os custos diretamente ligados às inundações e não cobertos pelas seguradoras", salienta a Direção-geral das Classes Médias.

Classificada como "a catástrofe natural mais cara do século", a inundação do verão de 2021 reabriu o debate sobre a prevenção deste tipo de eventos meteorológicos. Não só o aviso da população, mas também os meios técnicos a serem implementados para evitar mais danos. Estes investimentos são essenciais e certamente muito menos dispendiosos do que as faturas pós-caos.

Só nos últimos três anos, a Associação das Companhias de Seguros do Luxemburgo (ACA) estima o custo das catástrofes naturais em 230 milhões de euros.

(Reportagem original publicada na edição francesa do Luxemburger Wort.)