Taxistas nem querem ouvir falar da Uber
A maioria dos taxistas do Luxemburgo está contra uma eventual vinda da Uber para o Grão-Ducado. Se a plataforma informática que une motoristas independentes começar a operar no país, muitos taxistas temem a “concorrência desleal” e o aumento do desemprego no setor.
Rui Costa é taxista há cinco anos no Luxemburgo. © Créditos: Paulo Dâmaso
A maioria dos taxistas do Luxemburgo está contra uma eventual vinda da Uber para o Grão-Ducado. Se a plataforma informática que une motoristas independentes começar a operar no país, muitos taxistas temem a “concorrência desleal” e o aumento do desemprego no setor.
"Nem quero ouvir falar da possibilidade de a Uber começar a operar no Luxemburgo. Se isso acontecer será mais concorrência desleal e, acredito, muitas empresas não vão sobreviver. Temo que o desemprego cresça entre os taxistas”, diz o português Rui Costa, taxista na cidade do Luxemburgo.
Tal como em outras capitais europeias, a Uber, empresa norte-americana que faz transporte privado de passageiros, quer estabelecer-se também no Grão-Ducado. A Uber admitiu há semanas estar em negociações com o Executivo luxemburguês, com o objetivo de a empresa formular o pedido para operar no Luxemburgo.
“Ainda não digerimos bem a nova regulamentação dos táxis que nos prejudica e corremos o risco de apanhar uma congestão por causa da Uber”, lamenta Rui Costa, que desde há cinco anos abraçou a profissão de taxista.
Cristiano Penafria, taxista na Web Taxis, na capital do país, prefere não comentar uma eventual autorização do Governo à Uber. “Desculpe, sobre a Uber não digo nada pois teria que falar mal”, disse o jovem à nossa reportagem.
De norte a sul do país o sentimento é de desconfiança e de muitas incertezas. “Sem dúvida que a Uber virá prejudicar o setor dos táxis. Pergunto, a Uber pagará os mesmos impostos que nós? As pessoas que trabalham para a Uber são qualificadas? Para nós, o Estado não tem licenças, mas haverá para a Uber?”, questiona Paulo Ribeiro, taxista em Ettelbruck.
A nova reforma dos táxis, que entrou em vigor a 1 de setembro, apresenta uma série de ‘barreiras’, que poderão condicionar a atuação da Uber no Luxemburgo, nomeadamente o número limitado de licenças, as novas áreas geográficas e a obrigatoriedade de as bandeiradas serem superiores a 60 minutos no caso de veículos que não são táxis.
“O Governo que pense bem nos problemas que poderá causar aos taxistas do Luxemburgo caso venha a autorizar que a Uber opere no país”, avisa Rui Costa.
“Essa liberalização não será boa e criará muitos problemas às empresas de táxis luxemburguesas, que já fazem um enorme esforço para pagar impostos e salários”, antevê Papi, um taxista belga que há dez anos trabalha no Luxemburgo.
Concorrência da Uber “não é um problema”
Apesar dos protestos contra a Uber em várias cidades da Europa, como foi o caso recente de Lisboa, há quem considere que a concorrência da empresa “não é um problema” no Grão-Ducado.
“Sinceramente, não vejo que haja algum problema. Todos temos o direito a trabalhar e acho que chega para todos”, referiu ao Contacto Altaie Eyad, um taxista iraquiano a trabalhar na gare central da capital.
A Uber nasceu nos Estados Unidos em 2009 e pretendia ser um serviço de táxis de luxo. Porém, a Uber não é uma transportadora, mas sim uma plataforma informática. O seu funcionamento é simples: solicita-se um carro através de uma aplicação móvel. Nesse momento é dada uma estimativa do preço que o serviço vai custar e do tempo previsto da viagem. O pagamento é feito através de cartão de crédito pela aplicação e a fatura segue por email para o cliente.
“A nós, taxistas, com a nova lei, exigem que fixemos o valor da bandeirada e que os taxímetros estejam a funcionar durante as viagens. Se não o fizermos, sofremos coimas pesadíssimas. Já a Uber pode fazer estimativas. Não é uma dualidade de critérios?”, questiona Paulo Amaral, taxista em Esch-sur-Alzette.
Além da Uber não ter preços tabelados, também não tem seguros para acidentes. “A Uber no Luxemburgo é impossível. Não estou a ver uma companhia de seguros do país a querer segurar pessoas e bens neste tipo de transporte privado”, remata Rui Costa, antes de sair para mais um serviço na cidade do Luxemburgo.
Paulo Dâmaso