Burgomestre de Esch: "Podemos ser uma cidade cultural de referência no Luxemburgo"
Esch-sur-Alzette prepara-se para crescer e, em breve, deverá chegar aos 55 mil habitantes, prevê George Mischo. O burgomestre da cidade apela aos mais de 11 mil portugueses que vivem na autarquia para votarem nas eleições.
O burgomestre de Esch-sur-Alzette, George Mischo. © Créditos: Marc Wilwert
Esch2022, Capital Europeia da Cultura é a oportunidade para transformar a cidade de Esch?
Sempre dissemos que depois de 2022, a Capital Europeia da Cultura não terá terminado. Temos uma herança que será por exemplo o nosso legado cultural como o Konschthal, o nosso Centro de Arte Contemporânea e com a recuperação do antigo cinema Ariston e a nossa Bridderhaus que serão depois de 2022 os nossos lugares da cultura. Espaços em que investimos muito dinheiro e que estarão disponíveis nos anos seguintes.
Como fazer com que as inovações culturais criadas em Esch2022 perduram para além do fim da Capital Europeia da Cultura?
Claro que com estas infraestruturas que referi anteriormente, por exemplo. Mas não só. Habitualmente temos sempre uma Noite da Cultura, por ano. Neste ano vamos realizar cinco e temos a ideia de entrar nos bairros da cidades através deste evento. Se as pessoas não vêm ver a cultura, então a cultura vai a casa das pessoas. Definimos alguns bairros de Esch onde levámos a cultura, com sucesso. Por exemplo, a primeira Noite da Cultura teve cerca de oito mil participantes. Não é apenas investir nos edifícios, mas também em termos de pessoas que gerem a residência de artistas, Bridderhaus e o Centro de Arte Contemporânea Konschthal. Porque se não tivermos o pessoal adequado para gerir estes espaços eles não vão funcionar. As Francofolies e a Noite da Cultura são eventos que vão perdurar e mostrar esta cidade aberta, Capital Europeia da Cultura.
Uma Capital Europeia da Cultura que também teve impacto em toda a região envolvente?
Temos o agrupamento Pro-Sud com 11 cidades que participaram em Esch2022, mas existem também os amigos franceses que se agrupam noutra comunidade e temos que colaborar com estas estruturas para garantir que depois de 2022 faremos durar a cultura. E também queremos fazer evoluir a cultura. Tenho o grande desejo que os jovens, as crianças e os adolescentes ganhem o gosto pela Cultura, por causa de Esch2022. Que eles percebam e que Esch 2022 lhes toque de alguma maneira. Pensarem que é qualquer coisa de interessante que vale a pena experimentar. Alguns vão experimentar e outros até poderão desenvolver uma grande carreira na Cultura. Porque, como no desporto, se tomarmos o gosto pela Cultura desde muito cedo é mais fácil continuar. Mas ao envolvermos muitas pessoas nas atividades culturais não podemos contar apenas com o orçamento das autarquias, mas também com o orçamento do Estado. Porque, por exemplo os nossos colegas franceses não têm os orçamentos como as comunas luxemburguesas. E temos que ter o mesmo nível de atividades culturais de um lado e do outro da fronteira.
Esch-Sur-Alzette quer ser a cidade cultural de referência no Luxemburgo?
Absolutamente! Porque vemos que muitas organizações e associações culturais no Luxemburgo que vieram para Esch, como a Culturalx e Musiquelx. Há cada vez mais gente que se interessa pela cultura no Sul. Como já disse: “Não queremos comparar-nos com a cidade do Luxemburgo, mas também podemos fazer cultura no sul do país. Acredito que podemos ser uma cidade de referência na cultura. Queremos fazer da cultura um dos pilares do nosso desenvolvimento económico e queremos tornar a cultura acessível a todos. Porque desenvolvemos exposições de uma grande qualidade. Não temos apenas alguns quadros que expomos, mas temos exposições com renome internacional. É preciso dizer que Esch-sur-Alzette é a única cidade do Luxemburgo que tem uma estratégia cultural até 2027. E a Capital Europeia da Cultura é apenas uma das peças desta estratégia.
A cultura é uma das principais prioridades para a cidade. Mas quais são os grandes desafios de futuro para a Comuna de Esch-sur-Alzette?
Nos próximos anos vamos desenvolvermo-nos com dois novos bairros: Roud Lëns com cerca de 3200 novos habitantes. Alguns anos mais tarde iremos ter o bairro Esch-Schifflange com cerca de 10 mil novos habitantes. Vamos passar de 37 mil para 55 mil habitantes, o que é um desafio enorme para gerir. Teremos que garantir as infraestruturas desportivas e culturais, mas também as redes de eletricidade, água e internet porque temos que servir todos os novos habitantes. Isto vai ser um grande desafio para a nossa cidade porque temos apenas 14,3 KM2. Faço sempre esta comparação: existe uma pequena cidade na Moselle, Flaxweiler, que tem 30 km2 e dois mil habitantes. Nós temos 14 km2 e temos cerca de 37 mil habitantes, com 135 mil nacionalidade diferentes. Num tão pequeno território que é compacto temos muitos desafios. A mobilidade é outro dos desafios, com este elevado número de habitantes mais os transfronteiriços que atravessam todos os dias Esch para ir trabalhar para a cidade do Luxemburgo. A mobilidade é um dos grandes temas do futuro. Mas também a educação, habitação e ambiente.
Também através da cultura pretendemos misturar as nacionalidades. Um dos exemplos é a Festa Nacional luxemburguesa onde muitos participam, especialmente os nossos amigos portugueses. Porque existem cerca de 11 mil portugueses em Esch.
Os portugueses representam quase um terço da população da cidade...
Cerca de 27%, o que significa que existem 11 mil portugueses que vivem e trabalham em Esch e que passam o seu tempo e fazem desporto e frequentam atividades culturais na cidade. E finalmente felizmente, este ano, voltamos a ter a Festa Nacional, porque dois anos sem esta festa foi um pouco triste. Em Junho de 2022 vamos rever todos os nossos amigos portugueses, franceses, belgas para fazermos a festa juntos e isso é uma das nossas qualidades enquanto cidade de Esch-sur-Alzette.
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Qual a importância da comunidade portuguesa para a cidade?
Estamos muito habituados a viver com os portugueses, desde muito novos. Jogamos futebol com eles, fazemos a festa com eles. Por vezes, gostava que os amigos portugueses investissem mais na nossa vida, mesmo nas eleições. Porque há muitos portugueses que não participam nas eleições. Porque os portugueses fazem parte da nossa população e da nossa cultura e porque não participarem nas eleições?