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O Contacto em Wiltz no regresso da procissão

Após três anos de pandemia, a procissão ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Wiltz, está de regresso. Acompanhe aqui este dia emblemático.

© Créditos: Lex Kleren

Jornalista

16h30 - De Fátima para Wiltz

Pelas 16 horas, ainda a missa decorria no altar de Nossa Senhora de Fátima, no topo da colina sobre Wiltz, onde se erguiam as bandeiras de Portugal, do Luxemburgo e da União Europeia.

Alguns dos fiéis iam regressando para o centro da cidade, descendo a encosta, depois de terem acompanhado a procissão até ali acima.

Outros ficavam a assistir à cerimónia, uns em pé, alguns sentados na relva. “Devia haver aqui uns bancos para as pessoas se sentarem e ficarem mais confortáveis”, reclama Gracinda Rodrigues, de 59 anos, acompanhada pelo filho Bruno, de 40. “Tenho um problema grave nas pernas. Queria sentar-me, mas não há bancos. Devia haver, especialmente para os mais necessitados”, sugere.

Gracinda e o filho chegaram a Wiltz esta manhã. Partiram de Esch-sur-Alzette às 7h30 e fizeram uma hora e pouco de carro. Conseguiram estacionar perto da cidade e depois fizeram o resto do caminho a pé. “Passámos bem a manhã. Esperámos pela procissão e agora estamos aqui até ao fim da missa”, conta.

Gracinda Rodrigues e o filho Bruno.

Gracinda Rodrigues e o filho Bruno. © Créditos: Contacto

Mãe e filho vêm a Wiltz sempre que possível, até porque, explica Bruno, são naturais de Fátima e portanto “faz mesmo sentido”. Estão no Luxemburgo há 20 anos, mas vão a Fátima todos os anos, no verão, para passar lá o 15 de agosto. Já no 13 de maio não costumam ir, “porque o trabalho não o permite”.

Tanto Bruno como a mãe consideram que a procissão deste ano teve “muito mais gente do que o normal”, talvez devido à interrupção de três anos por causa da pandemia. “Está muito bonito, muito bem organizado”, comenta Gracinda. 

Quando a missa terminar, vão voltar para o carro e regressar a Esch. Para o ano há mais. “Vimos pela nossa fé. Se Deus quiser, para o ano cá estaremos outra vez”.

A celebração está quase a chegar ao fim. As pessoas vão começando a descer a colina. Depois da missa, a procissão segue de volta para a igreja de Niederwiltz, onde irá decorrer a cerimónia “do adeus”, para encerrar o evento.

Ao contrário de Gracinda e Bruno, Eufêmia Lopes, 62 anos, considera que este ano houve menos gente do que nos anos anteriores. A portuguesa veio de Pétange com um grupo de amigos. Chegaram a Wiltz por volta das 11h30, depois de uma hora e pouco de viagem de carro.

“Passámos bem o dia. Acompanhámos a procissão e agora ficamos até ao fim de cerimónia. Depois vamos diretos para casa”, afirma Eufêmia.

Em Fátima ou em Wiltz, a fé é a mesma

Ainda vão ter de andar mais um pouco para seguir a procissão de volta à igreja, mas a crente não se importa. “Também nos faz bem caminhar”, admite. A ideia é voltar a Wiltz no próximo ano, mas Eufêmia não sabe se ainda estará no Luxemburgo, porque pensa voltar para Portugal. “Mas se ainda cá estiver, voltarei com todo o gosto”, promete.

Depois de quase 40 anos no Grão-Ducado a portuguesa quer passar mais tempo no seu país de origem. Quando já não tiver Wiltz, irá a Fátima. “Vou lá sempre que puder, para ver a Nossa Senhora, porque tenho muita fé nela”. 

Eufêmia Lopes e o marido.

Eufêmia Lopes e o marido. © Créditos: Contacto

Seja em Fátima ou em Wiltz, a fé é a mesma. O dia já vai longo. A cerimónia está a chegar ao fim. Mas a festa continua. Enquanto uns regressam a casa, outros ficam para jantar e celebrar o resto do feriado com a família e amigos. Seja como for, levam o coração cheio. E com esperança renovada

15h30 - Depois da procissão, a missa

A procissão desde o centro de Wiltz até à Notre-Dame de Fátima começou por volta das 14h20. Durante pouco mais de meia hora, os peregrinos acompanharam o andor com a imagem de Nossa Senhora até ao topo do monte onde se encontra o altar erigido em sua honra. 

Milhares de fiéis fizeram todo o percurso a pé, para alguns o momento alto do dia, debaixo do sol e do calor.

Milhares de fiéis fizeram todo o percurso a pé, para alguns o momento alto do dia, debaixo do sol e do calor. © Créditos: Contacto

Milhares de fiéis fizeram todo o percurso a pé, para alguns o momento alto do dia, debaixo do sol e do calor, com temperatura a chegar aos 15 graus. Finda a peregrinação, reuniram-se em frente ao altar para celebrar a missa, que iniciou às 15h30. 
Depois da cerimónia, a procissão volta a dirigir-se para a igreja de Niederwiltz, onde terá lugar a cerimónia "do adeus", às 16h30, que marca o encerramento do evento. 

15h00: Música portuguesa nas ruas 

A festa continua animada em Wiltz. Pelas 15h, pouco antes do início da procissão, as ruas estão cheias de gente que se vai entretendo com os vários grupos portugueses que atuam com grande animação. Tunas e grupos folclóricos entoam cânticos tradicionais, alguns bem conhecidos da comunidade lusa, e fazem a festa neste dia quente em Wiltz.

Atuação da Tuna Universitária do Minho.

Atuação da Tuna Universitária do Minho. © Créditos: Contacto

Muitas pessoas optam por ficar no centro da cidade, onde encontram várias tendas com produtos à venda e adereços religiosos. Outras vão fazendo o seu caminho para o santuário, depois do fim da missa.

12h00: Um almoço português com mais de 50 pessoas

Quem hoje chega a Wiltz sente como se estivesse a voltar a Portugal. As ruas estão repletas de gente, ouve-se falar o português, há música popular e folclore, há cheiro a churrasco, há cervejas geladas, há festa e alegria.

Em cada esquina, uma mesa cheia de comida e bebida, com grupos de pessoas que vão almoçando e celebrando este dia especial. Perto do centro da cidade, em cima de uma pequena colina, há quem se deite na relva a apanhar sol. No topo, vê-se uma mesa enorme, com uma bandeira de Portugal bem visível a quem ali passa.

É o almoço do Grupo de Concertinas Saudades Lusitanas, de Dudelange. Pelas 12h, mais de 50 pessoas vão comendo a grelhada mista, acompanhada com arroz de feijão. “Organizamos este evento em Wiltz todos os anos, exceto durante a pandemia. Este ano não podia faltar”, afirma o presidente do grupo, Manuel Magalhães.

Manuel Magalhães, presidente do Grupo de Concertinas Saudades Lusitanas

Manuel Magalhães, presidente do Grupo de Concertinas Saudades Lusitanas © Créditos: Contacto

É o almoço do Grupo de Concertinas Saudades Lusitanas, de Dudelange. Pelas 12h, mais de 50 pessoas vão comendo a grelhada mista, acompanhada com arroz de feijão. “Organizamos este evento em Wiltz todos os anos, exceto durante a pandemia. Este ano não podia faltar”, afirma o presidente do grupo, Manuel Magalhães.

Estão ali quase todos os membros, porque “alguns quiseram fazer grelhados com as suas famílias noutros lados e outros não puderam vir”, explica. 

O grupo chegou no dia anterior, às 18h, para garantir que conseguia um bom local. “Fizemos a festa durante a noite, estamos aqui quase de direta. Dormimos no chão ou no carro, com temperaturas de quase zero graus, mas já estávamos bem quentinhos”, brinca o português de 53 anos.

O grupo é composto por pessoas de todas as partes do país. Alguns trouxeram familiares e amigos, que pagaram apenas um valor simbólico para participar no almoço. "Como Wiltz é a festa da família e é a grelhada do ano, então a gente veio mais uma vez. Vamos comer agora e à noite. Depois vamos ver qual de nós é que está melhor para pegar nos carros", afirma Manuel, animado.

Se para alguns o almoço é o momento alto do dia, para outros o auge será na procissão. "Também há aqui pessoas que têm a sua devoção. Vêm cá com a sua fé". Este é o caso de Fernando Borges, de 50 anos, que se voluntariou para carregar o andor até ao altar.

Grupo de Concertinas Saudades Lusitanas, de Dudelange.

Grupo de Concertinas Saudades Lusitanas, de Dudelange. © Créditos: Contacto

O português vem a Wiltz quase todos os anos, mas nunca tinha vindo para um evento como este, "mais familiar". "É um grupo grande, mas damo-nos todos bem", garante. É a primeira vez que vai levar o andor, um pedido que tinha feito em 2020 durante a pandemia. "O padre guardou o meu pedido e eu aceitei. Vou ter todo o gosto de subir ao santuário com o andor".

O almoço foi "espetacular", afirma, sobretudo porque as pessoas que o prepararam "foram incansáveis" e por isso estão "de parabéns". "Representa o nosso Portugal. Comer e beber, mas com moderação, para depois haver boa música", diz, com uma gargalhada.

Ler mais:Tudo o que precisa saber se vai em peregrinação a Wiltz

O grupo vai terminando o almoço. Daqui a pouco, pelas 14 horas, deverá começar a missa e depois a procissão. Wiltz está em festa. "Qualquer um de nós que está aqui tem muita fé na Nossa Senhora de Fátima. É isso que nos traz cá, além do convívio", reflete Fernando. De estômago cheio, os fiéis estão preparados para o resto do dia. Seguem-se as preces. E mais uma caminhada. Até o sol brilhar mais forte na Notre-Dame de Fátima.

10h00: A festa de Wiltz com “vinho, cerveja e carne”

Nas estradas de Esch-sur-Sûre até Wiltz já se veem carros e mais carros estacionados nas bermas, tendas e mais tendas montadas nos relvados. Como manda a tradição, há grelhadores, geladeiras e bandeiras de Portugal.

Vários grupos vão fazendo a festa a poucos quilómetros da Notre-Dame de Fátima, na manhã desta quinta-feira de Ascensão. Alguns decidiram acampar mesmo à entrada da cidade, onde se lê uma placa azul que diz “Wiltz commune d’Europe”. 

É o caso de Filipe Oliveira e Henrique Pitães, que vão aquecendo as mãos frias junto ao grelhador, que pelas 10h já está a fervilhar para aquecer a água para o café instantâneo. 

Ao todo são cinco amigos, mas os outros três ainda estão a dormir nas tendas que trouxeram para ali passarem a noite. Chegaram por volta das 19h30 de quarta-feira, depois de uma hora e meia de viagem desde o sul do Luxemburgo, com dois carros.

Filipe foi o primeiro a acordar, pelas 8 horas, porque passou frio durante a noite. “Tinha os pés gelados”, conta junto ao grelhador onde agora se aquece. É a segunda vez que vem acampar em Wiltz, mas acompanha a procissão há 15 anos. Só não o fez nos últimos três porque a celebração foi cancelada.

O português de 47 anos vem de Schifflange. É natural da Bairrada, no centro de Portugal, mas já vive no Grão-Ducado há 26 anos. O resto da família também está a caminho de Wiltz. Chegam a meio do dia, de carro. “Depois vamos à procissão da Nossa Senhora e bebemos mais uns copos”, brinca.

Grupo de portugueses acampou em Wiltz.

Grupo de portugueses acampou em Wiltz. © Créditos: Contacto

O português de 47 anos vem de Schifflange. É natural da Bairrada, no centro de Portugal, mas já vive no Grão-Ducado há 26 anos. O resto da família também está a caminho de Wiltz. Chegam a meio do dia, de carro. “Depois vamos à procissão da Nossa Senhora e bebemos mais uns copos”, brinca.

Os carros ficam ali junto à estrada quando, por volta das 14h, o grupo se dirigir a pé para o centro da cidade. Até à catedral de Fátima são cerca de 35 minutos a caminhar. Mas antes vão tomar o pequeno-almoço. Além do café, têm bolachas e bolos em cima de uma mesa. E o baralho das cartas, que não podia faltar.

Comida e bebida também não faltam. A festa é garantida. “Nós portugueses é vinho, cerveja e carne. Para o almoço temos picanha, salsichas e espetadas”, afirma Filipe, com um sorriso estampado no rosto. 

Para o amigo Henrique, é a primeira vez que vem à celebração de Wiltz. “Sempre tive interesse. Este ano surgiu a oportunidade, já que nos anos anteriores não foi possível”, recorda. O português de 41 anos, natural de Braga, veio de França, perto da fronteira com o Luxemburgo, onde vive há sete anos. 

Até agora, “foi comer, beber e jogar cartas”. Está a ser uma boa experiência porque “dá para sair um bocadinho do ritmo normal do Luxemburgo e do trabalho”, admite Henrique.

Ler mais:Polícia deixa alertas a peregrinos que vão a Wiltz

O grupo volta para casa ao fim do dia, porque alguns elementos têm de ir trabalhar na sexta-feira. Por isso, diversão, sim, mas com moderação. O dia ainda só vai no início e a festa promete. Outros grupos de peregrinos vão chegando. Já se sente o cheiro a comida. Já se sente a força da fé.

9h00: O dia da peregrinação a Wiltz. “É a fé que nos leva sempre”

O dia nasceu santo. Enquanto o sol subia, brilhante no céu destapado, já muitos peregrinos se faziam à estrada. Uns a pé, outros de carro. A manhã fria desta Quinta-feira da Ascensão, feriado religioso no Luxemburgo, depressa se aqueceu no caminho para a Notre-Dame de Fátima, em Wiltz.

Pelas bermas das estradas, mesmo de quem vem da capital ou do sul do país, já se veem vários grupos de caminhantes. Alguns fazem milhares de quilómetros apenas movidos pela força da sua fé. 

Quando se vem com fé, corre tudo bem

Perto de Esch-sur-Sûre, na estrada nacional 12, Ana Amorim e o seu grupo já levam cerca de 14 quilómetros nas pernas, depois de quase três horas a caminhar desde Ettelbruck. O grupo veio de Echternach, mas decidiu deixar o carro a meio caminho e passou a noite de quarta-feira naquela cidade, para se fazer à estrada a pé logo às 6h da manhã desta quinta-feira.

Perto das 9 horas, continuam com um sorriso na cara e nem o cansaço os demove da sua missão. "Já foram uns quilómetros, mas quando se vem com fé, corre tudo bem!", afirma a mulher de 62 anos, original de Ponte de Lima.

Ana Amorim e o seu grupo a caminho de Wiltz.

Ana Amorim e o seu grupo a caminho de Wiltz. © Créditos: Contacto

Afinal, aquele grupo de amigos e família quer recuperar a tradição, depois de três anos em que a cerimónia foi cancelada devido à pandemia. Mais de metade do percurso está feito. A partir dali, são mais 10 quilómetros até Wiltz, cerca de duas horas e vinte minutos de caminhada. 

"É a fé que nos leva sempre", reitera Ana. O dia solarengo, com temperatura a oito graus Celsius a esta hora, mas previsão de 16 durante a tarde, ajuda a manter a boa disposição. “Sentimo-nos em forma. A Nossa Senhora dá-nos a força para chegar até lá”.

Por enquanto, o caminho segue sem percalços. Ana e o grupo já “encheram a barriga”, já pararam um pouco e agora vão continuar a sua peregrinação até Wiltz. “Quando chegarmos, passamos o dia todo lá, assistimos à procissão e à missa e depois regressamos a casa”, explica Ana, indo atrás dos colegas, que com a pressa de lá chegar já se adiantam a passo rápido. Afinal, têm um longo dia - e uma inabalável fé - pela frente. 

(Em atualização)