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Os portugueses mais conhecidos de Esch. Casal Lopes, o legado português

Em Esch-sur-Alzette, toda a gente sabe quem são. Os portugueses que ao longo dos anos se tornaram autênticos monumentos da cidade. O Miro do talho, o Jorge das bicicletas e o Tun dos cabelos. As irmãs Soares da costura e o casal Lopes do restaurante. Como se diz na gíria popular, são mais conhecidos que o tremoço. Sem eles, o comércio no centro de Esch não seria o mesmo.

Aires e Irondina Lopes, proprietários do restaurante português Welcome, na Rue du Canal.

Aires e Irondina Lopes, proprietários do restaurante português Welcome, na Rue du Canal. © Créditos: Claude Piscitelli

Jornalista

Se há uma casa verdadeiramente portuguesa em Esch, essa casa é o restaurante Welcome, na Rue du Canal. É lá que se come o bacalhau, a carne de porco à alentejana, a cataplana, o arroz de marisco, a picanha e os grelhados. E o leitão, que é a especialidade da casa. Os donos, o senhor e a senhora Lopes, são duas figuras históricas da cidade. Ele, Aires, 75 anos, gere o espaço e ajuda na cozinha. Ela, Irondina, 74, está ao balcão e gere o serviço de mesa. Estão os dois reformados há 15 anos, mas continuam a "trabalhar gratuitamente", por gosto.

O casal é de Ferreira do Zêzere. Chegaram ao Luxemburgo em 1975, ele com 28 e ela com 27 anos. Já tinham uma filha de sete anos. "Eu fiz a tropa no Ultramar e quando regressei a Portugal depois do 25 de Abril havia dificuldades para todos, então decidimos vir para o Luxemburgo. Tinha uma irmã em Esch e viemos com a ajuda dela. E daqui não saímos", contou Aires.

Já lá vão 47 anos. O homem trabalhou como maquinista durante 20 anos, até comprar o restaurante, por "brincadeira". O espaço começou como um café e sala de petiscos e foi crescendo. Começou a atrair não só portugueses como também muitos transfronteiriços, franceses e luxemburgueses.

© Créditos: Claude Piscitelli

As coisas estão difíceis agora, por causa da inflação. Foi uma coisa tão rápida que ainda nem tivemos tempo de mudar a carta. Não é uma vida fácil atualmente.
Aires Lopes

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Apesar de estarem reformados, o dia a dia do casal é "trabalhar 365 dias por ano", para combater a crise. "As coisas estão difíceis agora, por causa da inflação. Cheguei a comprar salmão a 12 ou 13 euros o quilo e agora custa mais sete ou oito euros! Esta inflação foi uma coisa tão rápida que ainda nem tivemos tempo de mudar a carta. Nunca vi uma tão grande subida de preços. A picanha estou a pagar seis ou sete euros a mais por quilo do que pagava antes. Não é uma vida fácil atualmente", desabafou Aires. Ao todo, trabalham 13 pessoas no restaurante. A filha mais nova do casal também ajuda na contabilidade.

Todo o edifício do restaurante pertence à família Lopes. No primeiro andar mora o casal e no segundo vive a filha mais velha. Ali toda a gente os conhece e os cumprimenta. Além do restaurante, Aires também comprou um espaço no edifício ao lado, que quer transformar numa grande cozinha.

Ainda nos dedicamos a trabalhar depois da reforma. É por gosto e sempre com a ideia de ter mais. Preferimos continuar ativos.
Aires Lopes

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Do outro lado da rua, tem ainda um café, num prédio que também alugou, e uma mercearia, só com produtos portugueses. "Ainda me dedico a trabalhar. É por gosto e sempre com a ideia de ter mais. Prefiro continuar ativo. Estou um pouco cansado, apesar de não aparentar muito. Ainda trabalho e faço tanto como alguns jovens, mas um dia terei que parar. Não sei quando, mas não será a longo prazo, porque a idade não me permite trabalhar muito mais", admitiu o português.

© Créditos: Claude Piscitelli

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O Welcome está aberto há 27 anos e é um dos restaurantes portugueses mais antigos de Esch. Ao longo dos anos foi construindo a sua clientela habitual, entre os quais alguns dos lusodescendentes mais conhecidos do país, como Félix Braz, antigo vice-primeiro-ministro do Luxemburgo que está a recuperar depois de um ataque cardíaco que sofreu em 2019. "Vem cá desde pequeno até agora. Ainda costuma vir aqui ao Lopes com a família. Depois de sair do hospital já veio comer ao Welcome. Ele vem comer carne de porco à alentejana. Mas também comia o prato do dia e aos domingos vinha buscar uma canja para levar para casa", contou Aires.

Temos a pensão e podemos viver tranquilos. Mas não deixarei o Luxemburgo por nada. Portugal é a minha raiz, mas pertenço ao Luxemburgo.
Aires Lopes

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O casal sempre viveu em Esch e nunca quis sair daquela cidade. "Não sei o que se passa nas outras comunas. Sei as dificuldades que tenho com esta, mas não sei as que teria com as outras. Quando aqui cheguei ainda havia as usinas que trabalhavam a cem por cento, havia movimento, havia tudo. Mas as coisas evoluíram. Agora o objetivo é continuar cá enquanto houver forças”, disse ele.

A Portugal costumam ir nas férias, mas querem ser mais flexíveis para ir mais vezes. "Estar aqui e estar lá. Ir e voltar. Temos a pensão e podemos viver tranquilos. Mas não deixarei o Luxemburgo por nada. Temos aqui a casa, a família, não vou deixar isto. Portugal é a minha raiz, mas pertenço ao Luxemburgo".