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Ambientalistas europeus

Venda do petróleo russo à Europa "está a financiar a guerra"

A organização europeia sem fins lucrativos Transport & Environment (T&E) apela a um "embargo global ao petróleo russo" na sequência da invasão militar da Ucrânia. E considera que ainda é possível e viável reduzir a dependência europeia do 'ouro negro' russo.

© Créditos: Guy Jallay/Luxemburger Wort

O problema não é tanto o gás natural mas sim o petróleo russo que estão a causar grande impacto na dependência energética da UE e no consequente aumento dos preços da energia. A conclusão é da organização sem fins lucrativos Transport & Environment (T&E) num relatório divulgado esta terça.

Segundo os dados, um quarto das importações do 'ouro negro' em toda a UE são provenientes da Rússia. Mais. Segundo, de acordo com a associação ambientalista europeia, Vladimit Putin encaixa diariamente cerca de 261 mil milhões de euros da UE pela compra de petróleo russo. "Mesmo quando Putin faz a guerra no seu próprio quintal", considera o diretor-executivo William Todts no comunicado de imprensa divulgado no site.

De tal forma que a T&E apela mesmo a um "embargo global ao petróleo russo" na sequência da invasão militar da Ucrânia a partir de 24 de fevereiro. Apesar da tendência de subida já antes da guerra, o conflito tornou a escalada de preços da energia ainda mais intensa com os Governos europeus a tentarem travar o impacto no bolso dos cidadãos.

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Segundo as contas da associação o montante total das exportações de petróleo bruto russo para a Europa e Reino Unido em 2021 foi de 88 mil milhões de euros. Um montante muito acima dos 37 mil milhões de euros das compras de gás natural russo.

"O gás é de facto uma preocupação, mas é o petróleo que está a financiar a guerra de Putin. Confiar nele deixa os europeus perigosamente expostos ao aumento dos preços num mundo cada vez mais incerto. Qualquer estratégia de segurança energética que ignore o petróleo não vale o papel em que está escrito", considera o diretor-executivo da associação ecologista.

E se no cômputo geral da UE a dependência russa é elevada, há variações entre os países. Entre os Estados europeus que mais importam o 'ouro negro' russo estão a Alemanha, Polónia e Holanda. Já na cauda, menos dependentes, estão o Luxemburgo, Lituânia, Malta e Eslovénia, revelam os dados relativos a 2021 compilados pela associação ecologista.

Apesar de estimar que um quarto das exportações de petróleo em toda a UE são provenientes da Rússia, a T&E considera esta dependência "significante, mas não é intransponível".

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E explica que tal dependência é possível reduzir a curto prazo. "Ao contrário do gás, a maioria das importações de petróleo para o bloco são feitas através de petroleiros e portos. Entre apenas 4% e 8% dos fornecimentos de petróleo da Europa vêm através de oleodutos russos - até 30% do total das exportações petrolíferas russas para a Europa - o que significa que a curto prazo é possível abastecer-se de petróleo noutros locais", refere a T&E.

Já a longo prazo, terá de haver uma estratégia mais concertada da UE já que a substituição de petróleo russo pelo saudita, por exemplo, não resolverá o problema de fundo: a dependência de combustíveis fósseis.

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Mais teletrabalho e dias sem carros para reduzir dependência

A T&E apela, assim, a medidas de preparação para uma possível rutura do mercado petrolífero, incluindo o aumento dos dias de teletrabalho e dos dias sem carros, bem como o redirecionamento dos fundos europeus para impulsionar a compra em massa de veículos elétricos.

A melhoria da eficiência dos transportes e à aceleração da eletrificação deste setor também são importantes para reduzir o consumo de petróleo e evitar a dependência das importações russas.

(Com Agência Lusa)