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A nova vida das ucranianas acolhidas por família portuguesa no Luxemburgo

Três mulheres – avó, mãe e filha – que fugiram da guerra na Ucrânia chegaram ao Luxemburgo na passada quinta-feira. Estão na casa da família luso-romena que as acolheu, em Rumelange. “Dizem que parece que estão cá há meses”, contou Liliana Madeira Grigor, revelando que as refugiadas estão bem e contentes por terem chegado ao novo país.

A família de ucranianas que escapou da guerra para o Luxemburgo: a mãe, de 29 anos, a filha, de cinco, e a avó, de 52.

A família de ucranianas que escapou da guerra para o Luxemburgo: a mãe, de 29 anos, a filha, de cinco, e a avó, de 52. © Créditos: DR

Jornalista

Depois de seis dias de viagem e mais de 2600 quilómetros de estrada para fugir da guerra, a família de ucranianas – a avó, de 52 anos, a filha, de 29, e a neta, de cinco – finalmente chegou ao Luxemburgo.

No segundo dia da invasão russa, as três mulheres abandonaram a sua cidade, Zaporizhzhya, e fizeram mais de mil quilómetros até Dołhobyczów-Kolonia, na fronteira polaca. Lá encontraram Gavin, um inglês de 43 anos que se voluntariou para as ir buscar de carro e trazê-las para o Grão-Ducado.

Elas estavam a sorrir. Fiquei contente por vê-las a sorrir. A menina estava cheia de energia.
Liliana Madeira Grigor

As refugiadas ucranianas chegaram à casa da família Grigor, em Rumelange, na passada quinta-feira. À sua espera estavam Liliana e Ioan, com os três filhos – um menino, de oito anos, e duas meninas, de cinco e três anos. “Eram cerca de 17h30. Vi na janela que o carro tinha chegado. Elas estavam a sorrir. Fiquei contente por vê-las a sorrir. A menina estava cheia de energia”, contou a portuguesa, de 31 anos. Ela e o marido, romeno, de 34, decidiram acolher as três mulheres e ajudá-las a integrar-se na comunidade luxemburguesa.

O casal disse que a receção “correu bem” e que as refugiadas estavam bem de saúde, apesar de alguma apreensão inicial. “Elas estavam contentes por terem chegado, mas demoraram algum tempo a entrar e a deixar as coisas. Olhavam… é uma sensação estranha, chegar a uma casa onde não se conhece as pessoas, não se conhece nada, nem o país. Houve uma certa demora até entrarem e se acomodarem”, explicou Liliana.

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No início, uma das principais dificuldades foi a comunicação, mas eles foram “desenrascando”. As refugiadas só falam russo e ucraniano e a família de Liliana fala português, romeno e francês. O casal falou com uma mulher ucraniana que vive em Esch e foi lá a casa para ajudar a traduzir. “Elas estavam com medo, porque eram muito controladas na Ucrânia. Ainda não se sentem seguras, continuam com aquele medo de que a qualquer momento alguém vai aparecer para levá-las ou que vai acontecer alguma coisa. Ainda estão em pânico”, explicou a portuguesa.

Gavin, o homem que transportou as ucranianas, também ficou um pouco lá em casa da família Grigor. “A menina estava dentro de minutos a brincar e a conversar com os filhos da Liliana. Ela estava a fazer comida para todos. Deu-me um pouco de frango para provar e estava delicioso”, recordou o inglês. “Pouco tempo depois, fui embora e deixei-as no novo lar. Chegar e terminar esta viagem foi um momento emocional para elas. Espero vê-las de novo daqui a uma ou duas semanas. A Liliana sugeriu um almoço com todos”.

Estava muito cansado, mas recupero dentro de um dia ou dois. As minhas passageiras tiveram uma viagem muito mais longa, mais perigosa, para um futuro incerto.
Gavin

Gavin não ficou para jantar. Tinha de voltar ao trabalho no dia seguinte e precisava de descansar depois de cinco dias de viagem e mais de 3000 quilómetros na estrada. “Estava muito cansado, mas recupero dentro de um dia ou dois. As minhas passageiras tiveram uma viagem muito mais longa, mais perigosa, para um futuro incerto. Estou contente por ter podido ajudá-las numa parte dessa viagem”, assumiu o inglês.

Um dicionário improvisado

© Créditos: DR

À mesa ficaram Liliana, Ioan e os filhos, com as três mulheres. “Jantamos todos juntos, comemos canja de galinha, para ser algo mais quente e aconchegante. Depois fiz uns panados de frango, que se usam muito na Roménia, com puré”, revelou a portuguesa.

No dia seguinte, o casal levou as ucranianas para “tratar dos papéis da chegada” e comprar as coisas que precisavam, como roupa. Elas tiveram de preencher um formulário com alguns dados pessoais que depois é enviado para um endereço eletrónico do Ministério dos Negócios Estrangeiros (immigration.desk@mae.etat.lu). “Pediram para esperarmos, mas ainda não disseram nada. Continuamos à espera de algum contacto do Estado”, revelou a portuguesa.

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Agora, as ucranianas “estão a adaptar-se à nova vida”. No fim de semana, a família Grigor levou as três mulheres a passear. “Já fui com elas às lojas. Têm saído todos os dias para passear. Dizem que parece que já estão cá há meses. É muito bom ouvir isso”, confessou Liliana. “O mais importante é que o Estado as ajude, para a menina poder ir para a escola e as mulheres poderem trabalhar. Nós não temos nada para elas poderem ir ao médico. A menina ainda tem um bocado de tosse”.

Elas compraram lã e tricotam muito. Fizeram coisas muito bonitas, como bandeletes, gorros, camisolas. E também ensinaram os nossos filhos a tricotar.
Liliana Madeira Grigor

A família Grigor recebeu a ajuda da associação portuguesa “Amigos Emigrantes no Luxemburgo”, em Esch, que lhes deram um saco com “algumas coisas”. “Elas vão lá escolher roupas e ver o que é que precisam. Foi muito importante essa ajuda”, realçou Liliana.

Entretanto, as ucranianas também vão fazendo a sua própria roupa. “Elas compraram lã no sábado e tricotam muito. Fizeram coisas muito bonitas, como bandeletes, gorros, camisolas. Elas também ensinaram os nossos filhos a tricotar”.

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A relação da menina ucraniana de cinco anos e os filhos de Liliana e Ioan “tem sido muito engraçada”. “A menina está cheia de energia, brinca muito, ri muito, fala muito. Fala connosco como se a percebêssemos”, contou a portuguesa.

O filho mais velho, de oito anos, fez um dicionário com as palavras em russo que “vai apanhando” e escreve-as em português. “Continuamos a usar o tradutor e falamos um pouco inglês, coisas básicas que elas conseguem perceber. Às vezes também dizemos algumas coisas básicas em russo que vamos aprendendo”, revelou Liliana.

As três ucranianas estão a dormir juntas num quarto adaptado que o casal luso-romeno usava como escritório. A casa tem três andares e o primeiro ficou reservado para as refugiadas, com quarto, duche e casa de banho. No segundo está a sala de estar e cozinha e no terceiro os quartos do casal e dos filhos.

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As ucranianas já vão começando a fazer as suas refeições. “Às vezes comem connosco, outras vezes comem só elas. Agora temos de ir com elas às compras, porque temos usado o que temos em casa. Depois de irmos às compras elas já podem ter as próprias coisas”, disse Liliana.

Nos primeiros dias, as refeições foram “comidas mais leves e sopa” e “muito chá”, devido à longa viagem que as refugiadas fizeram. “Agora estamos a voltar ao normal”, afirmou a portuguesa, revelando que também já falou com o marido da mulher mais velha. “Falamos um pouco por videochamada. Não consegui perceber muito do que ele disse, apenas a palavra ‘obrigado’. Ele parece estar bem. Ainda está em casa na Ucrânia”. Pronto para defender o seu país. E um pouco mais descansado por saber que a sua família está bem e em segurança.

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