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Depois do debate no Parlamento

Ministra promete prevenção em resposta à petição de Tânia Silva

O reforço da prevenção é a primeira medida que a ministra da Saúde vai levar a cabo para combater a doença de Lyme, transmitida pela carraça. O anúncio de Lydia Mutsch foi feito esta quarta-feira durante o debate sobre a petição de Tânia Silva, no Parlamento.

Tânia Silva fez-se acompanhar no debate pelo professor Christian Perrone (esq.), pelo bioquímico Marc Pauly e pela médica Aranzazu de Perdigo

Tânia Silva fez-se acompanhar no debate pelo professor Christian Perrone (esq.), pelo bioquímico Marc Pauly e pela médica Aranzazu de Perdigo © Créditos: Chris Karaba

Tânia Silva fez-se acomanhar no debate público pelo investigador francês Christian Perrone (esq.), pelo bioquímico Marc Pauly e pela médica Aranzazu de Perdigo

Tânia Silva fez-se acomanhar no debate público pelo investigador francês Christian Perrone (esq.), pelo bioquímico Marc Pauly e pela médica Aranzazu de Perdigo © Créditos: Chris Karaba

Com quase oito mil assinaturas, a luso-luxemburguesa Tânia Silva, ela própria vítima da doença de Lyme, conseguiu ganhar a sua primeira batalha: levar a petição à discussão no Parlamento.

Acompanhada pela referência europeia na investigação da doença, o professor francês Christian Perrone, pelo biólogo luxemburguês Marc Pauly e pela citogeneticista Aranzazu de Perdigo, do Laboratório Nacional de Saúde, Tânia Silva saiu-se bem durante as duas horas de debate. Não procurou confrontos e apresentou propostas concretas, a começar pela prevenção.

“Gostaria que fossem afixados painéis informativos à entrada das florestas para sensibilizar as pessoas, que fossem distribuídas brochuras nas escolas e também pinças próprias para que as pessoas soubessem como retirar as carraças”, propôs Tânia Silva.

A resposta da ministra da Saúde não se fez esperar. “Sempre fizemos sensibilização nas escolas. Há uma brochura sobre a doença, mas vamos acentuar a sensibilização pública e reeditar essa brochura antes da Primavera. Vou dar atenção a esta petição e vamos também entrar em contacto com a administração das Águas e Florestas para pôr painéis informativos dirigidos às pessoas que passeiam na floresta”, disse Lydia Mutsch ao CONTACTO, à saída do debate.

Tania Silva pr�sente sa p�tition aux d�put�s, avec Christian Perrone, Marc Pauly, Aranzazu de Perdigo, sur la maladie de Lyme, Luxembourg, le 03 Fevrier 2016.
Photo: Chris Karaba

Tania Silva pr�sente sa p�tition aux d�put�s, avec Christian Perrone, Marc Pauly, Aranzazu de Perdigo, sur la maladie de Lyme, Luxembourg, le 03 Fevrier 2016. Photo: Chris Karaba © Créditos: Chris Karaba

A ministra lembrou ainda o ante-projecto de lei que vai obrigar os médicos e laboratórios a declarar os casos diagnosticados da doença de Lyme.

Apesar de o regulamento grão-ducal de 10 de Setembro de 2004, sobre as doenças infecciosas ou transmissíveis, obrigar os médicos a declarar os novos casos de pessoas infectadas, os casos diagnosticados nem sempre chegam às autoridades sanitárias.

Outra das medidas anunciadas prende-se com um projecto de investigação, actualmente em curso na Luxembourg Institute of Health, que “deverá aperfeiçoar os testes de despistagem com diagnósticos mais fiáveis, para evitar casos no Luxemburgo como o da Tânia Silva”, disse ainda a ministra ao CONTACTO.

O teste de despistagem utilizado no Luxemburgo, ELISA, não detecta mais do que 20% a 40% dos casos da doença. A solução para o diagnóstico precoce de casos positivos poderá estar em testes utilizados já na Alemanha, com uma fiabilidade de 90%.

Questionado sobre a eficácia destas medidas, o especialista europeu na doença de Lyme, Christian Perrone, disse que prefere “esperar para ver”.

“Os governantes mostraram um espírito aberto sobre esta questão de saúde pública. Resta agora ver o que vão fazer nos meses que se seguem”, disse o investigador francês ao CONTACTO, lembrando que a fase crónica da doença “não é ainda reconhecida em muitos países”, entre eles a França.

Tânia Silva durante a apresentaçâo da petição

Tânia Silva durante a apresentaçâo da petição © Créditos: Chris Karaba

A presidente da Associação Luxemburguesa de Borreliose Lima (ALBL) também esteve a assistir ao debate. A portuguesa Sofia Araújo saudou a iniciativa de Tânia Silva, sublinhado que ajudou a "avançar a informação" junto da opinião pública.

“Mais importante que ter chegado ao Parlamento é que chegou à opinião pública e as pessoas passaram a conhecer melhor a doença e a ter uma melhor consciência de que há um problema no país”, disse ao CONTACTO a fundadora da ALBL.

Ao final do debate, os ministérios da Saúde e da Segurança Social comprometeram-se a elaborar, no espaço de um mês, um documento que reúna todas as informações disponíveis sobre a doença de Lyme no Grão-Ducado.

A formação contínua dos médicos sobre a doença, a tomada de acções enquadradas na resolução europeia da doença de Lyme e a promoção do Serviço Nacional de Doenças Infecto-contagiosas como centro de competência na matéria foram algumas das propostas feitas pelas comissões parlamentares de Petição, Saúde e Segurança Social.

REEMBOLSO DOS TRATAMENTOS CONTINUA A SER TRATADO ’COM PINÇAS’

Além da ministra da Saúde, o debate público entre peticionários e deputados contou ainda com a presença do presidente da Câmara dos Deputados e antigo ministro da Saúde, Mars di Bartolomeo, e do ministro da Segurança Social, Romain Schneider.

Sobre a questão das comparticipações do Estado aos tratamentos na fase crónica da doença, o ministro Romain Schneider disse que a doença está incluída na convenção da Caixa Nacional de Saúde (CNS) e que as “avultadas despesas” serão analisadas caso a caso.

“A doença de Lyme está na nossa convenção e todas as prestações previstas são reembolsadas pela CNS. Quando há tratamentos no exterior e um montante superior ao previsto a ser comparticipado, as pessoas podem pedir um reembolso através de um relatório fundamentado”, disse o ministro.

Momento da chegado ao Parlamento

Momento da chegado ao Parlamento © Créditos: Chris Karaba

Para Tânia Silva, esta informação “é conhecida por quem trabalha na área”, enquanto um “simples trabalhador dificilmente tem acesso a essa informação” e aos reembolsos. A ideia é reforçada por um médico generalista luxemburguês.

“A fase crónica da doença de Lyme custa caro. Se for reconhecida, a CNS teria de desembolsar 16.600 euros por ano por cada paciente. Essas pessoas são tratadas como tendo fibromialgia, esclerose múltipla, reumatismo”, revelou o médico, sob anonimato, numa entrevista publicada a 30 de Outubro de 2015, no jornal Luxemburger Wort.

O médico aponta ainda o dedo aos colegas de profissão por não declararem os casos positivos à Direcção de Saúde. “Continua a ser melhor não dizer nada para se ter uma certa liberdade nas receitas médicas”.

A doença de Lyme é provocada por uma bactéria transmitida pela picada de uma carraça infectada. Os sintomas mais comuns são o cansaço e as dores corporais. Com o tempo, alguns doentes infectados podem passar para a fase crónica, com sintomas duradouros que podem deixar as pessoas debilitadas física e mentalmente.

Henrique de Burgo

Veja aqui a reacção de Tânia Silva depois do debate:

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