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Rendas mais baixas? Pode partilhar casa com uma família que não conhece

Seria capaz de viver numa casa com estranhos partilhando a cozinha e a sala? A associação Life promove esta coabitação de famílias com rendas mais acessíveis no Luxemburgo.

© Créditos: Megane Kambala

Uma moradia com cerca de 300 metros quadrados composta por rés do chão, dois andares e um jardim, que custou 1,3 milhões de euros, em Boevange, acaba de ser adquirida pela associação Life Asbl para ser partilhada por três famílias. A vantagem de coabitar com desconhecidos? As rendas são muito mais baratas.

A casa ainda vai estar em obras seis meses e, quando terminarem, três famílias poderão dividir o espaço, uma por andar e outra no rés do chão. Em comum para todas existe uma sala de estar e uma cozinha para duas das famílias.

"O primeiro andar tem quatro quartos e duas casas de banho, o segundo três quartos e uma casa de banho, e o rés do chão tem um pequeno apartamento com sala com kitchenette, quarto e casa de banho, onde poderá morar um casal, ou uma família unifamiliar, com um bebé. Ao todo, dá para três famílias", explica ao Contacto Nathalie Reuland, uma das administradoras da Life que desenvolve este programa WG de coabitação.

O preço total das rendas a pagar pelas famílias terá de ser de cerca de dois mil euros, o montante das prestações mensais do crédito bancário concedido à Life para a sua parte da aquisição desta casa. O Ministério da Habitação comparticipou os 75% do valor total restante com base num protocolo baseado na lei luxemburguesa de "l'aide à pierre" para comprar casa.

A casa em Boevange ainda está em construção e irá acolher três famílias que irão pagar rendas mais baratas.

A casa em Boevange ainda está em construção e irá acolher três famílias que irão pagar rendas mais baratas. © Créditos: Crédito. Life Asbl

O preço total das rendas a pagar pelas famílias terá de ser de cerca de dois mil euros, o montante das prestações mensais do crédito bancário concedido à Life para a sua parte da aquisição desta casa. O Ministério da Habitação comparticipou os 75% do valor total restante com base num protocolo baseado na lei luxemburguesa de "l'aide à pierre" para comprar casa.

Rendas mais acessíveis

A responsável pelo programa WG da Life faz as contas por alto: "Os valores ainda não estão definidos, mas cada família pagará uma renda em função da dimensão do seu espaço. O primeiro andar, o maior, poderá rondar os 900 euros, o segundo 800 euros e o rés do chão uns 300 euros. A este valor juntar-se-ão depois as despesas".

Nathalie Reuland vinca que a Life "não tem dinheiro, nem benefícios com o arrendamento, pelo que o valor das rendas tem de ser o mesmo das prestações bancárias".

Esta é a terceira moradia que a associação adquire, a segunda em convénio com o Ministério da Habitação, para promover esta forma de arrendamento que permite rendas a "preços mais baixos", uma necessidade cada vez maior no país, "face ao preço do arrendamento e à dificuldade de muitas famílias em conseguirem pagar valores altos", refere a administradora.

"Nós somos uma associação sem dinheiro, pelo que só conseguimos adquirir estas casas com base num protocolo com o Ministério da Habitação, no âmbito do Programa de Gestão de Arrendamento Social", refere.

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Atualmente, a associação gere cerca de quarenta casas, trinta das quais neste modelo de partilha, e aloja cerca de uma dezena de famílias.

"Famílias dão-se bem"

Nathalie Reuland admite que nem todas as pessoas ou famílias estão dispostas a partilhar casa com estranhos. “Este modelo não é para toda a gente. Contudo, pela nossa experiência, as famílias estão a gostar e a dar-se bem”.

Além de disponibilizar casa a quem não pode pagar os preços praticados no mercado, a coabitação também vai ao encontro de um dos três princípios da Life, o da “solidariedade”, a par com “a autonomia e responsabilidade”.

Para facilitar a vivência em comum no mesmo espaço, a associação faz uma reunião inicial com as famílias, onde lhes entrega uma “convenção de regras de boa convivência e um modelo de distribuição de tarefas”.

"Há famílias que, apesar de aceitarem partilhar casa, querem continuar na lista de espera de outros organismos de renda acessível, vendo este modelo como uma fase de transição. Outras estão a gostar e pensam continuar", diz a responsável. Na decisão pesa, sobretudo, o facto de os filhos poderem continuar a frequentar as suas escolas e clubes.

Nas comunas onde passam a ter casas para arrendar, "a associação contacta o serviço social responsável pela habitação, para saber se há famílias com o perfil para este tipo de casas", explica Nathalie Reuland, sublinhando que "é importante, sobretudo, para as crianças poderem continuar a sua vida escolar e social.

Para a casa nova em Boevange, mesmo ainda em obras, a Life já contactou o serviço social do norte.

Monoparentais são as mais interessadas

São as famílias monoparentais as mais interessadas e satisfeitas com este modelo de coabitação. Para os pais sozinhos com filhos, esta coabitação é vantajosa, primeiro, pela renda mais barata e despesas mensais divididas. Depois, é uma vantagem para os próprios pais “que podem fazer um programa social de quando em quando, porque têm com quem deixar as crianças na sua própria casa” e para os próprios filhos, que convivem com outras crianças.

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Entre os inquilinos em coabitação há portugueses. “Temos inquilinos portugueses e lusófonos para todos os modelos e um número elevado de portugueses em lista de espera”, diz a administradora da Life.

Quartos com rendas a 250 euros

Também os quartos em casas têm rendas mais acessíveis do que no mercado normal. Cada inquilino paga um quarto, partilhando a cozinha, a sala de estar e a casa de banho. Há casas que têm mais do que uma casa de banho, explica Nathalie Reuland.

Nestes casos, dependendo das dimensões dos quartos, as rendas podem oscilar entre os 250 e os 400 euros, sem os encargos. "O problema é que neste momento as despesas mensais chegam a ser mais caras do que a própria renda. Por isso, o nosso objetivo é arrendar os quartos com tudo incluído a um preço entre os 300 e os 600 euros", explica.

A Life Asbl é uma das associações que faz parte do Programa Gestão de Arrendamento Social, o elo entre os proprietários das casas vazias e o Ministério da Habitação.

Os proprietários que aceitam arrendar a sua casa por valores abaixo do mercado contactam a Life e a associação encontra os inquilinos, fazendo a gestão dos imóveis. Já o proprietário tem como benefício fiscal o pagamento de apenas 50% do imposto de habitação, que em breve diminuirá para 25%, como ficou acordado na última reunião tripartida.

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Atualmente, a associação tem uma lista de espera de 500 pedidos por uma habitação ou quarto, mas nem todos desejam partilhar casa.

Todas as informações podem ser obtidas no site da Life Asbl.