O próximo Governo do Luxemburgo poderá ser liderado por uma mulher
Duas ministras deverão disputar a corrida às legislativas e uma delas pode fazer história.
© Créditos: Marc Wilwert/Luxemburger Wort
No final de fevereiro, o Déi Greng (Os Verdes) votou a alteração dos estatutos para poder apresentar um candidato nacional às legislativas.
No próximo dia 28 de março, será nomeado o cabeça de lista nacional e tudo aponta para que a escolha recaia na atual ministra da Justiça e da Cultura, Sam Tanson, que François Bausch defendeu, numa entrevista em janeiro à RTL, como a melhor candidata para Os Verdes.
A concretizar-se essa opção, será mais uma ministra e mais uma mulher a liderar um partido na corrida às legislativas, depois de Paulette Lenert à frente do LSAP.
E se as sondagens favorecem a ministra da Saúde para vir a disputar o cargo de primeira-ministra, a escolha de Tanson no Déi Greng daria um novo sinal de progresso na participação política feminina no Grão-Ducado.
Sam Tanson poderá ser a escolha do Déi Greng para as legislativas de outubro. © Créditos: Gerry Huberty
"A política no Luxemburgo tem sido tradicionalmente muito dominada pelos homens, a proporção de mulheres políticas tende a ser inferior à de outros países da Europa ocidental. Assim, é positivo haver uma série de mulheres políticas proeminentes, que emergiram nos últimos cinco anos e que estão agora em posições de liderança nos seus partidos", afirma ao Contacto Anna-Lena Högenauer, professora do Instituto de Ciência Política da Universidade do Luxemburgo.
Segundo dados do Observatório da Igualdade, em 2022, os homens representavam 62% dos cargos de presidente e 70% dos de secretário-geral, nos partidos luxemburgueses, enquanto a percentagem feminina era de 38% e 30%, respetivamente.
Por isso, refere Anna-Lena Högenauer, o importante não é só encontrar uma mulher para encabeçar a lista, mas uma que seja conhecida e respeitada pelos eleitores. "Para muitos partidos isto é um desafio porque a maioria das posições de liderança política são detidas por homens, o que significa que os políticos mais conhecidos tendem também a ser homens".
Sam Tanson, tal como Paulette Lenert, é uma das poucas mulheres que "conseguiu alcançar uma posição de liderança e poderá, assim, esperar competir com sucesso numa campanha eleitoral", considera a professora de ciência política.
Ler mais:Uma marcha e diversos encontros para celebrar o Dia da Mulher
A primeira mulher primeira-ministra do Luxemburgo?
As listas dos partidos e respetivos candidatos para as legislativas de 8 de outubro deverão ser divulgadas até ao verão – pelo meio há eleições comunais – e é esperado que os três partidos da coligação governamental – LSAP, DP e Déi Greng – apostem nos seus ministros mais bem posicionados nas sondagens para encabeçar as candidaturas.
Num inquérito de opinião pública divulgado em dezembro de 2022 a atual coligação alcançava de novo a maioria, mas com alterações no equilíbrio de poder a favor dos socialistas. Paulette Lenert tem sido a figura política mais popular nas sondagens, ultrapassando o primeiro-ministro, Xavier Bettel, que já se manifestou disponível para ser o candidato dos liberais.
Mas será a popularidade da ministra da Saúde suficiente para lhe dar a chefia do próximo Governo, tornando-a na primeira mulher no cargo, no Grão-Ducado? A disputa será intensa, mas esse desfecho é possível.
"Como ministra da Saúde, Paulette Lenert teve de conduzir o Luxemburgo através de uma pandemia que exigiu mudanças sem precedentes no nosso sistema de saúde e no nosso modo de vida. Além disso, ela tinha sido nomeada pouco tempo antes e não tinha experiência anterior com as políticas de saúde – teve de assumir grandes responsabilidades numa altura de crise com muito pouca preparação", contextualiza a professora.
Ler mais:Legislativas luxemburguesas marcadas para 8 de outubro de 2023
E lembra que, apesar disso, a ministra acabou por se adaptar "muito rapidamente" às exigências e "conseguiu evitar um colapso na Saúde como vimos noutros países". Anna-Lena Högenauer elenca a sua capacidade de decisão, confiança e competência aliadas à elevada exposição mediática, como características que lhe têm granjeado popularidade junto dos cidadãos.
"Ela é certamente um dos candidatos mais fortes do LSAP. Claro que, como primeiro-ministro, Xavier Bettel também beneficiou das conferências de imprensa e do sucesso da gestão da crise, e como chefe de Governo tem ainda mais oportunidades de se manter em destaque." A politóloga antevê uma corrida "bastante renhida" entre os dois partidos e os seus líderes, e sublinha: "Paulette Lenert tem realmente hipóteses".
Ler mais:Paulette Lenert traz esperança ao futuro do LSAP
Mais candidatas e mais políticas femininas
Ter uma mulher primeira-ministra, no Luxemburgo, seria um marco simbólico, contudo o caminho para uma maior equidade de género teria de passar por mais representação no executivo e no Parlamento.
"O fator decisivo é, acima de tudo, a composição do Governo. Há muito tempo que apelamos a uma representação igual no Governo", refere Isabelle Schmoetten, do CID Fraen & Gender, sem comentar diretamente as candidaturas.
Anna-Lena Högenauer lembra que o Luxemburgo tende a ter menos ministros do sexo feminino, que ocupam tradicionalmente posições menos importantes. "É ainda raro, por exemplo, que uma mulher tenha a pasta das Finanças, como acontece com Yuriko Backes", aponta. Segundo a politóloga, a proporção de deputadas também é baixa face a outros países e, apesar dos esforços feitos, há um desequilíbrio que vai dos ministérios e do parlamento aos cargos de liderança locais.
Ler mais:Liz, filha de Felix Braz, entra na política
Para Anik Raskin, diretora do Conseil National des Femmes du Luxembourg, que vê o facto dos partidos começarem a pôr mulheres no topo das candidaturas como um passo no rumo certo, "a participação igual de mulheres e homens na tomada de decisões políticas é essencial, mas não suficiente. É importante que os programas e a política reflitam uma abordagem feminista".
Também para o CID, mais do que o género, é a atitude do primeiro-ministro que vai definir um cenário de maior ou menor igualdade. Isabelle Schmoetten diz que "exemplos como Angela Merkel, na Alemanha – na forma suave – ou Giorgia Meloni, em Itália – na forma dura- mostram que ser mulher não é um programa e que uma primeira-ministra não faz automaticamente políticas orientadas para a igualdade".