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Liga Europa

Juventus 1-0 Sporting. Quem não caça com cão, caça com Gatti

Sporting perde pela margem mínima em Turim na primeira mão dos ¼ final da Liga Europa.

© Créditos: Marco Bertorello/AFP

Piada fácil, bem sei. Quem não caça com cão, caça com Gatti. Isto a propósito do nome do marcador do golo solitário na noite de Turim, para a primeira mão dos ¼ final da Liga Europa.

A verdade é essa mesmo: a Juventus é subjugada em muitos períodos do jogo pela personalidade do Sporting e marca num erro crasso do guarda-redes espanhol Adán numa saída mal calculada com os punhos. Atrás do espanhol, Vlahovic cabeceia para o golo.

Vale então o corte meio atabalhoado do capitão de Coates em cima da linha, a bola passa de raspão em Diomandé e o central Gatti, de frente para a baliza, empurra para o golo. Assim de repente, sem mais nem menos, a Juventus coloca-se à frente do marcador e ganha avanço para a segunda mão, na próxima quinta-feira, no José Alvalade.

A decepção é imensa. Para o Sporting, claro. A exibição é intensa e a Juventus acaba o jogo a defender a vantagem. Aliás, o suplente Perin faz duas defesas imperiais a remates seguidos de Pedro Gonçalves mais Bellerín em tempo de desconto. O lance é caricato e mais se parece àquele duplo falhanço do FC Porto vs. Inter no Dragão, também no tempo extra. Lá está, a classe italiana dá ares de supremacia resultadista conjugada com sorte de última hora.

É a verdade intemporal, já comprovada quatro vezes no presente 2023 nos jogos entre portugueses e italianos. Vamos lá fazer as contas: em Fevereiro, a Fiorentina elimina o Braga na Liga Conferência. Em Março, o Inter afasta o FC Porto. Em Abril, o Benfica perde 2:0 em casa com o mesmo Inter e, agora, o Sporting cai em Turim. Nessas quatro eliminatórias, as equipas italianas vencem a primeira mão entre 4:0 para a Fiorentina, 1:0 para o Inter, 2:0 para o Inter e 1:0 para a Juventus.

Veja as imagens da partida:

Adiante, ainda falta a segunda mão. Noventa minutos, pelo menos. O Sporting mostra futebol para igualar a eliminatória, só falta um golo. E esse é um trabalho de parto sem igual entre (lá está) portugueses e italianos. Se formos novamente ao quarteto de 2023, só o Braga consegue meter a bola na baliza deles. De resto, cinco zeros em seis jogos. É dose. É Itália, insistimos. Os homens, sejam eles quem forem, defendem com categoria. Os mestres, convenhamos. Sem bola, é mais "joga tu, vá".

A Juventus faz isso mesmo, sobretudo na primeira parte. Porque, atenção, o Sporting tem fome de bola e entra bem, muito bem. Na linguagem futebolística, diz-se entrada personalizada. O esquema de Rúben Amorim é o de sempre: toca, toca, toca, toca. A táctica dá certo com o Arsenal, por exemplo. E está quase a dar certo com a Juventus. Só que, desta vez, Pedro Gonçalves não inventa um chapéu desde o meio-campo. Snif snif.

Atenção, há remates perigosos de Morita (20’, ao lado), Coates (29’, defesa de Szczesny), Pedro Gonçalves (30’, outra grande defesa) e Nuno Santos (33’, Danilo salva em cima da linha). Cinco bolas de golo contra uma das Juventus em toda a primeira parte, por obra e graça de Chiesa, aos 12’, para defesa difícil de Adán.

Antes do intervalo, tanto Juventus como Sporting fazem substituições forçadas. A da Juventus é mais problemática, porque é o guarda-redes – a do Sporting é um central. Quando entra Perin em campo, não há um sportinguista sem um mini sorriso estampado. É a oportunidade ideal para voltar a atirar à baliza e explorar, quem sabe?, a fragilidade de um suplente.

Nada, o Sporting encolhe-se, também por mérito defensivo da Juventus, que guarda a bola com categoria. O jogo passa então a disputar-se mais no meio-campo, em constantes trocas infrutíferas de bola. Até que aparece o golo de Gatti caído do céu num momento do jogo de eterno bocejo e infinito 0:0.

O Sporting nem acusa o golo. Simplesmente não há tempo, até por Amorim salta do banco e bate palmas como quem pede uma reacção agora, ancora, já. E aperta o cerco à Juventus. Às vezes, com critério. Outras, nem tanto. Os últimos minutos são de aperto, com Morita a cabecear ao lado, Pogba a fazer karaté para sacar uma perigosa incursão de Bellerín e a tal dupla oportunidade de Pedro Gonçalves mais Bellerín na cara de Perin – os festejos do guarda-redes na direcção dos adeptos atrás da baliza dizem muito da felicidade recíproca.

Mais à frente, já depois do tempo concedido pelo árbitro, Diomandé remata à baliza e é canto. Só que o árbitro acaba o jogo e os jogadores rodeiam-no a pedir explicações. Nada feito, o futebol é assim mesmo. A Juventus ganha 1:0 e faz jus ao futebol italiano com a enésima exibição burocrática. O Sporting, esse, continua a olhar para a ½ final com bons olhos. O sonho é grátis.

Com arbitragem do turco Halil Umut Meler, eis os actores principais e secundários em Turim:

  • Juventus: Szczesny (Perin 44’); Gatti, Bremer e Danilo (cap); Cuadrado, Locatelli (Paredes 86’), Rabiot e Kostic (Fagioli 62’); Di María (Pogba 86’), Milik (Vlahovic 62’) e Chiesa; treinador Massimiliano Allegri (italiano)

  • Sporting: Adán; St. Juste (Diomandé 45’+4), Coates (cap) e Gonçalo Inácio; Esgaio (Bellerín 77’), Morita, Pedro Gonçalves e Nuno Santos (Matheus Reis 62’); Edwards (Essugo 77’), Chermiti (Arthur Gomes 62’) e Trincão; treinador Rúben Amorim (português)

  • Marcha do marcador: 1:0 Gatti (73’)

(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia)