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Taça Portugal

FC Porto. A dobradinha mais-que-esperada

Taremi marca dois golos e ainda falha um penálti na vitória inequívoca por 3:1 vs Tondela no regresso da final da Taça de Portugal ao Jamor.

© Créditos: Lusa

Milan, por exemplo. O Milan das 7 Liga dos Campeões não tem uma dobradinha no seu currículo. É dizer, nunca ganha campeonato italiano mais Taça de Itália na mesma época. Nunca, entre 19 scudetti e 5 coppe. Nunca. É escanifobético, convenhamos. E um caso raro, de estudo. A esmagadora maioria dos campeões europeus acumula uma história rica no seu país. Como o FC Porto, autor da 9.ª dobradinha da sua história – o Benfica ainda é rei, com 11, o Sporting é cada vez mais terceiro, com 6.

É uma dobradinha natural, ditada pela competitividade XXl do FC Porto, campeão nacional há duas semanas, e pela fragilidade emocional do Tondela, despromovido à Liga 2 no sábado passado. E a final é um jogo sem história nem emoção por aí além. Muitos toques na bola, pouco acerto no passe e desequilíbrio notório a partir do pontapé de saída com o FC Porto acampado no meio-campo contrário e o Tondela sem argumentos para esgrimir fora da sua zona (defensiva) de conforto.

Aos 15 minutos, Pepê remata de primeira e Niasse faz uma defesa aparatosa com a bola a ir à trave. De repente, o árbitro Rui Costa mete a mão no auricular e interrompe o jogo. O que se segue é inenarrável. Cinco minutos (c-i-n-c-o) de paragem para ver, voltar a ver, rever, rever só mais uma vez, rever uma última vez o lance anterior ao do remate de Pepê, um braço de Marcelo Alves a bater na cabeça de Otávio numa discussão de bola aérea. Ao fim desse tempo, Rui Costa sai de campo para ver as imagens no seu monitor VAR. É penálti, diz ele.

NIasse mete-se à frente de Taremi, com a bola pelo meio. Um internacional mauritânio vs um internacional iraniano, é a globalização. Quem diria, hien?! A culpa é do Bosman, o do acórdão em 1995 a dar total liberdade de movimentos aos jogadores. Taremi faz o que lhe compete, bola para um lado e guarda-redes para o outro. É o primeiro asiático a marcar numa final da Taça. E desata a loucura anunciada no Jamor, precisamente 11 anos depois da última Taça conquistada pelo FC Porto no Jamor, em 2011, num formidável 6:2 vs Vitória SC (5:2 ao intervalo).

Veja os melhores momentos do jogo.

O Tondela, mais frágil ainda, continua sem passar do seu meio-campo com perigo. Pormenor engraçado: o treinador dos beirões Nuno Campos sabe o que é perder uma final da Taça no Jamor, como lateral-direito do Campomaiorense em 1999, naquela tarde de futebol de classe média com a vitória do Beira-Mar graças ao golo solitário de Ricardo Sousa, filho do treinador António. Adiante, o FC Porto continua a jogar para a frente e o Tondela para trás – daí os zero remates à baliza de Marchesín.

Tondela. Colete de força

No reinício, o Tondela continua amarrado a um colete de força e o FC Porto quer arrumar a questão o mais depressa possível. Aos 49’, Taremi desmarca-se pela esquerda a passe de Vitinha e oferece o golo a Pepê, só que o remate do brasileiro apanha Niasse pelo caminho. Aos 52’, Pepê e Vitinha combinam no lado direito e o remate de Pepê leva selo de 2:0. O mesmo Pepê é a figura de destaque no segundo penálti da tarde (65’), a castigar falta de Sagnan sobre Pepê. Outro duelo Mauritânia vs Irão com 11 metros de distância. Mais uma vez, Taremi engana Niasse. Desta vez, a bola embate no poste e ressalta para dentro de campo.

Nem assim o Tondela sai da toca e Evanilson quase aproveita um deslize de Niasse a jogar com os pés (69’) – a bola vai torta, ao lado. O Tondela aventura-se e ganha um lançamento lateral. Uauuuu. Salvador Agra cruza bem e Neto Borges cabeceia para o golo. Assim sem mais nem menos, sem aviso prévio. Tsss tsss, pobre Marchesín. Bola ao meio e o FC Porto despacha serviço para o 3:1 com recuperação de bola por Grujic, abertura de Otávio na meia-lua e conclusão vitoriosa de Taremi. É o bis do iraniano, é o fim da Taça sem história nem emoção.

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FC Porto. Justo vencedor

O FC Porto é um justo vencedor e festeja a dobradinha, a 9.ª da sua história, a segunda na era Sérgio Conceição. Sete jogos em sete jogos na Taça de Portugal 2021-22. O último treinador portista a ganhar uma Taça só com vitórias (seis) é José Mourinho em 2003. E o último a levantar o troféu na ressaca de sete vitórias é José Maria Pedroto em 1977. Grandes treinadores, grandes marcas. E o Tondela? É o primeiro clube português de sempre a descer à 2.ª divisão e a perder uma final da Taça. O Vitória SC, sexto classificado da 1.ª divisão 2021-22, agradece ao FC Porto e conquista um lugar europeu in extremis.

Atores principais

Sob a arbitragem de Rui Costa, eis os actores principais e secundários do Jamor

FC PORTO Marchesín; João Mário, Pepe (cap), Mbemba e Zaidu; Grujic (Uribe 83’); Vitinha, Otávio e Pepê (Francisco Conceição 76’); Taremi (Toni Martínez 84’) e Evanilson (Galeno 72’)

Treinador Sérgio Conceição (português)

TONDELA Niasse; Eduardo Quaresma, Marcelo Alves e Sagnan; Tiago Almeida (Bebeto 69’), Pedro Augusto (João Pedro 56’), Undabarrena (Tiago Dantas 69’) e Neto Borges; Salvador Agra (cap) (Boselli 82’), Daniel dos Anjos (Dadashov 56’) e Rafael Barbosa

Treinador Nuno Campos (português)

Marcadores 1:0 Taremi (20’ gp); 2:0 Vitinha (52’); 2:1 Neto Borges (73’); 3:1 Taremi (75’)

Nota Taremi falha penálti, ao poste (65’)

(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)