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Entrevista

Zicky Té. O melhor do mundo do futsal

Aos 21 anos, é a estrela do futsal. O agora campeão do mundo e melhor jogador do Europeu estreou-se nos golos com ténis rotos e apertados. Mas, à janela do seu quarto, já se imaginava a brilhar no ringue. Da Guiné para o Sporting, eis a história do miúdo que tem um lema: 'Só respondo com trabalho'.

© Créditos: Rodrigo Cabrita

Fonte: Redação

(Ana Sofia Fonseca)

"Zicky Té! Zicky Té!". Como é ter um estádio inteiro a gritar o nosso nome?

É muito bom! É um orgulho, principalmente por todo o trajeto que tenho feito e por ter chegado a este nível. É uma valorização do nosso trabalho.

É um sonho?

É um sonho, sim. Já foi imaginação, cheguei a sonhar com esse momento. Não sabia que ia ser assim, mas ouvir o pavilhão todo a gritar o meu nome mostra o carinho que as pessoas têm por mim e mostra que vale a pena.

Quando é que ouviu gritar o seu nome com mais força?

Na Argentina, há pouco tempo, na Finalíssima. Eu nunca tinha ido à Argentina, nem sabia como é que o futsal era visto por lá e chegar e ter toda a gente a gritar o meu nome e tantos argentinos a torcer por Portugal foi algo que nunca tinha imaginado.

Ser campeão do mundo é experiência que não se esquece?

Nunca, nunca.

Como é que foi o momento da vitória?

O Pany [Pany Varela] está sempre a dizer que só vamos cair em nós quando arrumarmos as botas e não pudermos jogar mais futsal. Agora, somos máquinas competitivas – ganhamos um jogo e estamos logo a pensar em ganhar outro. Para nos mantermos neste nível tão elevado, tem de ser assim.

Mas o momento em que se ouviu a buzina e percebemos que tínhamos sido campeões do mundo foi inesquecível… Lembro-me de ver um jogador no chão, a gritar, com as mãos na cabeça: "Fomos campeões do mundo!". A malta toda a correr à volta do campo, a nossa família ali a chorar por nós… [Portugal] campeão do mundo pela primeira vez e, ainda por cima, nós a fazermos parte dessa história… É indescritível.

© Créditos: Rodrigo Cabrita

Melhor jogador do Europeu 2022. Melhor jogador jovem do Mundo 2021. Tem um poster gigante ao lado da cama a lembrar-lhe tamanhas conquistas e, em cima da cabeceira, um sem fim de medalhas. Foi só para o Instagram ou é mesmo assim?

É mesmo assim. É estranho dizer "quando era mais novo" porque ainda só tenho 21 anos, mas, antes de ser sénior, ficava na janela do quarto a sonhar o futuro... a imaginar como seria quando chegasse à equipa principal, a pensar em tudo o que poderia acontecer, no que queria que acontecesse... Agora, olhar para aquele poster, para as medalhas… Fiz questão de meter aquilo no meu quarto porque, ainda antes de ter estas conquistas, eu olhava para a parede vazia e imaginava-a assim. Mal tive oportunidade de o fazer, foi como se tivesse um déjà vu das coisas que eu imaginara.

Pôs o sonho à cabeceira.

E ainda vamos à procura de mais.

Ficava à janela a sonhar o futuro?

Aconteceu muitas vezes. Ficava a imaginar, por exemplo, a conquista da Champions e dizia à minha namorada: "Está ali a minha estrela a olhar por nós". Quando estou à janela, costumo dizer à minha namorada: 'Estas são as minhas estrelas da sorte, um dia, vão guiar-me a coisas boas'.

O sorriso fácil e luminoso, os dedos esguios. Procurar vitórias é o que mais faz desde criança. A esfolar-se no ringue e a olhar as estrelas no céu. Tem o hábito de se pôr à janela do quarto, num oitavo andar de Santo António dos Cavaleiros. Cola o olhar e o pensamento bem alto e vai imaginando os seus maiores desejos.

Não sei se é um feeling ou uma crença, mas acredito que a minha mãe me acompanha dentro e fora de campo.

Ainda vive com os seus pais e irmãos?

Vivo com os meus pais e dois irmãos. Os meus irmãos mais velhos vivem em Inglaterra.

Tem quantos irmãos?

Tenho quatro.

A sua mãe ensinou-o a agradecer os golos a Deus. É verdade?

Sempre. Quando marco golo, agradeço muito a Deus e, principalmente, à minha mãe. Não sei se é um feeling ou uma crença, mas acredito que a minha mãe me acompanha dentro e fora de campo. Antes de entrar em campo, digo sempre o nome dela e tento conectar-me com ela em termos de energia.

É um cordão umbilical…

Acredito mesmo que ela está sempre comigo.

Como é que ela se chama?

Domingas.

A sensação de marcar um golo decisivo deve ser incrível...

Principalmente, quando se trabalha dia-a-dia para vencer os jogos. Decidir um jogo não é só uma qualidade individual, mas de todo o coletivo. Muitas vezes, valoriza-se apenas quem marca, mas o trabalho é de equipa, só com a equipa é que se consegue chegar àquele golo.

É uma vitória de todos?

Sim.

Disse que agradece os golos a Deus e à sua mãe. Também lhes agradeceu o Campeonato do Mundo e o da Europa?

Muito! Quando fomos Campeões da Europa, Portugal festejou ser bicampeão, mas para mim foi o primeiro título. Eu estava na Holanda e os meus amigos foram todos para minha casa, em Santo António dos Cavaleiros, e fizeram uma grande festa. Temos uma ligação muito forte, é como se eles também estivessem em campo, como se eles tivessem vencido. Minutos depois de termos ganho, começámos logo a fazer uma videochamada e foi como quando éramos mais novos e dizíamos que, um dia, íamos ser jogadores de futsal e íamos chegar à equipa principal. Foram momentos muito bons.

Por falar em agradecer a Deus, é um homem religioso?

Já fui mais, na minha infância eu era daqueles que seguia a vida religiosa... Ia todos os domingos à igreja e à sexta-feira tinha o culto jovem numa igreja que frequentava muito em Odivelas. No verão, tínhamos um acampamento, em que se juntavam várias igrejas de muitos pontos do país. Depois, deixei de ir com tanta frequência aos cultos.

Falamos da Igreja Protestante?

Sim.

O sol de março acerta nas janelas do Pavilhão Multiusos do Sporting. Falta uma hora para o treino e Zicky Té já por aqui anda. Atravessa o corredor a sorrir, uma palavra divertida para quem passa. A caminho do balneário, entra no ringue: "A bola? Onde é que está uma bola?". Cruza-se com um colega, cumprimentam-se com um abraço. Sempre a sorrir, avança para o balneário. Gosta de chegar cedo para se preparar para o treino.

Vinte e um anos e tantos títulos quase impensáveis. Isso é um orgulho ou um peso?

O Pany diz que a pressão é uma coisa boa. Significa que estamos no bom caminho e que as pessoas esperam algo de nós. As pessoas acreditam que podemos dar mais e nós também acreditamos. É uma pressão boa. Sinto que me ajuda a crescer e que me dá mais vontade de trabalhar.

Dá muita importância ao treino psicológico, não é?

No início, não pensava muito na parte psicológica, mas houve uma altura em que isso mudou. No meu primeiro ano como sénior, o Mário Miguel aproximou-se de mim de coração aberto e disse-me: "Quero começar a trabalhar contigo porque, sabendo que tens um potencial muito grande, não me iria sentir bem se não estivesse aqui para te ajudar." Acho que esse foi o momento-chave do meu início e, certamente, da minha segurança no mundo do desporto e até na vida pessoal. É uma pessoa em quem confio plenamente.

Tens sessões semanais?

No início, tínhamos muito mais sessões. É uma pessoa amiga. Aquele amigo com quem desabafas tudo e que te aconselha sempre da melhor maneira. Em termos profissionais chama-se mental coach. Não é um psicólogo, mas para quem é menos entendido nestes assuntos, pode dizer-se que é basicamente isso, mas direcionado para o desporto.

Zicky Té. Voltemos ao seu nome. De onde vem?

O Zicky vem da minha prima. O meu nome é Izaquel e ela, a gozar, costumava chamar-me "Zicky, Zicky, Zicky". Lá em Santo António aquilo foi pegando e fiquei Zicky. O Zicky Té começou com o futsal. O meu nome completo é Izaquel Gomes Té e os comentadores de futsal começaram a dizer Zicky Té.

Izaquel foi escolha dos pais ou herança de alguém da família?

Foi escolha dos pais. Por serem muito religiosos, os meus pais deram nomes bíblicos aos filhos (Izaquel, Maizaque, Samuel, João). A minha irmã é Djamila.

Ainda não tive oportunidade de lá voltar, mas hoje é um dos meus maiores desejos: regressar à Guiné-Bissau.

Se fechar os olhos e pensar na infância, qual a recordação que lhe vem à memória?

Tenho várias recordações… Em termos desportivos, lembro-me de jogar nos ringues e ficar a ver os seniores e a imaginar quando é que lá chegaria, o que teria de fazer para chegar lá, o que é que precisaria de melhorar...

E sem ser em termos desportivos?

São memórias da Guiné. Lá, qualquer criança tinha o sonho de vir para a Europa. Nem digo que fosse para jogar à bola, mas certamente para procurar melhores condições para os pais. A Guiné é algo genuíno, lindo... Ainda não tive oportunidade de lá voltar, mas hoje é um dos meus maiores desejos: regressar à Guiné-Bissau.

Que idade tinha quando saiu de lá?

Saí de lá com seis anos.

Como é que era a sua vida na Guiné?

Lembro-me que no sítio onde vivíamos, as casas à volta eram todas de familiares. A minha avó morava à nossa frente e íamos sempre lá comer. Ficávamos na rua, a brincar até tarde, com os amigos.

Os seus pais vieram à procura de uma vida melhor?

Principalmente, o meu pai que é o pilar da família. Ele veio para Portugal sem nada e sozinho. Deixou a mulher e os três filhos e veio à procura de uma vida melhor para todos. Começou a trabalhar nas obras, a dormir em sítios que não eram propriamente casas…

Com o tempo, conseguiu arranjar uma casa e trazer-me a mim e à minha mãe. Não era possível virmos todos e os meus irmãos mais velhos disseram: "Vais tu e a mãe e nós como somos mais velhos ficamos aqui e depois quando puderem levam-nos". Depois, já com a minha mãe a trabalhar cá, conseguiram trazer os outros filhos.

O que é que a sua mãe fazia?

A minha mãe começou a trabalhar nas limpezas, era auxiliar de uma escola.

Continua a trabalhar?

Agora trabalha na Portugália.

Vamos até Santo António dos Cavaleiros. Foi muito importante crescer nessa zona?

Muito.

Santo António fica às portas de Lisboa, mas é um mundo à parte?

Nós dizemos que Santo António é uma nação. Toda a gente tem muito orgulho em ser de lá. Somos muito patriotas, digamos assim. (Risos) Passou a ser a nossa casa, é o nosso mundo.

Como é que era a escola em Santo António?

Olhando para trás, vou ter muitas saudades da [Escola Básica] Maria Veleda. Quase todos os meus primos andavam lá, o meu irmão também, fiz muitos amigos... e, agora, o meu irmão mais novo também lá anda. Agora é que vejo que a infância deixa muitas saudades...

Estudou até que ano?

Até ao 12º.

Zicky Té já foi considerado o melhor jogador do mundo jovem. Mas quer mais.

Zicky Té já foi considerado o melhor jogador do mundo jovem. Mas quer mais. © Créditos: Rodrigo Cabrita

Fala sempre muitos dos seus amigos de infância. São um pilar?

Sim! Os meus amigos são os mesmos de sempre, não mudaram. Fiz novos amigos, claro, mas o meu núcleo duro não mudou. A minha essência também continua a mesma. Não saí de Santo António e não penso sair. O meu núcleo é sempre o mesmo e é para a vida toda.

Como é que eles vivem o seu sucesso?

É como se fosse deles. Quando ganho um título, mal chego de viagem, passo no centro comercial que é onde a malta se encontra. Muitas vezes, mal chego a Santo António, antes de ir a casa, passo lá. É sempre uma festa, uma alegria enorme. É como se eles tivessem vencido. Ainda ontem, estive com um amigo do meu irmão, e ele chega perto de mim, sem grandes alaridos, e diz-me: "É um orgulho. Saíste daqui e estás a conquistar o mundo. Continua." O meu sucesso é o deles.

"Os meus" é expressão que repete como quem respira. "Os meus" são a sua gente. Família, velhos amigos, a namorada. Sabe que "os meus" são o porto-de-abrigo que lhe permite voar. Por essas e por outros, o que mais quer é ver o pai Augusto e a mãe Domingas a sorrir. Também por isso considera que, até hoje, o seu maior luxo foi os pais terem-no visto na televisão.

A mãe, que sabe das coisas, sempre lhe disse que, um dia, haveria de o ver a marcar golo no pequeno ecrã lá de casa.

Em miúdo, o que é que sonhava ser quando fosse grande?

Tive vários sonhos… Na escola cheguei a dizer que queria ser advogado, porque gostava muito de falar e de argumentar. Tinha aquela cena de estudar para ser advogado. Conforme fui crescendo, fui-me focando mais no desporto e em ser jogador profissional de futsal.

Tenho um lema caractrístico (na vida desportiva e pessoal) que é: 'só respondo com trabalho'.

De onde vem o gosto pela bola?

Dos ringues. Fui habituado desde pequeno a jogar nos ringues com os mais velhos.

Quem é que o levou para o ringue?

O Domingos, que agora está no Luxemburgo, levava-me para todos os ringues. Naquele tempo, os mais novos quase nunca jogavam com os mais velhos, tínhamos um ringue próprio. Mas o Domingos levava-me com ele e metia-me sempre na equipa dele a jogar contra quem fosse.

Quem é o Domingos?

É meu primo e, naquele tempo, era o melhor jogador de Santo António.

Já o levou ao Luxemburgo?

Ainda não, só lá está há um ano ou dois…

E porquê o futsal? Os miúdos costumam preferir o futebol de 11…

Agora há muitos miúdos a irem para o futsal, vai mais de encontro àquilo a que estamos habituados a jogar na rua. Além disso, os meus colegas jogavam todos futsal no GROB [Grupo Recreativo Olival Basto]. Curiosamente, também lá jogavam os gémeos Tomás e Bernardo [Paçó]. Agora, estamos juntos outra vez aqui nos seniores.

O futsal ainda é visto como um parente pobre do futebol de 11?

É inevitável compararem o futsal ao futebol de 11. Mas o futsal de antigamente não é o de agora. Está em constante crescimento e esperemos que um dia cresça tanto como o futebol. Sabemos que é muito difícil, a realidade do futebol é completamente diferente, mas o futsal é uma modalidade muito grande. Atualmente, não digo no mundo, mas em Portugal, já é certamente a segunda maior modalidade.

Nunca teve a tentação de jogar futebol de 11?

Quando era mais novo tive aquela curiosidade de jogar futebol de 11. Mas, conforme a idade foi avançando, percebi que era do futsal. Já fiz alguns treinos com os meus amigos na brincadeira, mas o campo é muito grande (risos).

Começou a jogar em Olival Basto?

Comecei no Olival e depois fui para a Póvoa de Santo Adrião, onde fiz o meu primeiro ano como federado. No Olival nem estava inscrito.

Era em Santo António dos Cavaleiros que jogava em Bafatá?

(Risos) Sim, mas isso já estava no Sporting… É um campo que temos lá em Santo António e que a malta apelidou de Bafatá, que é uma cidade da Guiné-Bissau. Às vezes, ficamos lá de manhã até à noite [risos]. É o nosso passatempo de verão.

Houve pessoas fundamentais na sua carreira?

Tive muitas pessoas que me marcaram. No PSAAC [Póvoa Santo Adrião Atlético Clube], o David Braga e a Sandra fizeram de tudo para me inscrever. Eu não tinha documentos portugueses e era muito difícil. Eles foram incansavelmente à Federação e à Associação de Futebol de Lisboa até conseguirem a minha inscrição. A nível de exames médicos, também não tinha muitas possibilidades, pois não conseguia pagar… Os exames, os papéis da federação, as quotas do clube eram eles que pagavam… Foram incansáveis.

Os seus pais não tinham possibilidades?

Não tinham possibilidades de me ajudar. Trabalhavam muito, tinham uma casa para sustentar, outros filhos... Estas pessoas foram muito importantes porque sem elas eu não teria sido inscrito.

Hoje, o que é que os seus pais dizem do seu sucesso?

Os meus pais não são de falar muito… Não falam muito do meu sucesso porque sempre me ensinaram que tínhamos de ser humildes para sabermos o que queremos e o que é que podemos alcançar.

O racismo devia ser repudiado no desporto e no mundo em geral, cada pessoa é como é, independentemente da sua raça, cor ou religião.

Quando era miúdo, costumavam ir ver os seus jogos?

Dificilmente. Ambos trabalham e os horários quase nunca permitiam. Há momentos que são um bocado tristes, porque vemos os outros miúdos todos com os pais a assistir… mas agora sei que os meus pais estavam a trabalhar por mim, pela nossa família. Eles não iam porque não podiam.

Não é fácil vir da Guiné-Bissau com quatro filhos e conseguir dar-lhes condições…

Pois não. Para mim, os meus pais são o exemplo do que é trabalho e resiliência. O meu pai veio para um país novo, onde não se conhece ninguém nem se fala a língua (somos PALOP, temos o português, mas falamos crioulo) e construir tudo o que ele construiu é obra…

Ainda sabe falar crioulo?

Nunca esqueci, até porque falo muito com os meus pais e com os meus amigos.

A comida da Guiné deixa-lhe muitas saudades?

Não porque a minha mãe faz muitas vezes.

Qual é o seu prato preferido?

Os mais conhecidos são o caldo de mancarra e o caldo de chabéu, mas o meu preferido é caldo de citi.

Racismo. Tem sentido em Portugal?

Posso ter sentido algumas vezes, se calhar já sofri racismo, mas não ligo muito. Se uma pessoa me chama pela minha cor, eu assumo-a. Se chamarmos alguém de "branco", a pessoa não reage... Mas a história é diferente porque houve, por exemplo, a escravatura. Há muito mais mágoa quando se ofende uma pessoa de raça negra.

É lamentável nos dias de hoje ainda haver racismo… Ainda há pouco, assistimos a uma situação de racismo num jogo de futsal. É lamentável! O racismo devia ser repudiado no desporto e no mundo em geral, cada pessoa é como é, independentemente da sua raça, cor ou religião. Somos todos seres humanos, quando morremos vamos todos para o mesmo sítio.

Há uma vida antes do sucesso e depois do sucesso?

Claro. Noto sobretudo na forma como sou visto e como os meus (quando digo os meus, falo dos que cresceram comigo) são tratados em público.

Como por exemplo?

Não gosto muito de falar disto porque não gosto de passar nem a imagem do coitado nem que as pessoas de lá são umas coitadas, porque não sou e não somos.

Deve ter sentido muita gente a aproximar-se…

Muita gente.

Muitos novos amigos…

Por isso é que é muito importante ter um pilar e sabermos muito bem quem são os nossos. Independentemente da fama, do sucesso ou do dinheiro, temos de saber quem esteve lá para nós e quem nós somos na verdade, independentemente do sucesso. A essência não muda, ou pelo menos, não deveria mudar. Por muitas conquistas, por muito sucesso que tenhamos ou que eu tenha, os meus serão sempre os meus.

O que é que é para si um dia perfeito?

Atualmente? É relativo, podia dizer "acordar e ganhar todos os títulos" [risos]. O dia perfeito seria os meus pais descansarem. Eu poder dizer-lhes: "Vão à Guiné, podem ter uma vida descansada e cuidar dos vossos netos. Não precisam de se preocupar com nada. Isto não é retribuir nada, mas um dos meus sonhos é ver-vos descansados e felizes". A felicidade dos meus pais e dos meus irmãos é a coisa mais importante do mundo, está acima de tudo. Acima do futsal, do meu sucesso, do que eu possa vir a conquistar… A felicidade dos meus é o mais importante.

O Sporting Clube de Portugal é o clube do coração de Zicky Té.

O Sporting Clube de Portugal é o clube do coração de Zicky Té. © Créditos: Rodrigo Cabrita

Atualmente? É relativo, podia dizer "acordar e ganhar todos os títulos" [risos]. O dia perfeito seria os meus pais descansarem. Eu poder dizer-lhes: "Vão à Guiné, podem ter uma vida descansada e cuidar dos vossos netos. Não precisam de se preocupar com nada. Isto não é retribuir nada, mas um dos meus sonhos é ver-vos descansados e felizes". A felicidade dos meus pais e dos meus irmãos é a coisa mais importante do mundo, está acima de tudo. Acima do futsal, do meu sucesso, do que eu possa vir a conquistar… A felicidade dos meus é o mais importante.

Como é que chegou ao Sporting?

Estive no GROB e depois fui para o PSAAC, onde lá me conseguiram inscrever. Comecei a jogar, mas não tinha condições para comprar umas chuteiras e os miúdos da minha idade tinham todos as Nike do Ronaldo… A minha treinadora [Tânia Vale] levou-me ao Continente de Loures e comprou-me uns ténis Kipsta pretos e brancos. Eram dos ténis mais baratos, mas para mim eram um luxo. Até então, os meus ténis ou estavam muito apertados ou rotos. O gesto dela foi muito marcante.

Pouco depois vem para o Sporting.

Um ano depois vim para o Sporting. Essa época no Santo António correu super bem, fiz muitos golos, ficámos em segundo lugar, atrás do Benfica…

Foram os ténis…

Certamente. [Risos] Depois tive várias propostas, mas decidi escolher o Sporting.

Já era sportinguista?

Sim.

Em termos de futsal, qual é o seu maior sonho?

Posso confessar que já falei várias vezes com as minhas estrelas sobre, um dia, ser o melhor jogador do mundo.

Está a trabalhar para ser o Cristiano Ronaldo do futsal?

O Zicky do futsal. [Risos]

Como é que é o seu dia-a-dia?

Passa muito por preocupar-me em estar bem fora de campo para estar bem dentro. Cuidar de mim, da minha alimentação e do meu descanso para corresponder da melhor maneira dentro de campo. Sem descuidar em dar atenção à minha família, claro.

Quando entra em campo pensa sempre na sua mãe. Tem mais algum ritual?

Peço sempre ajuda à minha mãe, parece que ela está ao meu lado. Mais nada.

Quando marca golos, festeja sempre da mesma maneira?

Tenho um lema característico que é 'só respondo com trabalho'. É um lema que carrego na minha vida desportiva e pessoal. Em tudo o que faço, tento sempre responder com trabalho. Em vez de dar desculpas do que quer que seja, tento sempre que o meu trabalho venha ao de cima.

De onde é que vem esse lema?

Vem do futsal, da formação do Sporting… foi em discussões com treinadores e colegas que comecei a formalizar essa frase.

Tem cuidados especiais?

Físicos e mentais, porque sem a nossa cabeça não somos nada. Podemos até ser o melhor do mundo com os pés, mas se a nossa cabeça não estiver bem, nada vai para a frente.

Para lá do futebol, o que é que gosta de fazer?

Gosto de estar com os meus amigos e com a família… Se não estivesse tão profissional no futsal, diria que gostaria de jogar à bola no Bafatá com os meus amigos.

Ser futebolista é sonho de muitos miúdos. O que é que lhes aconselharia?

O meu lema é responder com trabalho e acreditar nos sonhos. Diria para terem sonhos e acreditarem. Por muito que os outros duvidem do trabalho deles ou do sucesso que podem vir a concretizar, diria para terem a consciência de que são capazes e trabalharem.

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