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Este candidato português já está eleito e nem vai a votos nas comunais

É a estreia de Luís Mendes Gomes no poder comunal de Vichten e nem vai a sufrágio, no dia 11 de junho. Foi eleito diretamente. Saiba porquê.

© Créditos: António Pires

Quando Luís Mendes Gomes foi convidado para ser candidato independente às eleições comunais da sua pequena comuna de Vichten, no cantão de Redange, nem sequer pensou duas vezes. “Aceitei de imediato e com muito prazer”, conta ao Contacto este luso-luxemburguês nascido no Grão-Ducado, mas que mantém a identidade portuguesa bem viva. Aliás, a boa imagem dos portugueses foi uma das razões que o levou a embarcar nesta “aventura”.

Por um lado, Luís Mendes Gomes, de 48 anos, sempre se preocupou com a vida da comunidade onde reside e ambicionava “poder contribuir para melhorar o quotidiano da localidade”. Por outro lado, “participar ativamente no poder local permitia-me também ajudar a quebrar o preconceito de que os portugueses do Luxemburgo não gostam de participar na vida comunitária e política deste país”.

A decisão estava tomada. Vichten ia ter o único candidato de nacionalidade portuguesa, “pois tenho passaporte português”, entre os inscritos para as comunais de junho.

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As surpresas começaram então para Luís Mendes Gomes. “Fui o nono candidato a inscrever-me. Fui à comuna e conheci outros candidatos e membros ainda em funções. Vim para casa satisfeito e a pensar nos próximos desenvolvimentos. Nas listas eleitorais, na campanha, no dia das eleições. Nervoso, mas feliz”.

Porém, “dois dias depois tocam-me à campainha de casa”. Era um conselheiro comunal. “Pronto. Não há eleições”, disse este a Luís Mendes Gomes. “Fui apanhado completamente de surpresa. Como assim? Não há eleições?” questionou o português, ficando ainda mais surpreendido ao saber que ele próprio já estava eleito.

Eis a explicação. O poder comunal de Vichten, com uma população de cerca de 1.300 moradores, é composto por nove membros (mandatos). O português foi o nono candidato a inscrever-se, e já no final do prazo, tendo sido aprovado. Até ao fim do prazo de inscrições (60 dias antes do dia das eleições) não houve mais candidatos. Resultado: O número de candidatos igualou o número de mandatos, razão pela qual em Vichten não irá haver eleições no dia 11 de junho.

“É estranho não ir a votos”

Logo no dia 13 de abril, a administração da comuna anunciou no site do município que já não iriam ser realizadas eleições. “Como o número de candidatos (9) não supera o dos mandatos (9), os candidatos são declarados eleitos”, explica a administração apresentando de seguida o nome dos eleitos, entre eles, o de Luís Mendes Gomes, de nacionalidade portuguesa. Todos os outros são luxemburgueses.

O português, chefe dos serviços das receções do centro hospitalar neuropsiquiátrico do país, confessa-se ainda algo incrédulo. “É estranho ser candidato e não ir a votos, mas já estou cheio de vontade de começar a trabalhar. Primeiro quero perceber a dinâmica dos trabalhos comunais, da autarquia para depois nos lançarmos nos projetos e vermos o que iremos fazer”.

Luís Mendes Gomes conta que as pessoas já o começaram a abordar na rua desde que souberam que ele era candidato, algo que lhe agrada “muito”. A localidade é pequena “e eu sou talvez o único residente que passeia três cães pela terra, o Spyke, Skye e Shay”, diz a rir. “As pessoas já me conheciam e se antes, muitos me cumprimentavam apenas, agora vêm ter comigo para falar dos problemas que gostariam de ver resolvidos. E isso é muito positivo, pois quero ouvir as pessoas”, frisa.

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Há ainda outra vantagem. “Como eu trabalho por turnos, vou passear os cães em horários diferentes de manhã e à tarde, e assim consigo chegar a mais pessoas”. Contudo, o novo homem do poder local orgulha-se da sua terra e “da qualidade de vida que esta oferece”.

Embora esta seja a estreia do português, para alguns dos eleitos nestas comunais de Vichten, como Luc Recken, atual burgomestre, esta é já uma reeleição. Contudo, ainda está por decidir quais os cargos que os nove eleitos irão ocupar neste novo mandato, quem será o burgomestre, os vereadores e conselheiros municipais. Sem eleições como se faz esta escolha? “Vamos decidir entre nós os cargos e tal ficará decidido o mais tardar na noite de 11 de junho”, esclarece ao Contacto Luc Recken.

É uma novidade em Vichten as eleições comunais serem decididas automaticamente, sem a ida às urnas. Desde 2005 e até agora, houve sempre mais candidatos a concorrer, sendo os eleitores a decidir quem ocuparia os nove mandatos do poder comunal. No último sufrágio, em 2017, o boletim de voto apresentava 19 candidatos, tendo sido Luc Recken o mais votado e eleito burgomestre.

Esta pequena comuna do cantão de Redange não é caso único nestas comunais de 2023. Há outras cinco comunas onde o número de candidatos é igual ao número de mandatos pelo que também não irão a votos, são elas as comunas de Bourscheid, Nommern, Stadtbredimus, Weiler-la-Tour e Winseler, como informou o Ministério do Interior.