Estarão os bancos luxemburgueses preparados para sobreviver a uma crise?
LSAP justifica a necessidade de levar o tema à Câmara dos Deputados face à instabilidade bancária recente nos EUA e na Suíça e ao peso do setor financeiro no Luxemburgo.
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Os socialistas querem discutir no parlamento a resiliência dos bancos luxemburgueses, e também europeus, depois da falência do Silicon Valley Bank nos EUA, e da instabilidade no Credit Suisse.
O grupo parlamentar justifica a necessidade de levar o tema à Câmara dos Deputados face, não só, à conjuntura internacional, mas também ao peso do setor bancário e financeiro no tecido económico do Luxemburgo.
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"A falência do Silicon Valley Bank causou uma agitação generalizada nos mercados financeiros, atingindo duramente o segundo maior banco suíço em termos de volume de depósitos. Apesar da turbulência nos EUA e nos bancos europeus, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu, a 16 de março, aumentar as taxas de juro", contextualiza o pedido do LSAP, apresentado esta quarta-feira. Face a esta situação, o partido pretende abordar, na próxima sessão pública no parlamento, "várias questões relacionadas com a resiliência do sector bancário europeu e luxemburguês num ambiente marcado pelo rápido aumento das taxas de juro".
Mundo de olhos postos na decisão da Reserva Federal dos EUA
O pedido do LSAP é apresentado no dia em que todas as atenções estão viradas para a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), que decide esta quarta-feira se avança para o aumento das taxas de juro. A questão está em decidir se deve continuar a aumentar a sua taxa de referência para conter a inflação elevada ou conter essa subida para evitar aumentar a instabilidade bancária.
"A experiência de quase morte do setor bancário nas últimas duas semanas deveria fazer com que os responsáveis da Fed fossem mais comedidos", disse Steve Englander, economista do Standard Chartered e antigo economista da Fed, citado pela AFP.
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A hipótese de uma subida moderada, de um quarto de ponto percentual, ou seja 25 pontos base, deverá ser a adotada pela entidade financeira americana.
As falhas dos bancos regionais norte-americanos Silicon Valley Bank (SVB), Signature Bank e Silvergate geraram uma onda de preocupação. Governos, bancos centrais e reguladores intervieram com urgência para tentar restaurar a confiança e evitar o contágio no setor financeiro. Mas o banco suíço Credit Suisse, que já estava em dificuldades há anos, acabou por não resistir e foi comprado no domingo pelo também suíço UBS.
Em poucos dias, a Fed emprestou cerca de 164 mil milhões de dólares aos bancos americanos, para que todos os clientes que quisessem levantar o seu dinheiro o pudessem fazer. Também avançou, segundo a AFP, 142,8 mil milhões às duas entidades criadas pelos reguladores americanos para substituírem o SVB e o Signature Bank.
Depois da reunião desta quarta-feira, o presidente da Fed, Jerome Powell, fará conferência de imprensa, em que "reconhecerá os riscos para o setor bancário, mas argumentará que a ameaça está contida", afirma Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macreconomics, citado pela agência francesa.
O economista adverte, contudo, que "qualquer subida de taxas hoje seria um erro", lembrando que "não podemos ter a certeza de que as ameaças ao sistema bancário já tenham passado".
Subida rápida das taxas terá contribuído para a queda dos bancos
De acordo com a análise da AFP, a queda dos dois bancos foi impulsionada pelos aumentos das taxas da Fed, que subiram a um ritmo que não era aplicado desde o início dos anos 80, quando os EUA tiveram uma inflação muito elevada.
De um intervalo de 0 a 0,25% há um ano, as taxas passaram agora para um intervalo entre os 4,5% e os 4,75%.
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O organismo, que funciona como banco central dos EUA, está sob maior pressão, uma vez que o seu homólogo europeu, o BCE, aumentou as taxas em 0,50 pontos percentuais na passada quinta-feira, afirmando que não comprometeria entre estabilidade de preços e estabilidade financeira.
A presidente da instituição europeia, Christine Lagarde, reiterou esta quarta-feira, que o BCE não se comprometeu em aumentar as taxas de juro ainda mais, nem em terminar com os aumentos.
Numa conferência com observadores do BCE em Frankfurt, Lagarde afirmou que "com a incerteza elevada, é ainda mais importante que o ritmo dos movimentos das taxas de juro seja dependente dos dados".
"Isto significa, 'ex ante', que não estamos comprometidos em aumentar ainda mais as taxas, nem terminámos com os aumentos das taxas de juro", sublinhou, citada pela Lusa.
A responsável do BCE acrescentouque há ainda "algum caminho a percorrer para assegurar que as pressões inflacionistas sejam reduzidas".
(Com AFP e Lusa)