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Consoada 2016

Mensagem de Natal do Grão-Duque Henri para o Luxemburgo

Como todos os anos, o Grão-Duque Henri dirige-se aos residentes do Luxemburgo, em noite de consoada. Veja aqui o vídeo e, mais abaixo, a tradução do discurso.

© Créditos: Claude Piscitelli

Como habitualmente, o Grão-Duque Henri dirige-se aos residentes do Luxemburgo, em noite de consoada. Veja aqui o vídeo e mais abaixo, a tradução do discurso.

"Caros cidadãos,

Nesta véspera de Natal, no final de um ano conturbado, buscamos algum descanso e serenidade. Também desejamos olhar em frente, confiantes de melhores dias.

Depois de algumas atribulações, sentidas este ano, devemos continuar a acreditar no progresso mundial. Ao lado de muitas crises, também aconteceram desenvolvimentos positivos.

A esperança de vida continua a aumentar de um modo excelente. A riqueza mundial está a crescer, apesar de distribuída de modo desequilibrado. A pobreza extrema continua a diminuir em todos os continentes. A ciência faz novas descobertas, quase todos os dias. Reconhece-se cada vez mais a importância da defesa ambiental, como se pode constatar pelas diversas acções internacionais contra as alterações climáticas.

Eu poderia enumerar outros exemplos positivos, arriscando chamarem-me de optimista desmedido. Sei, no entanto, que a nossa situação actual é difícil e que muito está a mudar e a ser posto em questão.

Desde a crise económica de 2008, muitas das nossas convicções e princípios foram questionados. A possibilidade de ver o sistema bancário falhar ou ver um Estado a entrar em falência, já não fazia parte dos nossos padrões de vida. Por isso muitos temeram pelas suas poupanças.

Cortes nos custos públicos e o aumento do desemprego, intensificaram os receios da deterioração da vida de muitos. A globalização acelerada, guerra na origem de grandes fluxos migratórios, entre as quais a tragédia de Aleppo, é o exemplo mais recente, e os ataques terroristas dão-nos a impressão de grandes mudanças históricas e que a nossa identidade é posta em questão.

Reflexo destes receios é observável nas opiniões de muitos e nos resultados eleitorais. Muitos querem mais segurança e pedem mesmo que as fronteiras sejas reinstituídas. Muitos querem regressar ao mundo que conheceram, outrora. Ou aqueles que apenas procuram respostas simples para questões complexas. Por muito fácil de compreender que seja este processo, estes desenvolvimentos acarretam muitos perigos, pois ameaçam dividir a nossa sociedade.

Certamente que estas expressões de mal-estar e raiva não se podem contrapor com arrogância. Todas têm de ser levadas a sério e consideradas; soluções concretas terão de ser encontradas. Ignorar diferentes opiniões por não serem "politicamente correctas" não é, de todo, a melhor opção.

Estou convencido de que não nos podemos deixar guiar pelo medo. "O medo é mau conselheiro." O medo não deve ter influência nas nossas acções políticas; por isso os nosso políticos devem enfrentar esses sentimentos com calma e previdência. Se a política conseguir continuar a ser pro-activa e mostrar que não se deixa levar por eventos pontuais, poderá criar confiança.

Meus caros cidadãos,

Como os outros países, o Luxemburgo não está imune a estas tendências. No entanto, vejo com satisfação que estamos a abordar estas questões com serenidade. Parece que o temperamento Luxemburguês nos protege de certos excessos.

Olhando para os duros debates a decorrer noutros países, onde encontramos os valores que nos são tão caros? Tolerância e respeito. Não nomearei nenhum, todos sabemos quem são.

As próximas eleições aproximam-se. Gostaria que o debate público no nosso país se fizesse com moderação, como sempre se fez.

Ataques pessoais e excessos, não fazem parte das nossas tradições. Sou da opinião de que o tom respeitoso e amigável da nossa democracia continuará a ser o melhor modelo para as nossas instituições.

A nossa capacidade para vivermos juntos em harmonia é um uma das nossas mais-valias. Fico impressionado e tocado ao ver como a nossa sociedade consegue acolher, todos os anos, novas pessoas no país, que contribuem para todas as áreas da vida social. É verdade que a economia luxemburguesa está bem, mas a abertura da nossa população é inegável. Também recebemos refugiados de zonas de conflito, no médio-oriente. Tudo isto demonstra que estamos a abordar os desafios do modo correcto.

Um outro modo de trabalhar contra o medo é a nossa capacidade para construir o futuro. Os últimos meses têm sido impressionantes, no nível de reflexão e debate sobre o posicionamento do país.

O governo deve ser felicitado por estar iniciativa, mas também quero agradecer a todas as vozes diferentes que têm participado no debate. Algumas ideias, valerá a pena segui-las, outras terão de ser deixadas. É muito importante que o Luxemburgo esteja a levar a cabo este debate, provando que o país está alinhado com o futuro.

A partir do momento em que vemos o futuro como uma oportunidade, e não como uma ameaça, podemos colocar de lado o medo que temos na nossa cabeça e nos nossos corações.

Meus caros cidadãos,

As festas de fim de ano são uma oportunidade para nós, Luxemburgueses e não-luxemburgueses, novos e velhos, crentes e não-crentes, de nos juntarmos e nos lembrarmos da importância da família e da solidariedade. Frequentemente, estamos demasiado embrenhados nas nossas próprias vidas e esquecemos o essencial. É com emoção que penso naqueles que estão sós durante as festas, penso nos que estão doentes ou se sentem excluídos. Usemos estes dias para chegar a estas pessoas. Ajudemos onde podemos. Isto também nos beneficiará a nós; através da solidariedade social podemos enfrentar os desafios dos nossos tempos.

É neste espírito que eu, juntamente com a Grã-Duquesa, o Grão-Duque Jean, o Príncipe Guillaume e a Princesa Stéphanie, vos desejamos um feliz Natal, do fundo dos nosso corações. Desejo-nos a todos um bom início do novo ano, com muito optimismo e boa vontade."