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Futebol

Benfica, o campeão assustado

Tanta demora em dar um golpe de autoridade e agora é preciso de um ponto na última jornada com o já despromovido Santa Clara.

© Créditos: AFP

Vamos falar do Benfica de Schmidt. O treinador alemão chega e é todo sorrisos. Nos treinos, mais sorrisos. Nos jogos, mais sorrisos. Os jogadores, nota-se bem, andam felizes e contentes (passe o pleonasmo). O futebol flui desde o primeiro dia e os resultados acompanham as boas exibições. A passadeira (vermelha) está estendida, sobretudo a partir daquele 1:0 de Rafa no Dragão. Com o campeão em título FC Porto fora da jogada e sem Sporting desde a quarta jornada (oito pontos perdidos em 12 possíveis), o Benfica caminha com passada larga e determinada. O título é uma realidade ao virar da esquina, o Marquês aguarda a massa humana com relativa impaciência.

Ou será paciência? É que o Benfica começa a embrulhar-se. Primeiro é aquela derrota em casa vs. FC Porto, e a ganhar por 1:0. Depois é aquela derrota em Chaves aos 90’+4, com base numa escorregadela de Otamendi. A bola queima, a cabeça já não está no sítio de sempre e nem Schmidt é só sorrisos. Começam os primeiros lamentos e toma lá de culpar o VAR, sempre o VAR. Um alemão a queixar-se tem piada, porque legitima (e internacionaliza) as queixas dos portugueses. Se ele (Roger) diz mal do VAR, é bar aberto para todos.

Barcelos, jogo decisivo, mais um. O FC Porto, a dez pontos do Benfica na visita à Luz, já só está a quatro de distância. O estádio do Gil é vermelho vivo. O Benfica enche todos os estádios da 1.ª divisão, é a única equipa a jogar constantemente em casa, à excepção de José Alvalade e Dragão. Barcelos, dizíamos. E o Benfica volta a ser Benfica, dono e senhor da bola e do jogo. É verdade, o golo só aparece aos 63 minutos, e pelo suplente Chiquinho, de cabeça, mas o Benfica vulgariza o Gil e só não marca mais cedo por ineficácia caricata. As oportunidades sucedem-se, o resultado justo é 0:3 ou 0:4.

Os problemas de autoestima já fazem parte do passado e, a partir daí, o Benfica volta a ser o da dupla gaulesa no Astérix, o Legionário. O 1:0 vs. Braga comprova-o em absoluto. O Braga encolhe-se e nem faz cócegas a Vlachodimos, tanto por falta de iniciativa como por falta de ritmo lá na frente. Mais uma vez, Rafa Silva é o herói. Já autor do 1:0 no Dragão, é ele quem assina o 1:0 vs. Braga e afasta em definitivo os fantasmas do passado recente. A poção mágica do Benfica está a render, o título volta a estar ao virar da esquina. O Marquês, tranquilo da vida, aguarda o mar de gente, a onda vermelha. É domingo, dia 21? A visita ao Sporting é o palco perfeito para acentuar rivalidades e acabar com o campeonato.

Só que não, o Benfica desaparece do mapa, totalmente manietado por culpa própria e alheia. O Sporting prepara bem o dérbi, sim senhor, e vai para o intervalo a ganhar por 2:0 sem fazer muuuuuito por aí além em matéria de futebol bonito. Na segunda parte, o Benfica muda o sistema com uma substituição (sai o assobiadíssimo João Mário, entra Bah para o lado direita e Aursnes sobe para a meia-esquerda) e o Sporting roça o embaraçoso com muitos alívios descoordenados, uns para as couves, outros direitinhos para os contra-ataques do Benfica.

O 2:2 de João Neves aos 90’+4 é um golo lógico pela falta de pernas e coração do Sporting durante toda a segunda parte, em contraponto com a vontade do Benfica em encontrar o noivo da Falbala. Pois bem, o Sporting confirma o 4.º lugar pela 14.ª vez na sua história (pior, só o Braga com 16) e está fora da Liga dos Campeões. E o Benfica só tem de pontuar na Luz vs. Santa Clara, já despromovido como último classificado, para se sagrar campeão nacional. Agora sim, e porque não há mais jornadas, o título de campeão está ao virar da esquina. Atenção ó Marquês.

Convenhamos, o Benfica é um campeão assustado. É um campeão com mérito, claro que sim, até porque joga quase sempre bem e é líder isolado desde a quarta jornada, algo nunca visto há 40 anos com Eriksson, mas corta a meta com cãibras. Um pouco à imagem do primeiro Benfica de Jesus em 2010, também ele campeão à última jornada, em despique com o Braga de Domingos, com uma equipa de sonho entre Maxi, David Luiz, Luisão, Javi García, Ramires, Saviola, Aimar, Di María, Cardozo, sem esquecer Quim e Coentrão, os portugueses mais vezes no onze.