Covid-19. Sarre e Renânia-Palatinado aliviam restrições aos residentes do Luxemburgo
A partir do próximo dia 5, os luxemburgueses podem permanecer 24 horas no Sarre sem necessidade de teste. A Renânia-Palatinado está a negociar acordo idêntico por um período de 48 horas.
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A Alemanha mantém o Luxemburgo na lista negra das “zonas de risco”, mas os estados federais fronteiriços do Sarre e da Renânia-Palatinado querem dar mais liberdades aos residentes do Luxemburgo do que as impostas pelas restrições do governo de Angela Merkel.
Afinal, como defendem os ministros-presidentes destes estados a vida das suas populações está ligada às regiões fronteiriças dos países vizinhos e vice-versa. Além da exceção já concedida aos trabalhadores fronteiriços, os dois governantes querem abrir as portas a todos os que moram ao lado, por curtos períodos de tempo.
O ministro-presidente do Sarre Tobias Hans já conseguiu reduzir as restrições no seu estado para quem chega do Luxemburgo. Assim, a partir da próxima segunda-feira, dia 5 de outubro, os residentes do Grão-Ducado que passarem a fronteira poderão permanecer durante 24 horas no Sarre, sem necessidade de realizar o teste de despistagem à covid-19 e ficar em quarentena, anunciou ontem, quarta-feira, Tobias Hans.
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Renânia-Palatinado em negociações
Também a ministra-presidente da Renânina-Palatinado Malu Dreyer ( na foto) já está a negociar com o governo federal exceções no seu estado para os vizinhos luxemburgueses, belgas e franceses. Malu Dreyer pretende que as populações vizinhas possam ficar durante 48 horas na Renânia-Palatinado sem necessidade de testes de despistagem, declarou numa entrevista ao programa ARD “Maischberger-Die Woche”.
A governante quer que luxemburgueses continuem a ir às compras neste estado ou a um restaurante sem terem de cumprir as medidas obrigatórias como provenientes de uma “zona de risco”.
Malu Dreyer deseja que esta permissão seja concedida o mais rápido possível, sobretudo antes das férias de outono que na Renânia-Palatinado começam no próximo dia 12.
“Na Renânia-Palatinado, temos muitos visitantes dos países vizinhos, relações comerciais estreitas com eles e o setor do comércio também está intimamente ligado. É por isso que nós e os nossos estados vizinhos do Sarre, Baden-Württemberg e Renânia do Norte-Vestefália nos juntámos para defender que isso seja levado em consideração no modelo federal de regulamentação de quarentena”, vincou a ministra-presidente Dreyer, citada pelo Tageblatt.
“Queremos garantir que as pessoas das regiões vizinhas possam continuar a fazer compras no nosso estado. Para mim é importante que haja uma solução comum, porque é difícil dizer às pessoas que as regras na Renânia-Palatinado nas fronteiras do Luxemburgo, belga ou francesa são diferentes das nas fronteiras do Luxemburgo, França ou Bélgica com os nossos estados federais vizinhos”, frisou a governante.
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Hans e Dreyer apoiam Luxemburgo
"Não podemos punir países como Luxemburgo por fazerem muitos testes”, considera Malu Dreyer que foi também uma das vozes mais críticas da primeira classificação do Grão-Ducado como zona de risco pela Alemanha, entre 14 de julho a 20 de agosto. Agora volta a mostrar o seu apoio ao Luxemburgo.
Também Tobias Hans (na foto) defendeu que a classificação do Grão-Ducado como “zona de risco” representa “um grande desafio”, particularmente para os que vivem no Sarre, mas trabalham no Luxemburgo, ou para os que têm família no Grão-Ducado.
Ambos apoiam o ministro luxemburguês dos Negócios Estrangeiros na sua luta para reverter a situação e retirar a classificação de “zona de risco” ao Grão-Ducado. Mas, pelo menos até meados de outubro, a Alemanha pretende manter o país na lista vermelha, como divulgou o governo alemão.
A luta de Jean Asselborn
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean Asselborn já contestou fortemente a classificação do Luxemburgo como “zona de risco” para a Alemanha e também para a Bélgica e tem estado em “contacto permanente com os homólogos para reverter a situação”, como garantiu ao Contacto, um porta-voz do ministério.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean Asselborn já contestou fortemente a classificação do Luxemburgo como “zona de risco” para a Alemanha e também para a Bélgica e tem estado em “contacto permanente com os homólogos para reverter a situação”, como garantiu ao Contacto, um porta-voz do ministério.
Jean Asselborn está a “trabalhar arduamente para reduzir tanto quanto possível as consequências diretas para a população da Grande Região”, adiantou. Para o governante os números de infeção no país têm vindo a diminuir nos últimos dias e têm de ser vistos “no contexto da estratégia luxemburguesa de testes em grande escala”. O ministro defende que “não se pode olhar só para a taxa de incidência das infeções no Luxemburgo, a análise tem de incluir a taxa de testes realizados, as estratégias nacionais de testes, a taxa de positividade, a taxa de hospitalização, a taxa de ressuscitação, e a taxa de mortalidade”, precisou o porta-voz do ministério.
Os 46.863 trabalhadores transfronteiriços residentes na Alemanha bem como os 47.173 residentes na Bélgica foram de novo acautelados nesta situação e constituem uma das exceções às novas limitações impostas pelo governo de Merkel.
Do lado da Bélgica, o Negócios Estrangeiros Philippe Goffin precisou que “os trabalhadores transfronteiriços não estão abrangidos pelas restrições”, predomina o “bom senso” nesse sentido. As medidas de testes e quarentena aplicam-se somente os turistas em “passeio” pela Bélgica.
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Desta vez não há controlos fronteiriços
Os controlos fronteiriços também não existem agora. O próprio governo alemão admitiu que as fiscalizações nas entradas das vias terrestres com a obrigatoriedade de mostrar as autorizações “não constituíram um bom exemplo” na vez anterior, quando o Luxemburgo esteve na lista vermelha, entre 14 de julho a 20 de agosto.
Pascal Peuvrel, presidente da Association des Frontaliers au Luxembourg critica a Alemanha e a Bélgica por voltarem a colocar o Luxemburgo na lista vermelha.
“É claro que um país que testa muito tem maior probabilidade de detetar um maior número de infetados, mas isso significa que está a controlar a doença e pode melhor gerir a epidemia. É isso acontece no Luxemburgo pelo que voltar a colocar o país na lista vermelha dos vizinhos não me faz sentido. É preciso monitorizar a doença”, declara. Pelo menos, diz Pascal Peuvrel “não há controlos nas fronteiras o que é bom, porque se houvesse seria um caos para os transfronteiriços”.
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Viagens por motivos médicos permitidas
Também os estudantes residentes no Luxemburgo podem continuar a ir às faculdades da Alemanha e Bélgica realizar os seus exames.
As “visitas por motivos médicos” são igualmente permitidas aos luxemburgueses que tenham consultas ou exames na Bélgica e nos estados alemães da Renânia-Palatino e do Sarre.
Os dois estados tiveram agora a preocupação de acautelar as viagens por motivos médicos, para evitar nova polémica. No período anterior em que o Luxemburgo esteve declarado como país de risco, certos hospitais alemães proibiram a entrada de residentes luxemburgueses com consultas marcadas e apresentação de testes negativos. Na altura, os ministérios da Saúde e dos Negócios Estrangeiros do Grão-Ducado tiveram de intervir diretamente em alguns casos para desbloquear a situação.
Medidas que reforçam “sentimentos xenófobos”
“As novas restrições da Bélgica e da Alemanha ao Luxemburgo, os condicionalismos à livre circulação nos países da União Europeia só prova que cada país está a olhar para o seu umbigo, não há respostas coordenadas entre os estados membros ao combate da epidemia que é uma situação global”, critica Sérgio Ferreira, porta-voz da Associação de Apoio aos Trabalhadores Imigrantes (ASTI). “O vírus não se trava com fronteiras nem restrições, está provado que este tipo de medidas não é eficaz, apenas reforçam sentimentos nacionalistas e xenófobos”, alerta este dirigente.
Tal como noutros países da Europa, os casos de infeção pelo vírus da Covid-19 têm estado a aumentar na Alemanha, Bélgica e Luxemburgo. Na vizinha Alemanha é situação é mais preocupante, com Angela Merkel a temer uma explosão de casos de covid-19 nos próximos meses. “Se a tendência continuar assim”, a Alemanha chegará aos “19.200 casos diários” até ao Natal, escreveram a Bild e a Sipegel.