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Indústria automóvel

Todos os carros serão elétricos em 2035? Alemanha consegue marcha atrás

Ao fim de três semanas de pressão, Berlim conseguiu de Bruxelas a exceção que queria.

© Créditos: Marijan Murat//dpa

Jornalista

Pressionado pelo lóbi da indústria automóvel, o Governo alemão conseguiu reabrir uma lei já finalizada pelo Parlamento Europeu. Em 2035 ainda vão fabricar-se carros com motor de combustão - se usarem combustível sintético.

Depois de uma proposta da Comissão de acabar com a produção de carros com motores de combustão (com gasolina e gasóleo) na UE em 2035, e de o Parlamento Europeu ter dado o carimbo final, a Alemanha fez finca-pé na revisão da lei.

E, no passado domingo, a Comissão Europeia finalmente concordou em acolher as ideias do país que é o maior fabricante europeu de carros, a que se juntaram na pressão países como a Itália e a Eslováquia.

A proposta foi aprovada esta terça-feira pelos ministros europeus dos transportes e permite uma exceção. Em 2035, todos os carros novos no território da UE têm de ser elétricos, ou então terem um motor que ainda pode ser de combustão, mas apenas se usarem combustível sintético com zero emissões poluentes.

"Chegámos a acordo com a Alemanha sobre o uso futuro de combustíveis sintéticos nos carros", escreveu no Twitter o comissário responsável pelo Pacto Ecológico Europeu, Frans Timmermans. "Iremos agora esforçar-nos pela adoção o mais depressa possível da regulação sobre emissões de CO2 dos automóveis", acrescentou.

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Uma marcha-atrás mal vista

O diploma sobre a venda de carros exclusivamente elétricos em 2035 já tinha sido acordado em outubro entre os Estados-membros (incluindo pela Alemanha) e o Parlamento Europeu e fora aprovado em plenário pelos eurodeputados há pouco mais de um mês. Portanto, faltava apenas ser publicado para entrar em vigor. Mas pouco depois, o chanceler alemão Olaf Scholz pressionou os colegas do Conselho para abrir uma exceção na diretiva.

A marcha atrás no processo legislativo imposta pela Alemanha foi mal recebida por vários políticos europeus, incluindo pela presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, que considerou que isto prejudicava a confiança dos cidadãos nos seus legisladores.

No entanto, ao fim de três semanas de pressão, Berlim conseguiu de Bruxelas a exceção que queria. No final do dia de domingo, a Comissão aceitou introduzir no diploma a proposta do uso de combustíveis de síntese não poluentes nos carros vendidos a partir de 2035 – prolongando assim a vida do motor de combustão.

A questão que tem sido levantada é que esta tecnologia – que consiste em produzir carburante a partir de emissões industriais de CO2 - ainda está em desenvolvimento. E é contestada pelas organizações ambientais que consideram que resta provar se elas não consomem demasiada energia no seu fabrico e se não são, de facto, poluentes.

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Por outro lado, a tecnologia dos automóveis elétricos está a ser desenvolvida a um ponto que em 2035 serão mais baratos do que uma futura tecnologia de combustíveis sintéticos ainda por criar. Ao semanário alemão Der Speigel, Markus Duesman, o patrão da Audi (do grupo alemão Volkswagen), referiu que os combustíveis de síntese "não terão um papel importante a médio termo no segmento das viaturas particulares".

A indústria automóvel já investiu em massa na tecnologia elétrica, antecipando o 'boom' da sua procura – uma explosão que a Agência Internacional de Energia considera que será o fator que vai determinar a queda nos próximos anos das emissões de gases para a atmosfera.