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Greve ambiental. “Para quê estudar se não temos futuro?"

Milhares de jovens encheram as ruas da cidade do Luxemburgo, esta sexta-feira, em protesto contra a inação do Governo para salvar o planeta. Um movimento mundial que no Luxemburgo começou com três alunas portuguesas.

Sara Sousa cozinha os seus próprios bolos e faz de tudo para não utilizar produtos de plástico. Até o gel de banho compra numa loja onde pode levar o seu próprio recipiente. Com 18 anos, a aluna da escola privada Marie Consolatrice, em Esch-sur-Alzette, filha de imigrantes portugueses, está a mudar aos poucos o seu estilo de vida, e se possível o da sua família e amigos também. “Os meus colegas dizem sempre: ‘Não posso tirar a minha garrafa de plástico [da mochila] porque a Sara vai dizer alguma coisa’”, ri. “Não gosto de ver essas coisas, porque eu sei que dá para mudar. E eles podem mudar”. Para uma das suas colegas, Sílvia Almeida, de 19 anos, também lusodescendente, a situação não é muito diferente. “No início foi muito difícil porque ninguém me percebia. Acabava por encontrar pessoas na Internet com quem pudesse comunicar para não me sentir tão sozinha”.

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Sara e Sílvia são duas das três jovens lusodescendentes que começaram a greve global ambiental no Luxemburgo, que no final já contava com cerca de 40 organizadores. Segundo o mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima, temos menos de 12 anos para salvar o planeta, evitando que as temperaturas subam mais de 1,5 graus acima dos valores pré-industriais, sem o qual poderão morrer milhões de pessoas e ser destruídos ecossistemas inteiros. “O aquecimento global sempre existiu, mas agora está cada vez mais grave. Acho que os políticos também querem esconder isso para que as pessoas não ajam contra”, diz Sílvia. “Estamos a destruir o mundo e não estamos conscientes de que isso está a acontecer”.

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Esta sexta-feira, apesar dos chuviscos e do vento forte, cerca de dez mil estudantes faltaram às aulas para participar na greve ambiental mundial no Luxemburgo. Por volta das onze da manhã, os jovens começaram a descer a rua Philippe II em protesto pelas consequências das alterações climáticas e a falta de ação por parte do Governo para as travar. Vários cartazes reproduziam as reivindicações e as queixas dos alunos. Um deles sintetizava o espírito da greve: "Para quê estudar se não temos futuro?". É o medo de muitos, incluindo Sara. “Quero ter filhos e penso: em que mundo é que eles vão viver?". A manifestação acabou na Praça Guillaume II, com música e microfone aberto, e a vontade de continuar a lutar pelo planeta. "É um orgulho ver tanta gente e pensar: 'Nós começámos isto'", diz Sara, enquanto segura um cartaz. "Mas uma [manifestação] não chega, vão ser precisas mais para que alguma coisa mude", acrescenta Sílvia.