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Pétange

'Sina' e 'Lino'. Portugueses querem atrair votos com diminutivos

"Ninguém conhece a Flausina", justifica o casal português que é candidato às comunais.

O convite para se candidatarem partiu do déi Lénk e 'Sina' e 'Lino', ambos de 46 anos, aceitaram logo.

O convite para se candidatarem partiu do déi Lénk e 'Sina' e 'Lino', ambos de 46 anos, aceitaram logo. © Créditos: Anouk Antony/Luxemburger Wort

O casal de portugueses Flausina e Adelino Cunha constituem um caso raro nestas eleições comunais: são ambos candidatos à comuna de Pétange e, no boletim de voto, à frente dos seus respetivos nomes vão aparecer os diminutivos como são conhecidos pelos residentes, 'Sina' e 'Lino'.

“Flausina? Quem é a Flausina, não conheço? Ah! A ‘Sina’, sei quem é, perfeitamente”. É assim há muitos anos, desde que Flausina Cunha chegou ao Luxemburgo e, cansada dos luxemburgueses não conseguirem dizer o seu nome próprio, decidiu simplificá-lo. “Eu vim para cá com o meu marido há 25 anos e comecei a trabalhar num setor em que lidava com idosos. Apresentei-me como Flausina, mas ninguém conseguia dizer o meu nome. Quando queriam falar comigo, como não sabiam dizer Flausina, até chegavam a chamar-me Maria, e telefonavam a pedir para falar com a Maria. Claro que no escritório diziam ali não trabalhava nenhuma Maria”, recorda ao Contacto “Sina” a rir. Tinha de encontrar uma solução: “Foi então que decidi abreviar o meu nome para 'Sina'. Resultou”. Ao seu lado, o marido Adelino Cunha dá a mesma justificação para ter adotado “Lino”.

Assim, no dia das eleições, a 11 de junho, no boletim de voto da comuna de Pétange constará Flausina Mota Cunha “Sina”, e Adelino Rodrigues Cunha “Lino”, ambos pelo Déi Lénk. A “abreviatura, diminutivos dos nomes próprios, outras variantes ou alcunhas dos candidatos” nas listas eleitorais e boletins de voto das eleições comunais são permitidos no Luxemburgo, algo que já sucedeu nas anteriores comunais de 2017.

Para tal é necessário que estes diminutivos “tenham uma ligação ao nome próprio e oficial do candidato, e que o eleitor não possa ser induzido em erro quanto à identidade” do mesmo, realçou a ministra do Interior Taina Bofferding numa resposta parlamentar em abril a uma questão do deputado André Bauler, do DP, sobre este tema. “Sina” e “Lino” não são caso único nestas eleições, havendo outros candidatos, embora raros, cujos diminutivos ou nomes com que são conhecidos na comuna vão constar no boletim de voto. Afinal, o poder comunal é o de maior proximidade com as populações.

Se no boletim de voto constasse apenas o meu nome verdadeiro, Flausina, ninguém me iria conhecer, mas estando lá “Sina” já todos sabem quem sou.

“Se no boletim de voto constasse apenas o meu nome verdadeiro, Flausina, ninguém me iria conhecer, mas estando lá “Sina” já todos sabem quem sou. E isto é muito importante. Aqui ninguém conhece a Flausina”, vinca a candidata. Para o marido “é muito vantajoso que os candidatos às comunais possam ter nomes pelos quais são conhecidos nos boletins de voto. Faz todo o sentido. Em Portugal deveria ser também possível”.

O convite para ambos se candidatarem partiu do Déi Lénk e “Sina” e “Lino”, ambos de 46 anos, aceitaram logo, por já conhecerem os representantes e se identificarem “muito com o programa do partido para a comuna”.

“Dar voz aos portugueses”

“É com orgulho que aceitámos este desafio que vamos levar muito a sério. Queremos melhorar a vida dos residentes de Pétange, sobretudo ajudar os estrangeiros recém-chegados que não sabem onde se dirigir para tratar de direitos fundamentais, como os abonos de família dos filhos, ou mesmo de outras situações para o seu dia a dia. Para eles, tudo é novo e desconhecido e precisam de ajuda”, frisa Adelino Cunha, realçando que o Luxemburgo é um “país multicultural que tem de receber bem e integrar os imigrantes”.

“Para nós chegou a altura de contribuirmos ativamente para este país que nos recebeu muito bem. No poder comunal podemos dar voz aos habitantes, entre eles a comunidade portuguesa, pois residem aqui muitos portugueses, e para mim é também um orgulho como mulher e portuguesa candidatar-me a estas eleições”, vinca “Sina”.

“Sina” e “Lino” são os únicos candidatos de nacionalidade portuguesa do Déi Lénk para a comuna de Pétange, embora haja outros nascidos em Portugal e lusodescendentes que concorrem, mas como luxemburgueses.

“Estou feliz por haver mais candidatos de origem portuguesa e também por, este ano, ter havido mais inscrições de portugueses para votar, o que significa que se estão a interessar mais pela política deste país e interessados em fazerem-se ouvir”, refere “Sina” que é natural de Braga, tal como o marido. Já Adelino Cunha gostaria que a comunidade portuguesa fosse ainda mais participativa politicamente, justificando que “se os portugueses não votarem não podem exigir o que desejam, a sua voz não pode ser ouvida, porque não têm esse direito. Por isso, têm de votar”.

“Fazer tudo pela comunidade”

O apoio aos portugueses e lusófonos faz parte da vida deste casal. Lino que é coordenador do serviço de aquecimento na construção esteve sempre ligado ao futebol, algo que trouxe já de Portugal onde era jogador. No Luxemburgo, também foi jogador e agora é treinador, esta época no US Esch, na 1.ª divisão. “Já treinei os juniores e vejo como os pais recém-chegados dos miúdos portugueses, cabo-verdianos ou angolanos lusófonos têm dificuldades em tratar de documentos, de se registarem no país, ou até de coisas mais simples, como obras em casa, e ninguém os ajuda. Mesmo no dia a dia dizem-lhes ‘vai ter com o ‘Lino’”.

Sina sempre teve a mesma preocupação de integração. Empregada numa padaria, onde vende também o “delicioso” pão português, esta candidata esteve durante anos no clube de ginástica “La Courageuse Pétange”, onde tinha por função ajudar na comunicação entre os pais lusófonos, que não sabiam falar francês, com o secretariado do clube ou outros serviços. Por vezes, até das próprias crianças, “algumas também ainda não dominavam ainda o idioma”, com os professores. “A minha preocupação era que pais e filhos se sentissem integrados no clube. Mesmo com outras pessoas no quotidiano ajudei sempre”, diz “Sina”.

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“Estamos cá para fazer tudo pela comunidade, chegou o nosso momento de agirmos em nome de Pétange, em prol de todos residentes”, avança o casal de portugueses. Adelino Cunha não quer apenas tornar Pétange melhor a curto prazo. O português pensa também nas próximas gerações: “Um dos meus objetivos é poder dar um futuro melhor aos meus filhos e às novas gerações na nossa comunidade”.

Em casa, os três filhos, de 24, 23 e 15 anos, estão orgulhosos dos pais, “sendo a mais nova quem mais extravasa o entusiasmo, mas acho que é por ir ver as nossas fotografias nas ruas”, acreditam os pais a rir. Uma coisa é certa. Os dois filhos mais velhos irão votar, como já o fazem desde que lhes é permitido.

“Agora vamos começar a fazer campanha juntos. Estamos muito entusiasmados. Há muito a melhorar em Pétange e todos podem contar connosco” promete o casal, que está otimista quanto à possibilidade de um deles ser eleito pelo partido que representam. No total há 146 candidatos de oito partidos a concorrer para os 19 mandatos comunais de Pétange. Além de que Flausina e Adelino nunca poderiam ter os dois um mandato comunal, em simultâneo, por estarem casados um com o outro, tal é proibido por lei.