Contacto
Emigração

Corinne Cahen: "Portugueses dizem-me que tiveram de aprender francês em 1980 e agora são obrigados a saber luxemburguês"

Para a ministra da Família, muitos estrangeiros a viver no Luxemburgo têm dificuldade em aprender a língua e não pensam ficar, alimentando o sonho de voltar "a casa". Será esta uma das razões para a taxa tão baixa de eleitores inscritos para votar nas comunais?

Corinne Cahen

Corinne Cahen © Créditos: Gerry Huberty

Fonte: Redação

A Ministra da Família e da Integração, Corinne Cahen, e Emile Eicher, presidente da Syvicol, falaram em conferência de imprensa na quinta-feira sobre a campanha de apelo ao recenseamento dos residentes estrangeiros para votar nas próximas comunais de 11 de junho.

A ministra apresentou as "estatísticas sobre as taxas de inscrição de residentes não luxemburgueses nas eleições autárquicas", no Bistrot de Bonnevoie e o local não foi por acaso. É na Cidade do Luxemburgo que 72% dos estrangeiros estão registados, mas apenas 8,1% estão inscritos para votar nas comunais, a taxa mais baixa do Grão-Ducado.

Ler mais:Taxa de estrangeiros inscritos para votar aumenta para 12,5%

Em todo o país, a taxa de inscrição geral é de 12,5%, ligeiramente superior aos 11,7% de janeiro. Em números absolutos, atualmente estão inscritas 32.197 pessoas nas listas eleitorais, mas falta ainda convencer os restantes 224.888 potenciais eleitores (total 257.085).

Ainda de acordo com a ministra, 1.633 pessoas inscreveram-se para votar em janeiro e 2.206 em fevereiro.

A barreira da língua

Para além das estatísticas, francamente baixas, é importante ressalvar o retrato que a ministra fez dos estrangeiros a viver no país e que pode justificar, de alguma forma, os números. Para muitos, o sonho é voltar a casa.

"Conheço muitas pessoas que viveram aqui em situações precárias enquanto construíam casas noutros locais, dizendo que voltariam e que, no final, nunca mais saíram... O que eu digo às pessoas é 'sim, talvez partam amanhã, se é isso que querem, tudo bem. Mas voltem mais fortes. Partam com o coração mais cheio e mais uma língua: francês, alemão, luxemburguês'".

E aí está uma das maiores barreiras de integração no país: o luxemburguês. E quem vem de Portugal sente isso. "Os portugueses dizem-me: 'Quando chegámos nos anos 1980, pediram-nos para aprender francês e foi o que fizemos. E agora que falamos francês, é-nos dito que não podemos participar numa coisa ou noutra porque não falamos luxemburguês...", refere a ministra.

Kabi chegou do Benim no final dos anos 1990 e é cidadão luxemburguês há quase duas décadas. Ao jornal Virgule disse que, "para as pessoas de origem africana, o luxemburguês é uma barreira. Alguns irão aprendê-lo por razões administrativas ou profissionais, mas é aí que termina. Não os ajudará a integrarem-se", considera.

Ler mais:"Ninguém é detido por não votar" nas comunais

Kabi garante que vota "em todas as eleições". Em relação à baixa taxa de inscritos para votar, tem uma teoria: "O que realmente lhes interessa é a política do seu país de origem. Falam muito sobre isso!".

Então, onde está a integração? "Falamos mais de viver juntos do que de integração", diz Corinne Cahen, considerando que este assunto tem "muitos níveis". "Temos tantas formas de viver como temos pessoas. Muitas coisas já estão a ser feitas", avançou a ministra. A nível comunitário, traduz-se em "comissões de integração que chamaremos comissões de convivência intercultural no futuro".

Um outro programa é o 'Contrato de Acolhimento e Integração' (CAI), que "está atualmente aberto a estrangeiros que chegaram recentemente ao país, mas no futuro estará aberta a todos", reiterou a governante. Os trabalhadores fronteiriços, refugiados e também os luxemburgueses são bem-vindos. Uma forma de as pessoas se encontrarem umas com as outras para além da sua nacionalidade.

(Com Virgule)

NOTÍCIAS RELACIONADAS