João Neves marca aos 90+4 e deixa Benfica a um ponto do título de campeão
Sporting desperdiça vantagem de dois golos ao intervalo e confirma o pior receio do quarto lugar, atrás do Braga.
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Ponto de partida: nem 40 mil espectadores no José Alvalade. Pouco, muito pouco para o último dérbi da época, do máximo interesse para o Sporting na tentativa (em vão) de acabar em quarto lugar e na tentativa (em vão) de dar um pontapé na crise vs. Benfica, com o qual só ganha um jogo em casa nos últimos dez para a 1.ª divisão.
O Sporting entra com Israel à baliza na ausência de Adán, suspenso pelo cartão vermelho de há uma semana vs. Marítimo. O Benfica vai a jogo com os suspeitos do costume. Antes do apito inicial, uma homenagem ao aniversariante Manuel Fernandes, autor de quatro golos no célebre dérbi dos 7:1 em 1986. É ele quem dá o pontapé de saída. Simbólico, claro. O oficial é do Benfica, por Gonçalo Ramos.
A primeira é mexida, quase sempre longe da baliza. O Sporting joga mais e melhor, sem encher o olho. E o Benfica está irreconhecível: Rafa uma nulidade, Neres outra, João Mário sempre assobiado pelos sportinguistas a cada toque na bola. Os momentos de maior frisson passam-se todos na área benfiquista. O primeiro é aos 21’, numa combinação na direita entre Edwards e Esgaio e cruzamento do lateral para mais de meio golo. Pois é, Pedro Gonçalves falha o encosto à boca da baliza já sem Vlachodimos na jogada e perde-se a flagrante oportunidade.
Mais à frente, aos 32’, Esgaio solta um pontapé com selo de golo numa jogada iniciada no lado contrário, cortesia Nuno Santos. No enfiamento da bola, Vlachodimos defende para canto com categoria e segura o nulo. Adivinha-se o golo e à terceira é de vez. Aos 39’, Nuno Santos abre para dentro da área, António Silva desvia a bola, Trincão também e Vlachodimos só a enxota para a frente. Na recarga, Trincão assenhora-se da bola e, com toda a calma (e tempo) do mundo, atira para a baliza.
Se o 1:0 já é um bom resultado, o que dizer de 2:0? À beira do intervalo, António Silva saca uma bola de golo entre Nuno Santos e Pedro Gonçalves. Do respectivo canto, Nuno Santos marca com pompa e circunstância, Diomandé salta mais alto que todos e amplia a vantagem. O Benfica fecha a primeira parte sem qualquer remate enquadrado à baliza de Israel e uns incipientes 36% de posse de bola.
Na segunda parte, a toada muda significativamente. Schmidt deixa João Mário no balneário (sort of speak) e faz entrar Bah para o lado direito da defesa. Como tal, Aursnes sobe para a meia esquerda. A mudança táctica, técnica e até metodológica incomoda largamente o Sporting. Mesmo em vantagem por dois golos de diferença, a equipa de Rúben Amorim nunca se sente confortável e, às vezes, nem consegue sair da sua área com alívios descoordenados e sem critério. O Benfica sobe, cresce e faz-se notar. Israel faz a primeira defesa aos 46’, num bom remate de fora da área de Aursnes.
Aos 68 minutos, mais um aviso, agora do suplente Musa com uma arrancada do meio-campo a fazer gato-sapato de Coates em matéria de velocidade e a atirar cruzado a rasar o poste de Israel. À terceira é de vez: Grimaldo centra e Aursnes cabeceia no coração da área para o 2:1. Ainda faltam 20 minutos para o fim e agora? O Sporting acusa o toque e quer o terceiro. Morita atira por cima (78’), Essugo acerta num adversário (82’) e Paulinho falha na cara de Vlachodimos após tirar António Silva da jogada (86’). É o canto do cisne. Para o Sporting, dizemos.
A partir daí, o Benfica avança à procura do empate e o Sporting está completamente nas lonas. O desnorte é evidente até nas jogadas mais fáceis em que se pede mais cabeça que coração. Os últimos minutos sugerem algo, o Benfica está plantado no meio-campo contrário e o Sporting não consegue pura e simplesmente articular dois/três passes seguidos.
Aos 90’+3, falta de Essugo sobre Guedes. O livre, descaído para a direita, é marco por Aursnes para o segundo poste, onde aparece António Silva completamente solto. O que se segue é bilhar às três tabelas dentro da área com o Sporting às aranhas. Paulinho ainda evita o empate ao dar (literalmente) o peito à bola, só que o segundo remate de João Neves entra mesmo na baliza.
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Quando João Pinheiro apita para o fim, no 11.º minuto de descontos na segunda parte, o Benfica sai mais satisfeito. O ponto dá-lhe mais margem de manobra para a última jornada e basta-lhe um (outro) empate, na Luz, vs. Santa Clara, já despromovido como último classificado para celebrar o 38.º título de campeão nacional. Já o Sporting entra num beco sem saída. Aparentemente. O empate significa o quarto lugar, atrás do Braga, e o adeus à pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Posto isto, só Liga Europa. Ou seja, muito menos dinheiro e quase zero visibilidade. Ora aí estão dois factores essenciais para uma espécie de recomeçar do zero.
E, atenção muita atenção, só o campeão nacional da próxima época vai directo à Liga dos Campeões, o que implica uma maior aposta de quem já parte à frente do Sporting entre Benfica, FC Porto e Braga. O mundo sabe que o Sporting está metido numa alhada. Mas nem tudo é mau, calma: na última vez de um quarto lugar, o Sporting é campeão na época seguinte (2021).
Com o bracarense João Pinheiro no apito, eis os actores principais e secundários no José Alvalade:
Sporting: Israel; Diomandé, Coates (cap) e Gonçalo Inácio; Esgaio (Bellerín 72), Morita (Essugo 79), Ugarte e Nuno Santos (Arthur Gomes 79); Edwards (Paulinho 54), Trincão (Matheus Reis 72) e Pedro Gonçalves. Treinador Ruben Amorim (português)
Benfica: Vlachodimos; Aursnes, Otamendi (cap), António Silva e Grimaldo (Ristic 86); Chiquinho (Florentino 81) e João Neves; David Neres, Rafa Silva (Gonçalo Guedes 66) e João Mário (Bah 46); Gonçalo Ramos (Musa 66). Treinador Roger Schmidt (alemão)
Marcha do marcador 1:0 Trincão (39); 2:0 Diomandé (44); 2:1 Aursnes (71); 2:2 João Neves (90+4)
(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)