"É inadmissível este aumento galopante da pobreza no país mais rico da Europa"
Há um par de semanas, foi eleito Luxemburguês do Ano pelos espectadores da RTL. Bernard Thill, 71 anos, foi médico oncologista e o pioneiro dos cuidados paliativos no sistema de saúde nacional. Agora, é presidente dos Médicos do Mundo. E não se conforma com a desumanidade com que os líderes do seu país olham para os mais vulneráveis.
Bernard Thill tem 71 anos e é médico de profissão. © Créditos: António Pires
Desde que, em 2008, a RTL começou a pedir aos seus telespetadores para elegerem o Luxemburguês do Ano, os primeiros escolhidos foram sempre políticos, atletas ou polícias. De há uns anos para cá, sobretudo desde a pandemia, têm homenageado o setor da saúde. E agora escolheram alguém que dedica a sua vida a apoiar os mais pobres – e a garantir o seu acesso aos cuidados de saúde.
Acha que as pessoas estão mais solidárias?
Bem, devo dizer-lhe que eu nunca tinha ouvido falar deste concurso na minha vida. Soube disto porque a minha cunhada ligou à minha mulher a dizer que tinha votado em mim. A minha mulher respondeu-lhe: mas votar em quê? Então ela lá explicou que estava numa lista final de dez escolhidos para essa votação. Cinco minutos depois disso é que me ligaram da RTL a dar a notícia e a pedirem-me algumas declarações sobre o meu trabalho e a minha vida [risos]. Claro que fiquei contente, porque é um reconhecimento ao trabalho que fazemos nos Médicos do Mundo de combate à pobreza e de acesso aos cuidados de saúde. Em 1948 a ONU estabeleceu o acesso dos cuidados de saúde como um direito fundamental da Humanidade. No Luxemburgo, só no final do ano passado se começou a pôr em marcha este processo. Por isso sim, quero olhar para este tributo como um sinal de solidariedade do povo luxemburguês para com os cidadãos mais pobres do país – e com a sua falta de acesso a um direito fundamental.
Este reconhecimento dá um palco sem precedentes aos seres humanos que nos habituámos a tornar invisíveis. Acha que a perceção dos luxemburgueses sobre a pobreza mudou?
Penso que a pandemia veio mudar tudo. Desde 2020, o número de pobres disparou e o número de pessoas que nos pedem ajuda cresceu exponencialmente. Veja que há imensa gente que perdeu o emprego nestes anos. Os restaurantes fecharam, os estaleiros de obras também, e isso atirou uma multidão de trabalhadores para uma vida precária – sobretudo os que tinham contratos temporários e não puderam beneficiar de quaisquer ajudas. Então aconteceu este fenómeno: a pandemia veio abrir os olhos a toda a gente sobre uma pobreza que não está sequer registada. O Statec só no ano passado se juntou a nós para criarmos um Observatório da Pobreza e avaliar a real dimensão do problema. Dos 1500 cidadãos que apoiámos o ano passado nos Médicos do Mundo, nem um estava nas listagens do organismo nacional de estatística.
Desde 2020, o número de pobres disparou.
Mas o Statec admite que 10 por cento das pessoas no Luxemburgo estão em risco de pobreza.
São números de 2019, contabilizados antes da pandemia, e muito abaixo da realidade. Dou-lhe este exemplo: nós, nos Médicos do Mundo, apoiamos 1500 pacientes que não têm acesso a cuidados de saúde no país. E tenho a certeza que há mais do dobro de pessoas nesta situação no país, são pelo menos três mil. Apercebemo-nos disso com a pandemia, nomeadamente durante a campanha de vacinação. Olhe, vacinámos dois mil cidadãos chineses que oficialmente não existem. Não estão registados em nenhuma parte, não fazem parte de nenhuma estatística. E no entanto existem e estão a passar mal.
Várias vezes tem vindo a público falar de um crescimento galopante da pobreza no Luxemburgo. O que é que lhe vem à cabeça quando saem os relatórios que apontam este como o país mais rico da Europa?
Fico chocado. É inaceitável e é imoral. Impressionam-me histórias como a de um senhor da Sérvia que aqui apoiamos. Ele trabalha há 30 anos no país, recebeu sempre a negro, ou seja, nunca lhe foi dada sequer a hipótese de regularizar a sua situação. E, apesar de todo o esforço e trabalho que deu a este país, no momento em que tem um problema de saúde, vê-se absolutamente abandonado. É pura e simplesmente cruel.
Quem são os pobres no Luxemburgo?
Não consigo traçar o perfil de toda a pobreza, mas as pessoas que recebemos aqui dão-nos bons indicadores. São em primeiro lugar os migrantes, sem dúvida. Mas uma das coisas que verifico é que são sempre pessoas que vieram para aqui para trabalhar, para lutar por uma vida melhor. Não é raro ouvir os políticos dizerem que, se tivermos cuidados de saúde universais, vamos ter turismo médico, gente a aproveitar-se do sistema e a fazer o Estado gastar dinheiro. Mas a verdade é que só três por cento veio para o país com a perspetiva de aceder a tratamentos de saúde. São números que conseguimos estabelecer no Observatório da Pobreza.
Bernard Thill foi considerado Luxemburguês do Ano pelos espetadores da RTL. © Créditos: António Pires
Não consigo traçar o perfil de toda a pobreza, mas as pessoas que recebemos aqui dão-nos bons indicadores. São em primeiro lugar os migrantes, sem dúvida. Mas uma das coisas que verifico é que são sempre pessoas que vieram para aqui para trabalhar, para lutar por uma vida melhor. Não é raro ouvir os políticos dizerem que, se tivermos cuidados de saúde universais, vamos ter turismo médico, gente a aproveitar-se do sistema e a fazer o Estado gastar dinheiro. Mas a verdade é que só três por cento veio para o país com a perspetiva de aceder a tratamentos de saúde. São números que conseguimos estabelecer no Observatório da Pobreza.
Estamos a falar de migrantes de que origem?
Metade são europeus. Há alguns casos residuais na Europa Ocidental com portugueses e italianos, mas a maioria vem dos países de Leste, nomeadamente da Polónia e da Roménia, que são países da União Europeia. Nove por cento são luxemburgueses. E só depois vêm pessoas dos países extracomunitários. Um quarto chega do Norte de África e do Médio Oriente, outro quarto vem da América Latina e dos países subsarianos. Os brasileiros são uma das nacionalidades em grande vulnerabilidade, também.
É surpreendente que metade dos pobres no Luxemburgo sejam de países europeus, sobretudo se pensarmos que a União estabelece leis de proteção aos seus cidadãos no espaço comunitário. Como é que estas pessoas caem em situações de pobreza tão profundas?
O problema é que, neste país, para se trabalhar, é preciso ter uma morada. Se chegas da Roménia e não tens uma casa, não consegues arranjar emprego. Depois, se não tens um contrato nem uma fonte de rendimento, também não consegues encontrar lugar para viver. Então há este círculo vicioso que torna a sobrevivência impossível. Nos nossos países vizinhos, que são menos ricos do que nós, isto não acontece. Podes não ter uma morada e ainda assim pedir apoios sociais e ajuda para encontrar um emprego. No Luxemburgo, sejas ou não europeu, se não tens um endereço nem sequer podes ir ao médico se tiveres um problema de saúde. É muito grave.
Isto atira muita gente para situações de sem-abrigo?
Sem dúvida. Mas deixe-me só explicar-lhe como a situação é perversa no Luxemburgo: conhecemos famílias em que as crianças têm apoios sociais, mas os pais não – porque não têm morada. Então, se ficam doentes e têm de ir ao hospital, o mais provável que lhes pode acontecer é serem todos expulsos do país. Porque estavam em apuros e pediram ajuda.
Vamos à população sem-abrigo. Está a crescer?
O número de pessoas que apoiamos nos Médicos do Mundo tem crescido exponencialmente. Entre 2020 e 2021, aliás, duplicaram. Hoje sabemos que, entre 1500 cidadãos que nos procuram por não terem acesso à saúde, um quarto não tem qualquer teto. Mas há 56 por cento de pessoas que nos dizem ter uma residência temporariamente e 15 por cento que vivem em residências onde correm perigo – estamos sobretudo a falar de mulheres vítimas de violência doméstica. Só dez por cento têm um teto sob o qual dormir.
O Estado está a combater ativamente estes fenómenos?
O ano passado, dirigimo-nos aos principais partidos políticos luxemburgueses para sensibilizá-los para estes assuntos da pobreza e do não acesso aos cuidados de saúde. O nosso principal pedido é que seja aprovado na lei a CUSS – Cobertura Universal aos Cuidados de Saúde, um projeto que cinco organizações não-governamentais, os ministérios da Saúde e da Solidariedade estão a preparar para sinalizar os cidadãos em exclusão e inseri-los no sistema de apoio médico. Sabemos que este governo está finalmente a preocupar-se com o assunto, mas também sabemos que há eleições legislativas em outubro e uma mudança de governo pode por em risco a aprovação de uma lei que é urgente e fundamental. Temos agora a garantia de todos os partidos de que vão aprovar este projeto.
Até da ADR, que é um partido da direita radical e anti-imigração?
Ah, com esses não nos demos ao trabalho de ir sequer falar. Já sabemos o que eles pensam sobre os direitos dos migrantes e das pessoas vulneráveis.
Um imigrante não é ilegal. Nenhum ser humano é ilegal.
Esta subida um pouco por toda a Europa dos partidos de extrema-direita, que se pronunciam contra a imigração e o Estado Social, inquieta-o?
Inquieta-me muito. A vitória de um partido destes seria uma catástrofe que não quero sequer imaginar. Aqui no Luxemburgo temos aliás a obrigação de olhar para estas pessoas, perceber onde elas estão e o que estão a viver. Construir barreiras artificiais para os impedir de chegarem aqui não é solução para coisa nenhuma. Olhe, uns dias antes do Natal fui convidado para um debate em Esch que se chamava “Europa: caos ou Esperança?”. Convidaram o Jean-Claude Juncker, também. Ele falou a determinada altura da imigração ilegal e perguntei-lhe o que é que ele entendia por imigração ilegal. Respondeu-me que eram as pessoas que chegam de barco à Europa, pagando fortunas a passadores para os trazerem até aqui. Eu eu respondi-lhe que, se eu tivesse 25 anos, fosse pobre e vivesse num país como o Afeganistão, não encontrasse nem tivesse perspetivas de encontrar trabalho, faria tudo o que estivesse ao meu alcance para me meter num desses barcos. E se calhar até pagar a um passador para me trazer para aqui. Imigração ilegal não existe. Pode haver imigração irregular, mas um imigrante não é ilegal. Nenhum ser humano é ilegal. Juncker não me respondeu.
É como se falar de imigração ilegal fosse um processo de desumanização, que torna as pessoas invisíveis…
Exato, porque assim não precisamos de vê-las, nem de ouvi-las. Deixe-me contar-lhe outra história, que aconteceu por alturas da Schueberfouer. Há uma confraria na capital que se chama O Peixe de Ouro e que reúne os antigos burgomestres da capital e alguns responsáveis técnicos da feira. Todos os anos, eles contribuem com donativos para algumas organizações não-governamentais e este ano os Médicos do Mundo foram uma das três associações contempladas. Então fui convidado para o jantar e o Xavier Better, que foi antigo burgomestre e é o nosso atual primeiro-ministro, veio cumprimentar-me e disse-me: “Sim, Dr. Thill, o que você faz não está mal, mas o que está a fazer é apoiar pessoas que chegam a este país de forma ilegal. E para essa gente eu não tenho dinheiro.” Foi isto que o primeiro-ministro me disse, palavra por palavra. “Para essa gente eu não tenho dinheiro.”
O que é que respondeu a Xavier Betttel?
Fiquei de tal forma chocado que não consegui responder nada.
Acha que a perceção da imigração ilegal é a de gente que não tem valor nem trabalha?
Nos Médicos do Mundo temos casos de pessoas que não têm casa mas têm carro – e é lá que dormem todos os dias para poderem a ir trabalhar. São normalmente pessoas que têm trabalhos temporários, pagam impostos e são cobertos pelos seguros de saúde nas horas em que estão no emprego. Mas depois o Estado demite-se completamente deles a partir do momento em que saem do trabalho, ou aos fins de semana [fica uns segundos em silêncio]. Há pouco também lhe contei de um homem que deu 30 anos de trabalho a este país – a negro e sem qualquer segurança. Quando caiu em doença por causa da Covid-19, viu-se completamente entregue à sua sorte.
O presidente da ONG Médicos do Mundo é médico oncologista e pioneiro dos cuidados. paliativos no sistema de saúde nacional. © Créditos: António Pires
Os Médicos do Mundo foram fundados há dez anos no Luxemburgo e o Bentrand Thill é presidente há ano e meio. Como é que a sua associação tem mudado e o que é que isso diz sobre o Grão-Ducado?
Bem, como lhe disse há pouco, o número dos pacientes que atendemos em 2021, comparando com 2020, duplicou. Desde que abrimos portas, em 2013, há cinco ou seis vezes mais pessoas a precisarem da nossa ajuda. Quando comecámos, oferecíamos uma consulta semanal em Bonnevoie, agora estamos abertos todos os dias na capital e duas vezes por semana em Esch. Também oferecemos consultas específicas para mulheres. Semanalmente, temos equipas de rua no Luxemburgo a percorrer os bairros onde há gente na rua em estado vulnerável e neste momento sentido a necessidade de alargar esse projeto à segunda cidade do país. O aumento dos cuidados que providenciamos é um claro sinal de um aumento brutal da pobreza neste país.
Mas a região mais pobre do país é o Norte – Wiltz, por exemplo, é a comuna com maior índice de pobreza em todo o Luxemburgo. Não faz sentido estender o trabalho dos Médicos do Mundo às zonas mais isoladas?
Faz todo o sentido, claro. Há alguns anos que discutimos isso internamente e temos a ideia de criar uma unidade móvel que se possa dirigir a estas regiões menos habitadas do país. Não estou certo que isso sirva todas as necessidades da população do Norte, mas queremos falar este ano com as comunas desta zona para perceber a melhor estratégia. Mas temos consciência de que há muitas necessidades no Norte. O facto dos transportes públicos serem gratuitos ajuda a que haja mais gente a vir procurar-nos, mas percebemos que há muitas necessidades regionais e decidimos que, sim, este ano teremos de avançar para Norte.
Os Médicos do Mundo têm mais vocação para prestar cuidados continuados do que resolver urgências. Como é que uma pessoa em situação de emergência médica acede ao socorro neste país?
Se alguém sem papéis chegar a um hospital numa situação aflitiva, será atendida, claro. O que se passa é que os hospitais podem depois chamar a polícia, e se a pessoa for identificada numa situação irregular, pode ver-se obrigada a abandonar o país. Esta política é um grande problema que temos no Luxemburgo e que não acontece noutros países europeus. Mas o que acaba por acontecer é que os hospitais dispõem de uma certa autonomia. Há uns anos houve uma enfermeira do serviço de urgência na capital que chamou as autoridades quando percebeu que um paciente tinha chegado sem papéis. Foi um caso mediático na altura. O diretor do Hospital acabou por se colocar do lado do paciente quando percebeu a desumanidade que estava a acontecer na sua instituição. Desde esse dia, nunca mais a polícia foi chamada naquela instituição de saúde: E acredito que o mesmo aconteça na maioria dos hospitais do país.
Perante uma lei cruel, há quem prefira desrespeitá-la para preservar a humanidade. Mas o problema não é a lei ser cruel à partida?
Claro. Há por exemplo muitas mulheres que chegam sem papéis porque os seus companheiros lhe retiraram a possibilidade de se regularizarem e vivem em situações de perigo real. Houve um caso há pouco tempo de uma brasileira que foi apresentar queixa por violência doméstica e a polícia enviou-lhe uma ordem de expulsão do Luxemburgo porque estava irregular. O que é que é mais grave, que ela esteja aqui sem papéis ou que ela esteja a ser agredida e espancada? Temos de mudar a lei, temos de permitir que as pessoas que não têm morada possam ter direito ao apoio social e à saúde. Façamos como em França – se a pessoa não tem morada, a comuna dá-lhe uma. O que não pode continuar a acontecer é esta desumanidade.
A sociedade preferia que os pobres fossem invisíveis, mas a pandemia foi uma forma de finalmente falarmos sobre eles.
Com uma crise energética e uma guerra relativamente próxima sente que essa desumanidade aumenta?
Sim, até porque a pobreza aumenta. Como falámos há pouco, a sociedade preferia que os pobres fossem invisíveis, mas a pandemia foi uma forma de finalmente falarmos sobre eles. O governo mandou toda a gente ficar em casa. Mas então e para onde é que mandamos quem não tem casa? Durante o confinamento, tínhamos seis pessoas sem-abrigo com doenças prolongadas e que precisavam urgentemente de um teto. Se ficassem na rua, morriam. Fiz mais de 25 chamadas na tentativa de encontrar um espaço nas comunas, ou nas instituições religiosas, ou de apoio social, que pudessem albergar estas pessoas. Ninguém, absolutamente ninguém tinha espaço para eles. Então, entre março e dezembro de 2020, pegámos nos fundos da associação e tivemos de alugar-lhes quartos no Ibis do Findel, que estava aberto por causa dos pilotos da CargoLux, os únicos que continuavam a operar. Pagávamos 130 euros por noite por cada paciente. Mas o que é que íamos fazer? Como luxemburguês não posso permitir que alguém morra nas ruas do meu país. Recuso-me. Hoje, felizmente, temos uma casa para cuidados continuados em Esch, é pago pelo hospital da cidade e que tem o apoio do ministério da Saúde. Devo dizer-lhe que, sem ela, continuaríamos nesta situação. Felizmente, a ministra é uma pessoa interessada pelas questões sociais. O ideal seria agora ter em cada hospital do país um anexo para acolher os que estão em situação irregular e precisam de cuidados continuados. Em média, a população sem-abrigo vive menos 20 anos do que a população geral.
A questão dos cuidados continuados é-lhe particularmente cara. O Dr. Thill é especialista em oncologia e foi o pioneiro dos cuidados paliativos do país. Como é que um médico decide tornar-se oncólogo, sabendo à partida que vai perder a maioria das batalhas?
Eu sou filho de um agricultor. Pensei tornar-me engenheiro agrónomo, mas o meu pai motivou-me a seguir outro caminho e hoje estou francamente contente que ele o tenha feito. Eu sabia que queria explorar a dimensão humana neste trabalho. Em 1981, na Alemanha, estava em medicina interna e confrontei-me pela primeira vez com doentes com cancro. Ali, eu percebi que o sofrimento era real e que aquelas pessoas precisavam de mim. Dificilmente há especialidade médica onde o contacto com o ser humano seja tão importante. É duro acompanhar quem está a sofrer, mas é precisamente por isso que me senti impelido a não deixar estas pessoas sozinhas ou em dor no fim da vida. O meu combate, na oncologia ou nos Médicos do Mundo, é contra o sofrimento e o abandono. Uma vez uma mulher canadiana disse-me: “Quando não há mais nada a fazer, começa tudo o que temos para fazer.” E é isso.