Mais de 11 mil pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza na Cidade do Luxemburgo
Quer se trate de habitação, salários ou educação, os habitantes da capital do Luxemburgo enfrentam muitas disparidades, de acordo com o primeiro relatório social sobre o município.
Existem disparidades significativas de rendimentos entre os diferentes distritos da capital. © Créditos: Gerry Huberty
Em 2020, os habitantes da capital estavam longe de estar todos no mesmo barco. É isto que revela o primeiro relatório social detalhado sobre a Cidade do Luxemburgo, produzido pelo instituto luxemburguês de investigação sócio-económica (Liser). O principal objetivo deste documento de 200 páginas é fornecer um mapa detalhado do município para orientar futuras decisões políticas.
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Divulgado na quarta-feira, o estudo revela que 22% dos trabalhadores da cidade estão abaixo do limiar da pobreza, fixado em 1.942 euros. Estas 11.243 pessoas ganham uma média de 705 euros, independentemente do seu tipo de contrato. Este montante é ainda mais baixo em certos bairros da cidade, tais como Bonnevoie, a estação ferroviária, ou Neudorf, onde os trabalhadores pobres sobrevivem com uma média de 660 euros por mês.
Isto não é o mesmo que os habitantes da capital que estão acima do limiar de pobreza e ganham uma média de 9.037 euros por mês. O relatório mostra que o salário médio dos trabalhadores que não estão abaixo do limiar da pobreza é dez vezes superior, cerca de 7.000 euros por mês. Assim, o salário médio de todos os residentes empregados da cidade é de 5,617 euros.
Portugueses ganham em média 1.900 euros por mês
Se tais disparidades existem ao nível dos diferentes distritos da cidade, também existem ao nível das nacionalidades dos residentes. De facto, durante o período de observação, que decorreu entre 2020 e 2021, os alemães foram de longe os residentes mais bem pagos, embolsando uma média de 8.000 euros por mês. Foram seguidos pelos belgas, os franceses e depois pelos luxemburgueses, enquanto os portugueses ficaram em quinto lugar, ganhando em média 1.900 euros por mês.
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Do lado da habitação, o Liser indica que a renda média para imóveis no mercado de arrendamento na capital é de 1,613 euros. Este montante torna o acesso à habitação difícil para muitas famílias, acentuando a pressão sobre a terra e tornando este problema uma questão importante para o município.
Uma das principais alavancas a serem utilizadas pelos representantes eleitos seria a construção de mais habitações sociais. De facto, a Cidade do Luxemburgo tem apenas 1.697 unidades, ou seja 3% do parque habitacional total, sublinha o relatório. Esta percentagem é inferior à média dos países europeus, fixada em 9%. A nível da vizinhança, é em Bonnevoie-Sud, Gasperich, Grund, a estação ferroviária e Kirchberg que estas unidades habitacionais mais acessíveis são mais numerosas.
Distribuição desigual
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Com as eleições municipais a aproximarem-se rapidamente, o documento também destacou outro facto: apenas 29% dos habitantes da capital estão registados para votar. E embora representem 70% da população total, apenas 14% dos residentes estrangeiros estão registados.
A proporção de residentes de origem estrangeira em relação à população total dos distritos é mais elevada no distrito da estação (84%), mas também nos distritos mais povoados da cidade (Belair, Limpertsberg e Bonnevoie-Sud). Em contrapartida, os luxemburgueses constituem a maioria dos residentes nos distritos de Cents e Hamm, enquanto que estão também muito presentes nos distritos Grund, Pfaffenthal, Ville-Haute e Belair.
Um relatório "pouco lisonjeiro"
Publicado online na quarta-feira, o relatório do Liser foi alvo de reações à imprensa por parte dos conselheiros do Dei Lénk, Guy Foetz e Ana Correia Da Veiga. O primeiro considerou que o documento era "pouco lisonjeiro para a maioria", enquanto a segunda soou o alarme no que diz respeito à coesão social. Para a conselheira, bairros como o da estação "não são uma prioridade para a maioria", sendo "principalmente povoados por pessoas que não votam".
(Este artigo foi originalmente publicado no Virgule e adaptado para o Contacto por Tiago Rodrigues.)