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Crise energética

Europa sobreviveu ao inverno e encheu tanques. Mas poupar 15% no gás é para manter

Os países da UE querem um próximo inverno com segurança energética. Esta terça-feira aprovaram a extensão da medida de poupança voluntária que evitou que Putin pusesse a Europa a passar frio.

© Créditos: AP

Jornalista

Os ministros da Energia da União Europeia perceberam que a medida de poupar gás, para fazer face a um fornecimento imprevisto em face da guerra da Ucrânia, foi uma das boias de salvação deste inverno. Por isso, decidiram no Conselho de ministros desta terça-feira que, em face de um próximo inverno desconhecido, a medida não deveria acabar agora e deveria ser prolongada até 31 de março de 2024. O objetivo é que os países poupem 15% no seu consumo de gás natural relativamente à média dos cinco anos anteriores.

“Temos agora uma situação mais estável, com menos volatilidade de preços comparada com a situação do ano passado, mas a EU ainda não está fora da crise energética”, disse esta tarde Ebba Busch, ministra sueca da Energia, e responsável pela organização do conselho em nome da presidência sueca da UE.

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Entre agosto de 2022 e janeiro deste ano, o consumo de gás na União caiu 19,3%, salientou Ebba Busch. “Reduzir o consumo de gás possibilitou garantir segurança e baixar os preços. É importante mantermo-nos resilientes e o acordo de redução coordenada foi crucial”, disse a ministra sueca. E será preciso para um próximo inverno ainda imprevisível – não se sabendo se continuará a situação energética global provocada pela invasão da Ucrânia – manter o objetivo de armazenamento dos reservatórios europeus a 90 % antes do início da estação. “E para isso é necessário mantermos as metas de poupança de 15%”, salientou.

O próximo inverno parece tranquilo

A mensagem que a comissária europeia de Energia deu na tarde desta terça-feira, ao final da reunião dos ministros da Energia em Bruxelas, é que no que diz respeito ao gás “o panorama para o próximo inverno é muito positivo”. Segundo Kadri Simson, as várias medidas de emergência que foram tomadas há um ano – quando se temia um blackout iminente e os preços disparavam - fizeram efeito e neste momento há “liquidez no fornecimento de gás na UE”. Não só porque o consumo baixou, com a medida coordenada de reduzir 15%, como se diversificou fornecedores.

“Os fluxos da Noruega aumentaram de 10 bcm (milhões de metros cúbicos) no inverno anterior para 90 bcm [neste inverno], fazendo da Noruega o nosso mais importante fornecedor de gás”, disse a Kadri Simson. Também o fornecimento de LNG, o gás natural liquefeito (transportado por navio) aumentou de 80bcm em 2021 para 135bcm neste inverno.

Os Estados-Unidos tornaram-se (após o corte de transferências de gás natural vindo da Rússia) o maior fornecedor da União Europeia. Neste momento, avançou Kadri Simson, estão a ser construídos mais quatro terminais de LNG na União.

"É preciso passar das medidas de emergência para medidas estruturadas"

Neste momento, “o armazenamento de gás nos depósitos da UE está em 55%, um nível não só muito mais alto que no ano passado, mas ainda mais alto que o nível histórico”. O que significa que após o pânico inicial, a UE “acabou, por isso, o inverno numa situação inesperadamente melhor”, disse Kadri Simson.

Mas, avisou também a comissária, é preciso olhar para o futuro com cautela: “Tenho repetido o meu aviso de que só ganhámos a primeira batalha”. Com a continuação da poupança de 15% prolongada por mais doze meses, a Comissão espera salvar 60bcm de gás natural até abril de 2024.

Além destas medidas de continuação do estado de emergência, o Conselho de ministros de Energia desta terça-feira discutiu pela primeira vez a proposta de revisão do mercado de eletricidade europeu. “É preciso passarmos das medidas de emergência para medidas estruturadas para tornar a Europa mais resiliente e preparada para uma transição para as energias renováveis”.

A revisão do mercado de eletricidade – que tem sido uma ambição dos países da UE – será uma das prioridades da presidência sueca, disse esta tarde Ebba Busch.