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Passos Coelho em Esch

"Senhor primeiro-ministro, porque é que há tantos pobres em Portugal"?

Pedro Passos Coelho esteve esta manhã na escola do Brill, em Esch-sur-Alzette. No segundo dia da visita que realizou ao Luxemburgo, o primeiro-ministro de Portugal foi conversar com os alunos portugueses, e teve de responder às perguntas das crianças.

"Senhor primeiro-ministro, porque é que há tantos pobres em Portugal"?

"Porque durante muitos anos as pessoas que queriam melhorar as suas condições de vida só podiam fazê-lo nas grandes cidades, e só nos últimos 30 a 40 anos é que conseguimos que houvesse escola em todo o país para os meninos poderem estudar".

O diálogo ocorreu esta manhã entre uma aluna do curso integrado de português da escola do Brill e o primeiro-ministro de Portugal. Pedro Passos Coelho teve ainda de explicar o que faz um primeiro-ministro, dizer a sua idade e ouvir cantar em português.

"Eu também gosto muito de cantar", disse Passos Coelho aos alunos portugueses.

A escola fundamental do Brill é a maior escola primária do Luxemburgo. Tem 800 alunos e é maioritariamente frequentada por portugueses. Segundo os dados disponibilizados pela direcção da escola, de entre todos os alunos, 94% são estrangeiros e desses, 80% são portugueses. Depois há ainda alguns jugoslavos, cabo-verdianos, italianos e alguns chineses.

Sílvia Baião Henriques nasceu na Amadora, mas veio para o Luxemburgo com um ano de idade. Hoje é professora na escola do Brill. Dos 14 alunos que fazem parte da sua classe, só um não é português.

"É o meu primeiro ano de ensino. Estou muito contente porque posso ajudar estas crianças. As dificuldades que elas têm para aprender o alemão, eu também as tive, e por isso sempre que surge alguma dificuldade maior eu faço imediatamente a tradução para português. Eu fiz o meu percurso escolar todo no Luxemburgo e sei as dificuldades pelas quais todos passamos", diz Sílvia Henriques ao primeiro-ministro de Portugal.

Na escola do Brill há mais sete professores portugueses ou luso-descendentes. A reunião de início do ano na classe de Sílvia Henriques foi feita em português.

"Os pais dos meus alunos são todos portugueses, há excepção de uma menina de origem austríaca que tenho aqui. Ora a reunião com os pais portugueses foi feita em português. Assim todos perceberam", explica a professora portuguesa.

Pedro Passos Coelho visitou ainda a ala da pré-primária da escola do Brill. Numa das classes, em treze alunos, dez são portugueses. Uma dor de cabeça para a professora Bárbara Bruno.

"Não é fácil porque eles estão sempre a falar em português uns com os outros, mas nós fazemos um esforço para que eles aprendam o luxemburguês", desabafa a professora ao CONTACTO.

No Luxemburgo é durante a passagem pela pré-primária que se faz a aprendizagem do luxemburguês. Depois, já na escola primária, o ensino é feito em alemão e a língua francesa é introduzida gradualmente no segundo ano.

À saída da escola, Pedro Passos Coelho tinha uma pequena comitiva de mulheres portuguesas que o queriam cumprimentar.

"Quero ver o Passos Coelho. É uma pessoa a quem devemos muito respeito. Bom ou mau, ele é o nosso primeiro-ministro, e a verdade é que quando ele lá chegou o buraco já estava feito", diz uma das populares que estava à espera do primeiro-ministro.

"Quero pedir-lhe que não corte nas pensões em Portugal. As pessoas passam uma vinda inteira a trabalhar e agora não têm sequer dinheiro para os medicamentos. Eu tenho que ajudar a minha mãe. Envio-lhe todos os meses cem euros, senão não sei como é que ela vivia", diz outra popular ao CONTACTO.

Queixas que se repetem perante Passos Coelho. O primeiro-ministro de Portugal escuta as lamentações das imigrantes portuguesas e explica que situação "já está melhor".

Passos despede-se e entra no carro. De Esch-sur-Alzette, o primeiro-ministro de Portugal vai para Bruxelas, onde participa hoje e amanhã no Conselho Europeu.

Domingos Martins