Os portugueses de Dudelange. Dona Lídia, do café Benfica
São os portugueses mais conhecidos da comuna. Brilharam nas suas áreas e deixaram um legado na cidade. A Inês do café, o Vítor da rádio, o Paulo do rancho, a Lídia do Benfica e o João do Sporting.
Lídia foi gerente do Café Benfica durante quase 40 anos. © Créditos: António Pires
Não seria preciso dizer que Lídia da Silva Costa é benfiquista para explicar por que é se tornou a patroa do Café Benfica, na Rue de la Libération. Na verdade, foi apenas um acaso, porque o espaço nunca esteve ligado ao clube português, mas sim ao Benfica de Dudelange. O marido até é do Sporting. Mas nunca houve problemas, garante a mulher de 66 anos, com um sorriso.
Está reformada e passou o negócio para outra pessoa, embora continue a ser proprietária e a frequentar o espaço. “Venho às festas e aos bailes ao sábado. Tenho sempre pessoas para cumprimentar, ainda me conhecem. Ficam contentes de me ver”.
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Lídia chegou ao Luxemburgo em setembro de 1977, depois de ter casado, aos 21 anos. Veio de Mortágua, distrito de Viseu. Os pais não queriam que emigrasse, mas ela tinha “aquele bichinho” e queria sair da terra para conhecer novo horizontes. Começou por trabalhar num hotel na capital, porque tinha tirado o curso de hotelaria em Portugal.
Ao fim de três anos, surgiu a oportunidade de trabalhar no Café Benfica de Dudelange. Em 1983, passaram-lhe o negócio e venderam-lhe o espaço. Passou a gerir o café com o marido até o ano passado, durante quase 40 anos. Tiveram uma filha e um filho, que têm hoje 43 e 38 anos, e quatro netos. Entretanto reformaram-se e passaram o negócio a um empregado que trabalhava com eles há sete anos, mas o espaço ainda é deles.
O café era muitas vezes frequentado por pessoas do clube Benfica de Dudelange, uma vez que era ali a sede. “Uma vez houve uma grande final, em que o Benfica foi campeão. Fazíamos sempre festas. Mas depois acabaram os clubes portugueses, a federação fechou e, a partir daí, as pessoas desistiram”, lamenta, com alguma nostalgia.
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Um dos rivais da época era o Sporting Etoile du Sud, que também tinha sede na cidade, então a Comuna deu um campo para os dois clubes. “Numa semana jogavam uns e noutra jogavam outros. Mas não foi nada de especial. Nada de guerras”.
Além disso, o trabalho foi sempre “muito divertido”, porque recebiam os ranchos, faziam noites de baila e muitas festas portuguesas. “Gostei muito de estar aqui. Vinham artistas de Portugal e também tivemos muitas noites de fado. As pessoas gostavam de vir ao café”.
Era como uma família. Ainda hoje as pessoas me dizem que adoraram estar estes anos todos comigo.
A dada altura, começaram a fazer também a parte da restauração, em que assavam o leitão nos fornos a lenha, que ainda hoje fazem. “Fomos os primeiros a assar leitão no Luxemburgo. Fazíamos pratos tradicionais portugueses. Temos uma grande sala e ainda se mantém essa tradição”, garante a proprietária.
Lídia com o atual gerente do Café Benfica. © Créditos: António Pires
Para Lídia, a melhor parte de gerir o café foi ter tido a possibilidade de organizar muitas festas, desde casamentos, batizados e aniversários. Aos fins de semana, havia sempre conjuntos. Era isso que a fazia apaixonada pelo trabalho. “Sempre gostei muito do comércio e era uma pessoa muito divertida com os clientes, que eram como uma família. Ainda hoje as pessoas me dizem que adoraram estar estes anos todos comigo aqui. Tínhamos muitos portugueses, mas também luxemburgueses, italianos, espanhóis e franceses”, recorda.
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A pior parte, confessa, foram as muitas horas de trabalho. Lídia gostava de estar sempre presente, então era ela quem abria e fechava o café. Mas hoje tem saudades desses tempos. Mesmo depois da reforma, ainda esteve a gerir o espaço mais cinco anos. “Também habitava aqui em cima, então não tinha de fazer horas de estrada para ir para o trabalho. Isso ajudou-me a aguentar muitos anos. Os meus filhos ajudaram-me muito, mas depois estudaram e não seguiram esta vida”. O filho é engenheiro e a filha tem curso de línguas e economia e trabalha para o Estado.
Agora que já não têm as preocupações do negócio, Lídia e o marido vão com mais frequência a Portugal, para a casa em Mortágua ou para o apartamento que compraram no Algarve. Ainda estão indecisos sobre se vão voltar de vez, porque querem estar cá com os filhos e os netos.
É em Dudelange que se sentem em casa. “Esta é a minha terra. Estou há 46 anos aqui. As pessoas conhecem-me, mesmo os luxemburgueses. É uma comuna muito familiar e tranquila. É bom viver em Dudelange. Imagino-me a ficar aqui o resto da vida. Quero visitar outros países e estar dois ou três meses em Portugal, mas aqui vai ser sempre o meu cantinho”.