Movimento "One of Us" quer fim da utilização de embriões humanos na UE
O movimento "One of us", criado para lutar contra a utilização de embriões na investigação científica, tem um comité no Luxemburgo. Anne-Marie Yim, da Associação Forum Vitae, disse ao CONTACTO que é contra "qualquer destruição de embriões humanos, nomeadamente para fins de pesquisa, desenvolvimento e saúde".
Anne-Marie Yim, da Associação Forum Vitae, no Luxemburgo, é contra "qualquer destruição de embriões humanos, nomeadamente para fins de pesquisa, desenvolvimento e saúde" © Créditos: Guy Jallay
A questão da utilização de embriões humanos criados "in vitro" na investigação científica continua a levantar questões éticas, trinta e cinco anos depois do nascimento do primeiro bebé proveta em 1978. Quando uma mulher recorre à inseminação artificial, são produzidos mais embriões do que os implantados no seu útero. Os embriões não utilizados permanecem congelados durante um período de tempo que por vezes ultrapassa a sua viabilidade.
O debate sobre o destino destes embriões excedentários levanta questões científicas, éticas e religiosas, bem como os sentimentos dos pais destes embriões. Uma questão a que se junta o potencial terapêutico das células estaminais embrionárias, que abriu caminho para o desenvolvimento de terapias para doenças até agora consideradas incuráveis: vários tipos de cancro, Parkinson’s e Alzheimer ou lesões da espinal medula.
Estas investigações, e sobretudo as suspeitas de utilização de embriões para fins eugénicos, colocam na ordem do dia o estatuto moral do embrião fora do útero materno.
O movimento "One of Us" mobilizou várias organizações europeias que se opõem à destruição de embriões supranumerários e encontra-se a recolher assinaturas para uma ICE (Iniciativa de Cidadania Europeia) que leve a Comissão Europeia a não financiar projectos científicos que os utilizem. Se obtiver um milhão de assinaturas no conjunto dos 27 países-membros até 1 de Novembro, a iniciativa poderá ser submetida à Comissão Europeia, que terá de dar uma resposta formal, indicando se lhe dá ou não seguimento legislativo.
Segundo a porta-voz do Forum Vitae, "a questão até já está ultrapassada, depois das descobertas de Shinya Yamanaka, que encontrou uma forma de transformar células normais de um adulto (por exemplo, da pele) em células estaminais tão ou ainda mais eficazes, tornando a utilização de embriões obsoleta". Esta descoberta valeu ao cientista japonês o prémio Nobel da Medicina em 2012. No entanto, outros cientistas consideram ainda prematuro pensar que se pode recorrer exclusivamente a estas células estaminais induzidas e abandonar por completo a utilização de embriões.
Anne-Marie Yim diz que os pontos de vista defendidos pelo movimento "não têm voz nos centros de decisão". A cientista cita Rabelais: "A ciência sem consciência não é mais do que a ruína da alma". O objectivo do movimento é "que todos os embriões sejam mantidos" e se encontrem pais que os adoptem: casais que não conseguem conceber sequer "in vitro" e dispostos a aceitar levar a termo os embriões de outro casal.
A adopção de embriões existe nos Estados Unidos, mas o número elevado de embriões supranumerários (segundo o Washington Post, nos EUA existiam em 2006 mais de 400 mil) e o sentimento dos pais desses embriões face à possibilidade de virem a existir irmãos dos seus filhos poderão complicar a generalização desta prática.
Vera Herold