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Eles não têm medo de agulhas

Os imigrantes lusófonos são uma minoria entre os dadores de sangue no Luxemburgo, diz a Cruz Vermelha Luxemburguesa. Por ocasião do Dia Mundial do Dador de Sangue, que se assinala hoje, o CONTACTO ouviu imigrantes lusófonos que não têm medo de agulhas.

Os portugueses José Correia e Cátia Gonçalves são dadores de sangue no Luxemburgo há vários anos

Os portugueses José Correia e Cátia Gonçalves são dadores de sangue no Luxemburgo há vários anos © Créditos: P.T.A.

José Correia é funcionário administrativo numa repartição da Função Pública luxemburguesa, Cátia Gonçalves é conselheira comunal e Paulo da Luz é ajudante de cozinheiro.

Em comum, os três têm o facto de serem dadores de sangue no Luxemburgo, mas os caminhos que os levaram ao Centro de Transfusão Sanguínea da Cruz Vermelha não foram os mesmos para todos.

"No final de 2006, a minha sogra adoeceu com cancro e precisou de sangue", conta José Correia, de 38 anos. "Apesar de não termos o mesmo tipo sanguíneo, isso sensibilizou-me, porque percebi que havia uma necessidade", diz o português, que dá sangue de três em três meses desde Fevereiro de 2007.

Medo de agulhas? Ri-se. "Nunca tive medo de agulhas. As pessoas têm de perceber que é como uma análise ao sangue, uma picada ligeira, quase não se sente. E os técnicos são muito simpáticos, o que ajuda nas primeiras vezes", garante.

"Fazer a depilação é muito pior, e mesmo assim as mulheres fazem-na", brinca Cátia Gonçalves. A conselheira comunal de Pétange e assistente parlamentar do partido socialista luxemburguês (LSAP) é dadora desde 2009.

"Ao contrário do José, eu não tive ninguém doente na família, nem ninguém precisou de sangue, mas há uma altura na vida em que se pensa: se podermos ser úteis, porque não?".

Paulo da Luz chegou ao Luxemburgo em 2005 e dá sangue desde 2007

Paulo da Luz chegou ao Luxemburgo em 2005 e dá sangue desde 2007 © Créditos: P.T.A.

Paulo da Luz é da mesma opinião. "Não sei quando um dia poderei ser eu a precisar", diz o ajudante de cozinheiro cabo-verdiano, de 35 anos. Paulo chegou ao Luxemburgo em 2005 e começou a dar sangue em Novembro de 2007, depois de ter visto um anúncio da Cruz Vermelha Luxemburguesa.

Para todos, o gesto altruísta tem ainda uma vantagem pessoal. "De três em três meses, fazem-me análises ao sangue, e sei que estou bem", diz José Correia.

IMIGRANTES LUSÓFONOS SÃO UMA MINORIA

Sem quantificar o número de dadores de sangue lusófonos (o sistema não permite a busca por nacionalidades, segundo a Cruz Vermelha), o director do Centro de Transfusão Sanguínea, Paul Courrier, garante ainda assim que são "uma minoria". Um fenómeno que pode ser explicado pela dificuldade em fazer passar a mensagem.

"As dez associações de dadores da Cruz Vermelha nas comunas são constituídas sobretudo por luxemburgueses, e a comunicação nem sempre passa", avança a conselheira comunal Cátia Gonçalves.

Mas no Centro de Transfusão Sanguínea há duas enfermeiras que falam português, garante Rachel Vieira, do departamento de comunicação da Cruz Vermelha.

"Se houver problemas de comunicação, uma das enfermeiras pode acompanhar a pessoa desde a chegada e fazer a tradução", diz.

A Cruz Vermelha Luxemburguesa conta actualmente com 13.700 dadores de sangue, mas só dez mil dão sangue com regularidade. Em 2012, a instituição registou 1.006 novos dadores.

Um número necessário para "substituir as pessoas que deixam de dar sangue, por atingirem o limite de idade, que é de 65 anos, ou que por doença ou por qualquer outra razão deixam de dar sangue", explica Rachel Vieira.

Esta sexta-feira, a Cruz Vermelha Luxemburguesa assinala o Dia Mundial do Dador de Sangue com uma acção na Place Guillaume, na capital. Os voluntários da ONG vão fazer um mosaico gigante com 13.700 elementos, em homenagem ao número de dadores de sangue no Luxemburgo.

Uma acção a que se associa o ministro da Saúde, Mars di Bartolomeo, e também a Miss Portugal no Luxemburgo, Sara Vendeiro, que vai estar na Place Guillaume com a Cruz Vermelha Luxemburguesa esta sexta-feira. Entre as 8h e as 20h, os interessados vão poder obter informações sobre como dar sangue no stand da Cruz Vermelha.

Para poder dar sangue, "basta ter entre 18 e 60 anos e ser saudável", diz o director do Centro de Transfusão Sanguínea. Os homens podem dar sangue de três em três meses e as mulheres de quatro em quatro, "porque perdem ferro com mais facilidade, devido ao período", explica Paul Courrier.

O Centro de Transfusão Sanguínea da Cruz Vermelha Luxemburguesa pode ser contactado pelo tel. 27 55 4000.

Paula Telo Alves