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Julgamento

Retirada da custódia à mãe chegou demasiado tarde para Bianka

Nove dias após o nascimento, Bianka foi vista pela última vez. Uma assistente social viu razões para agir mais cedo. Mas a decisão do tribunal de menores chegou tarde demais.

Agentes da polícia e mergulhadores de resgate revistaram o lago em Linger em busca da bebé durante cinco semanas no verão de 2015.

Agentes da polícia e mergulhadores de resgate revistaram o lago em Linger em busca da bebé durante cinco semanas no verão de 2015. © Créditos: Gerry Huberty

Uma e outra vez, o detetive começa a sondar a mulher incansavelmente. Mas as perguntas não trazem a verdade à luz do dia. Sarah B. é como um muro impenetrável. Uma jovem mulher de cabelo comprido e escuro olha para a câmara, piscando várias vezes os olhos.

Esta terça-feira, uma gravação do interrogatório, realizada no verão de 2015 à margem de uma operação de busca em grande escala no terreno de um lago em Linger, foi apresentada em tribunal. Até hoje, não é claro o que aconteceu exatamente a Bianka, na altura com nove dias de vida. Apesar de todos os esforços, os investigadores não conseguiram encontrar nenhum corpo.

Os investigadores do caso assumem o pior. Desde a semana passada, Sarah B. está a responder em tribunal pelo assassinato da filha. Embora a mulher de 39 anos enfrente uma sentença de prisão perpétua, manteve-se até agora afastada do julgamento.

"Estão a roubar as crianças às boas mães"

Durante o interrogatório gravado, Sarah B. não diz uma palavra sobre o verdadeiro paradeiro de Bianka. Em vez disso, afirma que um amigo está a tomar conta da bebé. Segundo a mãe, Bianka ficaria melhor lá do que num centro para crianças. E acusa as autoridades de lhe tentar tirar a filha sem qualquer razão. "Estão a roubar as crianças às boas mães".

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Quando a Sarah B. fez estas acusações no início de agosto de 2015, muito provavelmente Bianka já estaria morta há várias semanas. A 15 de junho, a bebé foi vista pela última vez por testemunhas num lago em Linger - nove dias após o nascimento. Mas as autoridades só souberam do desaparecimento da bebé duas semanas mais tarde.

Quando os investigadores foram buscar a menina a 3 de julho de 2015 não havia vestígios da bebé. Um juiz do tribunal de menores tinha ordenado a retirada da criança à mãe a 26 de junho. Algo que uma funcionária do Centro de Assistência Social (SCAS) da Procuradoria-Geral da República já tinha defendido no tribunal juvenil três dias após o nascimento da menina, reiterou a mesma no tribunal esta terça-feira.

Anormalidades durante o controlo

A decisão foi precedida de observações feitas por uma enfermeira durante um 'check-up' três dias após o nascimento. Bianka tinha causado boa impressão - mesmo sendo um bebé pequeno com 2,3 quilos, disse a mulher, que também testemunhou perante os juízes. Durante um controlo anterior, um pediatra não tinha encontrado nenhum problema grave com a criança.

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No entanto, o comportamento da mãe era suspeito. Como notado pelo pessoal médico, Sarah B. tinha chegado de autocarro sem a cadeira habitual de criança. A bebé não estava vestida com roupa suficientemente quente e continuava a usar a roupa do hospital. A mãe tinha reagido defensivamente aos conselhos das enfermeiras, de forma agressiva. "Não era como aquilo a que estamos habituados com os pais", disse a enfermeira em tribunal. Chamou então uma assistente social do hospital.

No banco de testemunhas, a assistente social reiterou novamente que tinha consultado o SCAS na altura. Quando a pequena Bianka nasceu no sábado à noite, os alarmes já tinham soado no Centro Hospitalar Emile Mayrisch, em Esch, devido à situação social da mãe. Afinal, Sarah B. já não vivia com os outros cinco filhos, era divorciada e vivia com um homem que não era o pai de Bianka.

No entanto, tinha tido alta no domingo, dia em que os serviços sociais do hospital não são por norma assegurados.

Juiz do tribunal juvenil acatou recomendações demasiado tarde

Mesmo antes de Bianka nascer, o SCAS já estava a lidar com a situação da mãe. A assistente na altura não se conseguiu lembrar de todos os detalhes no banco das testemunhas. Contudo, após uma reunião com Sarah B. em abril de 2015, tinha defendido no tribunal de menores que a bebé fosse colocada nos cuidados intensivos após o nascimento.

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Foi sugerido ainda que Bianka e a mãe fossem acompanhadas por um coordenador de projeto de intervenção (CPI), responsável pelos programas de apoio social. Outra recomendação foi a colocação da bebé numa creche a tempo parcial, para que fosse sujeita a observação adicional.

No entanto, tal nunca chegou a acontecer da parte do tribunal juvenil. Em vez disso, foi pedido apenas que o supervisor registasse a evolução da situação num outro relatório por um período de tempo posterior.

Quando foi então contactado pela assistente social do CHEM a 9 de junho, o cordenador já tinha enviado as recomendações ao tribunal de menores. A medida foi ordenada por um juiz a 26 de junho de 2015. Mas chegou demasiado tarde para Bianka.

O julgamento continua esta quarta-feira.

(Este artigo foi originalmente publicado no Luxemburger Wort e adaptado para o Contacto por Tiago Rodrigues)