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Educação

Nova escola internacional pública na Cidade do Luxemburgo abre em 2022

Esta será a sexta escola europeia pública lançada pelo Ministro da Educação, Claude Meisch.

© Créditos: Gerry Huberty

Chefe de redação

A oferta das escolas europeias públicas é uma das respostas para garantir o sucesso dos alunos com origens diversificadas. Já há quatro escolas internacionais e no próximo ano vai abrir mais uma em Mersch. Pensa abrir mais escolas internacionais?

Sim. Em primeiro lugar estou muito satisfeito com as escolas internacionais que abrimos há cerca de cinco anos: A Escola Internacional de Differdange, em 2016, um projeto que teve um sucesso tão grande que tivemos que criar turmas suplementares num edifício anexo em Esch-sur-Alzette, que tenhamos aberto a escola internacional em Junglinster, Clervaux e Mondorf e agora, vamos abrir mais uma em Mersch.

Temos um projecto para 2022 de abrir uma escola internacional, que será também uma escola europeia, na cidade do Luxemburgo. O que é uma necessidade absoluta, tendo em conta a população cosmopolita da capital. Não será uma escola, como o projeto de Mersch, em que teremos também as aulas do liceu tradicional luxemburguesas que serão agrupadas num edifício. A Escola Internacional da Cidade do Luxemburgo oferecerá exclusivamente aulas do sistema europeu. Estamos em discussão com o Liceu de Belval para criar um edifício suplementar, ao lado do liceu, para permitir a este liceu oferecer também aulas do sistema europeu. Uma resposta à forte procura na região do sul. Decidimos também fazer uma avaliação das turmas europeias no nosso sistema nacional, porque têm um outro programa escolar e por isso não podem participar nessas provas standardizadas. Temos que fazer essa avaliação e ver se estas escolas estão a permitir à população escolar desenvolver-se e ter sucesso escolar. Isso será uma questão que será colocada. Sabemos que a procura é muito forte, porque há muitos pais que desejam que os seus filhos sejam integrados numa escola internacional. São pais estrangeiros, mas também pais luxemburgueses que desejma ter um modelo alternativo de escolha para os seus filhos. Há muitos professores que propõem aos estudantes de reflectir se não será uma boa alternativa mudar para uma escola europeia agregada, porque vem que eles têm uma boa capacidade e não a podem desenvolver no sistema tradicional. A grande diferença é a flexibilidade na aprendizagem das línguas. As escolas europeias foram desenvolvidas, precisamente para permitir escolarizar crianças de diferentes línguas maternas numa só escola e eram, inicialmente, reservadas aos filhos dos funcionários europeus. Mas essa é uma situação que encontramos em quase a totalidade das nossas escolas. E por isso queremos desenvolver as classes europeias. Teremos este novo projeto na cidade do Luxemburgo, que abrirá no próximo ano, em 2022. Estamos também em discussão com o Liceu de Belval para lhe permitir abrir essas aulas europeias, mas para o fazer vão precisar de salas de aula suplementares e estamos a trabalhar na construção de um edifício, mesmo ao lado do seu edifício principal.

Pensa que o futuro será generalizar estas escolas internacionais a todo o sistema educativo luxemburguês?

Acredito que é difícil de dizer, mas espero que possamo ter essa reatividade e no momento que vejamos que há uma procura por essas aulas possamos implementá-las. Por isso, o bom não abrir exclusivamente de liceus e escolas que oferecem apenas aulas europeias, como Belval ou Junglinster, ou Mersch ou Clervaux, nestes casos as escolas oferecem aulas tradicionais luxemburguesas e aulas europeias. O que lhes permite responder à procura dos alunos. Quando houver mais procura por turmas europeias poderemos abrir mais. Quando houver mais procura por aulas tradicionais, poderemos abrir turmas do sistema tradicional. Pessoalmente não considero que o sistema europeu seja melhor que o outro sistema. Mas estou convencido que ele é melhor para um determinado número de estudantes.

A solução é flexibilizar a oferta?

Temos uma grande diversidade entre os alunos e eu gostaria de ver uma diversidade no interior do sistema escolar. Sou verdadeiramente defensor da possibilidade de escolha dos alunos e dos pais. Não existe apenas um único modelo que funciona bem para todos os alunos. Cada criança é diferente, tem ambições, talentos e línguas maternas diferentes. Uma situação familiar diferente e por isso temos que ter uma diferenciação da oferta educativa, justamente para permitir a cada aluno encontrar a escola que seja a melhor para si.

Um dos resultados mais inquientantes do PISA é que o Luxemburgo é o país em que o estatuto sócio-económico dos alunos mais determina os resultados escolar. Como explica este fenómeno? Terá a ver com a elevada imigração?

Há dois fenómenos: o do estatuto socio-profissional e económico da família e a imigração. Muitas vezes estes dois fenómenos reforçam-se. Porque uma parte da imigração faz-se sobretudo em camadas sociais mais frágeis, e talvez estes alunos sejam penalizados nos resultados. Esse é um dos fatores a ter em conta. Falamos seriamente quando dizemos que queremos garantir todas as oportunidades e perspectivas a todos alunos. Por isso lançamos todo este programa de turmas internacionais para evitar que certas famílias tenham que ter as suas crianças numa escola privada, onde por vezes se paga muito dinheiro para dar uma oportunidade aos seus filhos. Outros optam por enviar os seus filhos para o estrangeiro para frequentar uma escola na Bélgica ou França, porque querem ter um sistema escolar francófono. Por isso abrimos as escolas internacionais públicas e gratuitas no Luxemburgo. Um outro pilar que desenvolvemos fortemente nos últimos anos é promover o multilinguismo desde o nascimento, ao nível da educação precoce do 1° ciclo, colocando os alunos em contacto com diversas línguas, sobretudo a língua luxemburguesa, mas também a língua francesa. Garantindo o luxemburguês para alunos não luxemburgueses e a língua francesa para os alunos luxemburgueses. Porque, por vezes, têm dificuldade em integrar o sistema escolar, porque têm problemas na aprendizagem do francês. Isso é outro pilar que é assumir estrutuaras de apoio, como cresches de elevada qualidade e multilinguísticas a partir de muito cedo para permitir a todos os alunos, independentemente, da sua família e do seu estatuto socio-profissional, que tenham um ambiente durante algumas horas por semana que é idêntico. Por isso, propusemos cerca de 20 horas gratuitas por todas as crianças nas cresches. O que não é apenas assegurar um serviço que permite aos pais ir trabalhar, mas é uma forma de educação para as crianças, a partir dos seis meses. É uma forma de aprendizagem, é uma instituição de educação e por isso temos um mínimo de horas gratuitas e com elevada qualidade. Como já disse é preciso esperar pelos menos 12 anos, pelo momento em que veremos os resultados.

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Pensa que será possível de criar um sistema de apoio públicos às aulas de português nas escolas luxemburguesas?

Debatemos com o governo português, justamente, para permitir assegurar ao nível nacional, em quase todas as comunas cursos em língua portuguesa. Mas houve um problema há alguns anos, porque os cursos oferecidos pela embaixada de Portugal nem sempre era bem vistos pelas autoridades das comunas. Por isso houve uma diminuição da oferta. Mas negociamos um acordo com o Governo português, há cerca de três anos, que permitiu diversificar a oferta e as formas como estas aulas podem ser organizadas. Antes, havia exclusivamente cursos integrados e os alunos que frequentavam esses cursos, saíam das suas aulas, durante o horário escolar, para frequentar um curso em português em paralelo. Compreendo as autoridades comunais e os professores porque os alunos estavam a aprender história da Europa, do Luxemburgo e deixavam essas aulas para ir frequentar um curso em língua portuguesa. Acabámos por deixar essa possibilidade, mas criámos outra possibilidade que é a de cursos complementares que podem ter lugar fora das horas das outras aulas. Essa opção tem sido escolhida por muitas comunas e também pelos pais. Desde esse acordo, as incrições em aulas em língua portuguesa aumentaram novamente.

Houve também algumas críticas aos programas lecionados, e fizemos uma avaliação dos professores para garantir o bom nível dessa formação. Demos também a possibilidade de certificar a participação nessas aulas e penso que isso é muito importante. Porque, muitas vezes, as crianças de uma família portuguesa têm a impressão que as suas crianças têm todas as desvantagens porque falam português em casa. Mas é preciso dizer que é uma língua suplementar, uma competência suplementar que todas as outras crianças não têm, porque eles dominam uma língua suplementar que é também uma língua mundial. Por isso é importante que quando um aluno frequente as suas aulas seja possível certificar essa formação. Por vezes é necessário avaliar o seu nível em língua portuguesa e certificá-lo. É claro que não terão a mesma oportunidade para aprender o alemão, como um luxemburguês. Mas deve dar-se a oportunidade de certificar as suas competências em português. E isto também fazia parte do acordo que assinámos com o governo português. Penso que a adesão das comunas a esses cursos, porque a competência de decidir se esses cursos são leccionados é da responsabilidade das autoridades comunais, tem sido grande.

Cerca de 20% dos alunos do Luxemburgo dizem ser vítimas de intimidação na escola. O que se pode fazer para evitar estas situações?

Temos debatido muito esse tema do bem estar dos alunos nas escolas. Isso faz parte deste tema, porque um aluno que faz isso a um colega de turma não está bem na sua pele . Infelizmente é um fenómeno generalizado e é preciso reagir. Colocamos em prática programas especiais e temos intervenções especializadas nas turmas quando há problemas. Mas acredito que o mais importante é dar a oportunidade aos alunos de, por vezes, encontrar o seu equilíbrio. Penso que será necessária, e essa é uma etapa que trabalhamos neste momento, ajudar esses alunos. Para os alunos que tem um comportamento diferente há possibilidade de lhes dar um apoio psicológico, trabalhando em conjunto com os educadores. Para certos casos é necessário integrar neste trabalho as famílias, porque uma criança que tem esse comportamento na escola, poderá ser um problema também em casa. Acredito que é necessário integrar mais a família. Por isso estamos a trabalhar numa aproximação de estruturas de apoio da escola fundamental e do Gabinete Nacional da Criança que permite garantir ajuda suplementar às crianças, mas também às famílias. Atualmente isso não é possível porque a influência da escola termina fora da escola. Quando o aluno deixa escola para a sua família, não temos qualquer competência. Por isso é importante integrar estes dois modelos de apoio.

Por último penso que é importante todos nós, os adultos, os professores e educadores terem consciência que, muitas vezes, o que esperamos das nossas crianças é demasiado. É uma questão da pressão que é feita na escola para o sucesso, mas também tem a ver como tudo o que esperamos das nossas crianças. Quando olhamos para o quotidiano de uma criança que é colocada às 7h00 da manhã no estabelecimento de ensino e depois vai à escola ter as suas aulas com matérias que tem que aprender, e depois come na cantina e regressa à escola e tem outras obrigações fora da escola, tem também os trabalhos de casa o que é muito. Muitas vezes é muito mais que as oito horas de trabalho que como adultos trabalhamos durante o dia e quando chegamos a casa estamos stressados e cansados e queremos ter um pouco de tranquilidade. E muitas vezes não temos consciência desta vida quotidiana das crianças. É preciso ter em conta esta situação e permitir às crianças encontrar o seu equilíbro. Dar a possibilidade às crianças de passearem na floresta e de se acalmar. Na semana passada apresentamos o “Percurso de plena consciência” e pude testemunhar que crianças que fazem parte de um centro de competências de desenvolvimento socio-emocional, que muitas vezes são os que perturbam as suas turmas e que não tratam bem os seus colegas, e verifiquei que nesta situação estavam verdadeiramente aliviados e reencontraram um pouco de tranqulidade.

Alguns especialistas dizem que o aumento das depressões e problemas mentais nos jovens poderá ter a ver com a pressão excessiva para terem bons resultados na escola…

Isso pode fazer parte do problema. Porque um aluno que é mal orientado para uma área em que não pode responder às expetativas que aprende uma área que não tem verdadeiramente a intenção de exercer, que não encontrou o seu talento e não sabe quais são as suas ambições na vida também, é um aluno que trabalha, sem compreender verdadeiramente, porque deve trabalhar. E muitas vezes é ultrapassado. Creio que a orientação pode evitar fenómenos de insucesso escolar. Acredito que uma visão realista por parte dos pais é também muito importante. Porque a pressão não vem apenas da escola. Muitas vezes vem também da família. Porque muitas vezes é melhor mudar de turma, de área de ensino saindo do secundário geral, para o sistema modular ou fazer uma formação profissional. Por vezes os pais não aceitam essa opção e preferem que o seu filho faça uma formação teórica para continuar os seus estudos. Mas pode também optar por uam formação profissional e fazer estudos posteriores. O interesse pode ser mais estimulado com uma formação profissional do que com uma outra formação.