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Liga dos Campeões

Inter 3-3 Benfica. A insustentável leveza do empate

Golo de Musa nos descontos evita quarta derrota seguida do Benfica e garante 3:3 em Milão vs. Inter.

© Créditos: Gabriel Bouys/AFP

Derrota, derrota, derrota, derr… Not so fast, o Benfica repete o guião da época passada e empata um jogo perdido no adeus aos ¼ final da Liga dos Campeões. Se há um ano o 3:3 em Anfield sabe a vitória e entusiasma os adeptos benfiquistas para o final da época, o que vale o 3:3 de Musa aos 90’+5 no Giuseppe Meazza, vs. Inter?

A pergunta impõe-se e a resposta, essa, só vai aparecer no domingo, por ocasião do Benfica vs. Estoril para a 1.ª divisão. Em causa, o título de campeão nacional – tão provável há duas semanas e meia, com o avanço de dez pontos, como tremido neste preciso momento, tal a pressão do FC Porto, já só a quatro pontos. O Benfica europeu 2022-23 já era, falta saber o outro Benfica, de consumo interno.

Insistimos, o que vale o golo de Musa? O croata entra e fixa o empate com um remate de primeira em plena área interista, na sequência de uma jogada pela esquerda. A bola vai ao meio e pouco mais, o árbitro apita para o fim. A festa é imensa em quase todo o estádio, o Inter confirma o favoritismo pelo 2:0 de há uma semana na Luz e celebra o apuramento para a ½, vs. Milan. Isso mesmo, dérbi milanês para chegar à final em Istambul – na outra parte do grupo, há Real Madrid vs. Manchester City.

Apoiado por milhares de adeptos, todos crentes na reviravolta, o Benfica apresenta-se em Milão com o esquema de sempre. Em relação à primeira mão, saúda-se o regresso do capitão Otamendi. A primeira parte é assim-assim, o Inter movimenta-se nas suas águas e controla os acontecimentos.

Como se isso fosse pouco, Barella abre o marcador aos 14 minutos num belo remate com o pé esquerdo ao ângulo superior de Vlachodimos. Já autor do 1:0 na Luz, o italiano combina bem com Lautaro à entrada da área antes do pontapé indefensável.

Veja as imagens da partida:

O Benfica acusa o golpe, e não sai da cepa torta. Falta-lhe tudo entre rapidez de movimentos, pressão alta e tesão, sobretudo tesão. O Inter controla, ainda e sempre. E, claro, acomoda-se. Como boa equipa italiana, os seus jogadores esfregam as mãos de contente como quem diz 'missão cumprida'. Só que o Benfica arrebita. Finalmente.

Primeiro é um livre de Grimaldo, superiormente defendido por Onana junto ao poste esquerdo. Depois é o golo de cabeça de Aursnes, após cruzamento bem medido de Rafa na direita. O 1:1 abre todo um mundo de expectativas no mundo benfiquista, até porque abana a estrutura (e confiança) outrora inabalável do Inter. Até ao intervalo, o Benfica está por cima e sente-se nova dose de domínio para a segunda parte.

No regresso dos balneários, os altifalantes anunciam uma só substituição, com a saída de Gilberto para a entrada de David Neres. É o Benfica a querer empurrar ainda mais o Inter para a sua área. A táctica dá os seus resultados na teoria. E na prática? Onana vira espectador, não lhe chegam bolas difíceis, só passes curtos dos companheiros para despachar de primeira para lá do meio-campo. O Benfica afunila, lateraliza, afunila, lateraliza. Não há maneira, a velocidade de execução nunca apanha o Inter desprevenido. Os minutos passam penosamente sem um remate perigoso a indicar a reviravolta.

Com o Inter tão cómodo na arte de defender junto à sua área, o Benfica ganha esperança e aventura-se mais, mais, mais, sempre um pouco mais à frente. Perfeito, dirá o Inter. Quando recupera a bola em condições, os contra-ataques saem com mais frequência. O Benfica corta um, dois. Ao terceiro, 2:1 de Lautaro. O argentino surge solto na área após serviço de Barella na esquerda e acaba com a eliminatória. O público da casa vai aos arames, sort of speak.

Segue-se a tripla substituição da praxe de Simone Inzaghi, já vista no duplo confronto vs. FC Porto e também na Luz. Desta vez, entram Lukaku, Calhanoglu e Correa. Três artistas. O último nem demora a dar sinal de si, como autor do 3:1. O argentino recebe na esquerda, tira Otamendi do caminho e atira cruzado. A bola embate no poste e beija a rede. É a loucura no Giuseppe Meazza.

Faltam 12 minutos mais descontos, o Inter descomprime nitidamente e o Benfica atira-se à baliza de Onana. Sente-se O espectro da quarta derrota seguida, algo nunca visto no século XXI (a última sequência dessa magnitude é de 1997). David Neres atira ao poste e adia o 3:2. Aos 86’, livre lateral na direita para Grimaldo. O espanhol saca bem e António Silva mete a cabeça. Onana, zero hipótese.

Bola ao meio, sai o Inter. O árbitro dá quatro minutos. Ao quinto, Musa atira com o pé esquerdo e é o 3:3. Menos mal, o Benfica sai da Europa com um empate em Milão e volta a Portugal menos intranquilo. O Estoril dirá de sua justiça, no domingo. E o Benfica também, claro.

Com arbitragem do espanhol Cerro del Grande, eis os actores principais e secundários no Giuseppe Meazza:

  • Inter: Onana; Darmian, Acerbi e Bastoni (D’Ambrosio 80’); Dumfries, Barella (Calhanoglu 76’), Brozovic (cap), Mkhitaryan e Dimarco (Gosens 80’); Lautaro (Correa 76’) e Dzeko (Lukaku 76’); treinador Simone Inzaghi (italiano)

  • Benfica: Vlachodimos; Gilberto (David Neres 46’), Otamendi (cap), António Silva e Grimaldo; Florentino e Chiquinho (Musa 74’); João Mário (Schjelderup 89’), Rafa (João Neves 80’) e Aursnes; Gonçalo Ramos (Gonçalo Guedes 74’); treinador Roger Schmidt (alemão)

  • Marcha do marcador: 1:0 Barella (14’); 1:1 Aursnes (38’); 2:1 Lautaro (65’); 3:1 Correa (78’); 3:2 António Silva (86’); 3:3 Musa (90’+5)

(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)