Contacto
25 de Abril

49 histórias desportivas de encantar

Uma viagem imperdível desde o Mundial de hóquei em patins 1974 até à estreia do primeiro português na NBA em 2022.

Aos 109 minutos, Éder marcou o golo que sagrou Portugal campeão europeu de futebol, no Stade de France, em Saint-Denis, a 10 de julho.

Aos 109 minutos, Éder marcou o golo que sagrou Portugal campeão europeu de futebol, no Stade de France, em Saint-Denis, a 10 de julho. © Créditos: Miguel A. Lopes/Lusa

Ei-lo, o 25 de Abril. Já lá vão 49 anos, quase meio século. Vai daí, o nosso exercício para hoje é selecionar os 49 momentos desportivos mais gloriosos de Portugal desde 1974. A tarefa é hercúlea, há uma série de heróis intemporais por um ou mais momentos. A nossa escolha é só um atalho para a eternidade, entre muitos outros caminhos alternativos.

1 O Mundial de hóquei em patins 1974 está marcado para Luanda, só que os acontecimentos em Angola ditam o afastamento da competição para Lisboa, onde o Pavilhão dos Desportos é rei e senhor por oito dias, de 21 a 29 Julho. A selecção portuguesa entra sempre ao som de ‘Grândola’ de Zeca Afonso e ganha o título no último jogo, vs. Espanha (4:2). A equipa de Torcato Ferreira inclui um génio chamado Livramento e uma série de dignos súbditos como Rendeiro e o suplente Adrião, já com 35 anos.

Carlos Lopes.

Carlos Lopes. © Créditos: Comite Olímpico Internacional

2 A São Silvestre em São Paulo é a competição de atletismo mais falada em todo o mundo. Corre-se no último dia do ano, à noite. Em 1982, Carlos Lopes surpreende e bate o favorito Vítor Mora (Colômbia) por 33 segundos ao longo dos 13,548 km. Já a vitória de Rosa Mota é mais categórica, com um avanço de dois minutos e três segundos sobre a suíça Matinatine Bouchounaux. Duas vitórias portuguesas no mesmo dia, que sensação inesquecível.

3 Carlos Lopes faz o dois-em-um em Los Angeles-1984: é o primeiro português a ganhar uma medalha de ouro olímpica e ainda estabelece a melhor marca olímpica de sempre – só batida em Pequim-2008. No ano seguinte, em Roterdão, bate o recorde mundial da maratona e é o primeiro homem a correr os 42 quilómetros em menos de duas horas e oito minutos. Ufff, que canseira.

4 Campeão europeu em 1977 e vencedor da Taça das Taças em 1981, só falta ao Sporting a Taça CERS. Para chegar à final em 1984, o Sporting ganha todos os seis jogos com um total de 81:18 em golos. Na primeira mão, em Itália, o Novara dá boa conta do recado e dá 4:1. O Sporting tem de ganhar por três. Muito bem, ao intervalo já há 4:0. O Novara, com quatro internacionais italianos e um argentino, ainda iguala a eliminatória, mas depois nunca mais consegue acompanhar o ritmo avassalador do hóquei sportinguista, imposto sobretudo por dois golos seguidos de Sérgio Nunes. Acaba 11:3.

5 Só vai lá com um milagre. Ou um pontapé de Carlos Manuel. A RFA perde pela primeira vez de sempre em jogos de qualificação para o Mundial em outubro 1985 e Portugal garante a presença no México-86 num jogo em que o selecionador estreia o belenense José António.

6 Sem Lima Pereira nem Gomes, o FC Porto apresenta-se na final da Taça dos Campeões 1987 com João Pinto a capitão e Sousa a vestir o 9. Ao intervalo, 1:0 para o Bayern. Na segunda parte, Madjer parte a loiça com um golo belíssimo de calcanhar e uma assistência deliciosa para o 2:1 de Juary.

O jogador do FC Porto, Rabah Madjer, em ação no jogo com o Sporting da Covilhã, jogo da I divisão do Campeonato Nacional de Futebol, no Estádio da Antas, no Porto, a 20 de abril, de 1986.

O jogador do FC Porto, Rabah Madjer, em ação no jogo com o Sporting da Covilhã, jogo da I divisão do Campeonato Nacional de Futebol, no Estádio da Antas, no Porto, a 20 de abril, de 1986. © Créditos: Guilherme Venâncio/Lusa

7 Ainda e sempre o FC Porto. Ainda e sempre em 1987. Agora em Tóquio, debaixo de um nevão. O campo está branco, a bola é amarela. Madjer assume novamente a batuta. É dele mais de meio golo para o 1:0 de Gomes e é dele o chapéu de aba curta para o definitivo 2:1, em pleno prolongamento.

8 Português de ascendência japonesa (pelo lado do pai) e alemã (pelo lado da mãe), Alexandre Felske Tadayuki Yokochi faz-se nadador bem cedo, aos seis anos de idade, influenciado pelo pai Shintaro, treinador do Benfica e proprietário de uma escola de natação em Lisboa. Aos 12 anos, assina pelo Benfica. Em 1987, é medalha de ouro no Europeu Universitário, à frente do norte-americano Todd Jones e do soviético Dmitri Porotski. e com direito a recorde nacional (dois minutos, 18 segundos e 24 centésimos).

Rosa Mota medalha de ouro na maratona dos Jogos Olímpicos de Seul.

Rosa Mota medalha de ouro na maratona dos Jogos Olímpicos de Seul. © Créditos: Manuel Moura

8 Português de ascendência japonesa (pelo lado do pai) e alemã (pelo lado da mãe), Alexandre Felske Tadayuki Yokochi faz-se nadador bem cedo, aos seis anos de idade, influenciado pelo pai Shintaro, treinador do Benfica e proprietário de uma escola de natação em Lisboa. Aos 12 anos, assina pelo Benfica. Em 1987, é medalha de ouro no Europeu Universitário, à frente do norte-americano Todd Jones e do soviético Dmitri Porotski. e com direito a recorde nacional (dois minutos, 18 segundos e 24 centésimos).

9 Com apenas 1,57 metros de altura e 45 quilos, Rosa Mota comete a proeza de se sagrar campeã europeia (Estugarda-1986), mundial (Roma-1987) e olímpica (Seul-1988). É um feito inédito no escalão feminino. Já passam as três horas, já a noite vai alta e há quem esteja ainda acordado à frente do televisor aos pulos e aos gritos.

É natural, a portuense natural da Foz corta a meta às 3 e 23. Poucos minutos depois, os mesmos adeptos entusiastas continuam pregados à frente do pequeno ecrã a vibrar com o hino "A Portuguesa", com Rosa embrulhada na bandeira verde-rubra.

10 Campeão mundial, Portugal é campeão mundial. Inesquecível essa sexta-feira, 3 de março 1989. Pelo título, claro, e também pelo futebol apresentado. O primeiro golo é ao cair do pano da primeira parte com um lançamento lateral de Amaral para JVP, cujo chapéu de aba larga apanha Chinedu desprevenido. Jorge Couto recolhe o esférico e, com o peito, chama o pé esquerdo de Abel Silva à entrada da área. Aos 77’, Jorge Couto apanha a bola e corre para a baliza da esquerda para o meio. O remate é forte e frontal, Amadi deixa passar a bola por debaixo do corpo. É o chamado frango, motivo pelo qual o selecionador Olalunde Disu substitui-o de imediato por Ikeji.

Ler mais:Rosa Mota, portuguesa suave

11 É um sábado, dia 8 junho 1991. O Óquei de Barcelos levanta a Taça dos Campeões com um golo de Pedro Alves no prolongamento, em Monza, o Sporting conquista a Taça das Taças na nave de Alvalade vs. Novara com Sousa Cintra a ser levado em ombros e o Benfica goleia o Reus por 10:3 na Luz para dar a volta olímpica de braço dado com a Taça CERS. Que momento, que triplo momento. Um mês depois, a seleção portuguesa é campeã europeia com 7:0 vs. Holanda.

12 O estádio não está cheio, nada disso. Transborda, isso sim. Muita emoção, pouca razão. Por isso, o árbitro argentino Lamolina mostra três amarelos a Peixe, Djair e Zelão nos primeiros 8 minutos para serenar os ânimos. O teimoso 0:0 vai até ao prolongamento e, depois, penáltis. O destino encarrega-se de empurrar Portugal para o título. Se a bola de Jorge Costa bate na trave e entra, Élber imita-o no remate seguinte e a bola salta para fora. Brassard ainda mergulha à bola de Marquinhos para antecipar a festa e é Rui Costa quem fecha as contas da glória. Portugal é bicampeão mundial sub20 em 1991, com Peixe eleito pela FIFA como o melhor jogador do torneio.

13 Outubro 1996, dia 8. De visita à casa do Real Madrid, o Benfica de Mário Palma provoca a surpresa maiúscula da fase de grupos da EuroLiga com 35:19 ao intervalo e 60:59 no fim. O último cesto é do número 10 Pedro Miguel, em vistosa jogada individual, a quatro segundos do fim. Curiosidade: o Real Madrid sagrar-se-ia campeão europeu nessa época.

14 A corrida é simplesmente fantástica e vale sempre a pena rever a última volta, quando a chinesa Wang Junxia parece arrancar decidida. Fernanda vai no seu encalço e ultrapassa-lhe por dentro para bater o recorde olímpico dos 10 000 metros, em 1996. Pela primeira vez na história, uma atleta é campeã europeia, mundial e olímpica em título. É dose. Quatro anos depois, em Sidnei-2000, Fernanda Ribeiro arrebata a segunda medalha olímpica da sua brilhante carreira, ao acabar em terceiro lugar nos 10.000, num final de cortar a respiração com a inglesa Radcliffe.

15 Paços de Ferreira é a capital de móvel desde sempre e, no final de dezembro de 1998, é a capital europeia do hóquei em patins. A final é ibérica, acaba 1:1 no tempo regulamentar. Nos penáltis, a Espanha falha quatro seguidos e Portugal marca um, cortesia Filipe Santos. No quinto e último, Borregán acerta no poste e Portugal é tetracampeão num pavilhão a rebentar pelas costuras: há 4.200 bilhetes vendidos para uma capacidade de 3.500.

Ler mais:A história de amor e ódio entre JPV e Paulinho Santos

16 A história desportiva de Nuno Delgado inicia-se aos sete anos de idade. Como é uma criança hiperativa, com energia para dar e vender, os pais inscrevem-no na Casa do Benfica de Santarém, onde vive. Rapidamente se torna o maior da aldeia, com o título de tricampeão nacional. O Sport Algés e Dafundo contrata-o e o primeiro resultado é o 5.º lugar no primeiro Europeu da sua carreira. Logo a seguir, em 1998, é bronze nos Mundiais Universitários na categoria -78 quilos. E, em 1999, é ouro nos Europeus -81 kg.

17 Uh la la, c’est magnifique. Um dia depois do sensacional 6:5 vs. Brasil após prolongamento, Portugal festeja o inédito título mundial de futebol de praia com um inapelável 9:3 vs. França dos irmãos Cantona, em 2001. A entrada é de leão e Alan marca o primeiro da tarde aos dois minutos. É o aviso de uma tarde em cheio, com quatro golos de Alan e dois de Madjer, na Costa do Sauípe (Brasil).

Os jogadores do FC Porto após a vitória da Taça UEFA frente ao Celtic, em maio de 2003 em Sevilha.

Os jogadores do FC Porto após a vitória da Taça UEFA frente ao Celtic, em maio de 2003 em Sevilha. © Créditos: Christophe Simon/AFP

18 Há FC Porto e Boavista na ½ final da Taça UEFA 2003, quer o destino separá-los no sorteio para um eventual encontro em Sevilha. Olhe que não, olhe que não, o Celtic festeja o apuramento no Bessa e joga o título europeu vs. FC Porto. É uma final de cortar a respiração com Derlei a fixar o resultado de 3:2 no prolongamento.

19 Gustavo Lima faz-se ao piso. Em 1992, é campeão nacional júnior. Faz uma pausa nos estudos, em pleno 11.º ano, e dedica-se de corpo e alma ao desporto. Em boa hora o faz, verdade seja dita. O treino intensivo obriga-o a estar constantemente ligado à corrente. Ao todo, quatro horas em alto mar mais ginásio e trinta minutos de bicicleta. O trabalho, lá está, rende-lhe momentos imperdíveis. Como o título de campeão europeu e a medalha de bronze no Mundial de juniores. Aperfeiçoa os movimentos técnicos e os conhecimentos das marés para chegar ao ouro nos Mundiais em classe laser radial (1996) e classe laser (2003), em Cádis, onde consegue bater o ídolo brasileiro Robert Scheidt, bicampeão olímpico.

Ler mais:Cinco finalistas da Taça/Liga dos Campeões

20 Passa-se um ano desde a conquista da Taça UEFA e o FC Porto de José Mourinho volta a enamorar a Europa, agora com a conquista da Liga dos Campeões 2004. A final é um passeio, 3:0 vs. Monaco em Gelsenkirchen, com golos de Carlos Alberto, Deco e Alenitchev. O mais fantástico dessa proeza é a utilização de tão-só dois estrangeiros no onze.

21 Uma hérnia discal obriga-o a acabar a carreira de jogador e a começar a de treinador mais cedo do que o previsto. Tomaz Morais é campeão nacional de juvenis pelo Dramático de Cascais e chega à seleção portuguesa. Na primeira oportunidade, em 2004, Portugal ganha o Torneio das 6 Nações B, uma espécie de 2.ª divisão europeia, com 19:18 vs. Rússia. Como uma alegria nunca vem só, a federação internacional de râguebi nomeia-o treinador do ano. Vejam lá bem a honra, um português eleito o melhor do mundo com uma equipa de amadores. Ah pois é, esquecemo-nos de vos dizer: a nossa equipa é composta por engenheiros, agricultores, advogados, veterinários.

Ticha Penicheiro, à esquerda.

Ticha Penicheiro, à esquerda. © Créditos: Federação Portuguesa de Basquetebol

22 Patrícia é Ticha. Os quatro anos no basquetebol universitário dos EUA correspondem a um corrupio de emoções sem igual. Ao serviço da Old Dominion Monarchs, perde a final do campeonato em 1997 e acumula 1304 pontos mais 591 roubos de bola (recorde ainda hoje da equipa). Atentas a esse fenómeno, as Sacramento Monarchs da liga principal (WNBA) contratam-na e a adaptação é imediata. Ou não fosse Ticha uma jogadora de eleição como poucas. Em 15 anos de WNBA, é campeã uma vez em 2005 e ainda é detentora do recorde de assistências (1707). Como se isso fosse pouco, é também recordista do maior número de roubos de bola num só jogo (10).

23 Um dia, lá para os lados de Casalinhas de Alfaiata, perto de Torres Vedras, o comum mortal Joaquim Agostinho encontra a equipa do Sporting a treinar e dá-lhes um bigode. Ou seja, passa-lhes à frente como quem não quer a coisa e assim se mantém durante largos minutos. Pormenor: Joaquim Agostinho guia uma bicicleta banalíssima. A sua pedalada é velocíssima, uma imagem de marca muito sua e constatada pelos companheiros da tropa, em Moçambique, durante a guerra colonial, que o veem fazer 50 quilómetros em duas horas, como mensageiro, enquanto os outros demoram cinco. Faz 13 Voltas a França, acaba duas vezes em terceiro lugar e, a título póstumo, em 2006, ganha uma estátua no Alpe d’Huez, a subida mais carismática do Tour.

Francis Obikwelu

Francis Obikwelu © Créditos: Reuters

24 Rejeitado por Benfica e Sporting, o luso-nigeriano Francis Obikwelu vai trabalhar para as obras no Algarve enquanto tem aulas de português. A sua professora chama-se Isabel, é ela quem faz a ligação com o Belenenses e incentiva-o a voltar a correr. Em boa hora o faz, porque Obikwelu ganha dois ouros nos Mundiais de juniores, em Sidnei (1996). Quatro anos depois, em outubro 2001, já como atleta do Sporting, opta pela cidadania portuguesa e começa a dar que falar ainda mais. Prata nos 100 metros dos Jogos Olímpicos 2004, metido entre Justlin Gatlin e Maurice Green, sagra-se campeão europeu dos 100 e 200 metros nos Europeus 2006, em Gotemburgo. Mágico.

25 O triatlo é um desporto de resistência, dividido por natação (1500 metros), ciclismo (40 quilómetros) e atletismo (10 quilómetros). É duro. Só de ler. Imagine-se competir. Vanessa Fernandes, filha de Venceslau, ainda hoje o mais veterano a ganhar a Volta a Portugal em bicicleta, é campeã europeia júnior em 2003. Seguem-se mais quatro ouros, na categoria sub23, e outros cinco, como sénior. Em matéria de Mundiais, o nome de Vanessa faz-se notar com furor patriótico em 2006 (prata) e 2007 (ouro). E 2008? É prata nos Jogos Olímpicos, ainda hoje a medalhada portuguesa mais jovem de sempre, com 22 anos.

26 Nélson Évora é cabo-verdiano e faz-se cidadão português em julho 2002. Com determinação, vai aos Jogos Olímpicos-2004, em Atenas, onde falha a qualificação para a final. Quatro anos depois (2008), em Pequim, entoa A Portuguesa lá de cima, do primeiro lugar do pódio, graças a um poderoso salto de 17,67 metros – curiosamente, até salta mais nos Mundiais de 2007 e saca o seu melhor salto de sempre com 17,74.

© Créditos: Reuters

27 Tiago Pires, o famoso Saca, faz surf em Portugal. Tranquilo, é moda. Nada disso, Saca faz do surf um desporto em Portugal. À conta de ondas e títulos. É campeão europeu em 1997 (Hossegor, França), vence o Europeu Pro Junior em 1999 e é vice-campeão mundial em 2000. A campanha vale-lhe o título de rookie do ano. Sobe um degrau e compete na 2.ª divisão da elite mundial. Em 2007, acaba em 5.º e entra na meca do surf, o WCT (World Championship Tour). É o primeiro português de sempre.

28 Ezenaide do Rosário da Vera Cruz Gomes. Quem? Naide Gomes. Nasce em São Tomé e chega a Portugal aos 11 anos. É porta-estandarte de São Tomé nos Jogos Olímpicos-2000 e, um ano depois, faz-se portuguesa. Em 2005, já só se dedica ao salto em comprimento e a aposta vale-lhe os títulos mundial (2008 em Valencia) e europeu (2005 em Madrid, onde é a primeira portuguesa a ultrapassar os sete metros, com 7.01).

29 Manuel José só é campeão português como jogador, pelo Benfica, nos anos 60. Como treinador, zero. Quando se aventura no Egipto, a sua vida muda da noite para o dia. Para melhor. No Al Ahly, ganha quatro títulos africanos. Quatro, é dose. O último é festejado em 2008, nos Camarões, com 2:2 vs. Coton, na segunda mão da final. Qual estátua, qual quê, o homem merece é uma pirâmide.

Mourinho festeja a vitória do Inter de Milão frente ao Bayern na final da Liga dos Campeões em maio de 2010.

Mourinho festeja a vitória do Inter de Milão frente ao Bayern na final da Liga dos Campeões em maio de 2010. © Créditos: Emilio Naranjo/EPA

30 É ele, de novo. José Mourinho, claro. O Inter não ganha um título europeu há 45 anos, desde 1965. E ei-lo na final da Liga dos Campeões 2010 vs. Bayern, em Madrid. O argentino Diego Milito marca um, dois golos. É o abre-latas preferido de Mourinho na ausência de Ibrahimovic, contratado pelo Barcelona. O Inter enche-se de glória, Mourinho idem idem. E é a primeira vez que um finalista europeu entra em campo com 11 estrangeiros.

Ler mais:Mourinho. Mil jogos em 21 anos é obra especial

31 Rui Costa quer atletismo e, aos 13 anos, muda de ideias para o ciclismo. Em boa hora o faz. Aos 26 anos, ganha a Volta à Suíça e acaba o Tour em 18.º lugar, à frente do seu chefe de fila Alejandro Valverde. No ano seguinte, volta a conquistar a camisola amarela na Volta à Suíça e ganha duas etapas do Tour. Em setembro 2013, ainda arranja forças para cometer uma proeza inaudita, a de se sagrar campeão mundial de estrada, em Itália, num final de cortar a respiração com os espanhóis Joaquín Rodríguez e Alejandro Valverde.

32 Nasce Micaela Carolina Larcher de Brito, transforma-se em Michelle nos courts, onde pratica ténis desde os três anos, acompanhada pelo pai António. Aos nove, dá-se a mudança de ares para os EUA, onde faz um curso intensivo na Academia Nick Bollettieri. O resultado é espantoso. Ganha dois torneios em 2011 e mais um em 2012 antes de se confirmar como sensação absoluta na tarde de 26 junho 2013 com 6-3, 6-4 sobre a favoritíssima Sharapova, então a número 3 do mundo, em Wimbledon.

33 Guimarães é mesmo a cidade-berço de João Sousa. Aos 24 anos, o rapaz faz história. É uma sexta-feira, dia 27 setembro 2013, jogam-se os ¼ final do Open da Malásia. À sua frente, o espanhol David Ferrer, número 4 do mundo. E o que faz o nosso João? Em 98 minutos, o ténis português alcança a vitória mais fantástica de sempre e é o primeiro português a entrar no top 50.

34 De empate em empate até à vitória final. A seleção portuguesa acaba a fase de grupos do Euro-2016 a duvidar de si mesma e Fernando Santos muda alguns jogadores para o mata-mata. O caminho é cheio de altos, com o golo de Quaresma aos 120’ vs. Croácia, o penálti defendido por Patrício vs. Polónia, o 2:0 vs. Gales e o remate cheio de fé do suplente Éder no prolongamento vs. França, em pleno Stade de France.

35 O andebol português tem muito que se lhe diga, tal como o ABC, uma equipa de Braga com vontade de fazer história com agá maiúsculo. Já finalista europeia uma e outra vez, o ABC do andebol português celebra o primeiro título internacional numa final à portuguesa, vs. Benfica, em 2016. No conjunto das duas mãos, dois golos fazem a diferença (53:51).

36 Rui Bragança tira medicina e faz taekwondo, assim como quem não quer a coisa. Só que ele quer. E muito. Sobretudo em Baku, onde acumula a primeira internacionalização por Portugal em 2006, é bicampeão europeu em 2014 e ganha o inédito título nos Jogos Europeus em 2016, de acesso aos Jogos Olímpicos desse ano.

37 Teresa Bonvalot é uma menina de 13 anos sem medo da água. Nem das ondas. Vai daí, passa do bodyboard para o surf e recebe o primeiro wildcard para o circuito mundial, em 2013. No ano seguinte, é campeã nacional. E faz bi em 2015. Em 2016, uma semana depois da seleção portuguesa de futebol ganhar o Euro, a nossa Teresa também levanta o caneco europeu. E repete a experiência em 2017, no último ano de júnior.

38 Fernando Pimenta é um nome histórico e arrisco sem rodeios: será o primeiro atleta português a ganhar medalhas em três Jogos Olímpicos. Aos feitos em 2016 e 2021, vai acrescentar 2024 no seu currículo. Porque o homem é um animal competitivo sem igual dentro da canoa, campeão nacional de fundo há 15 anos seguidos, em K1 e já dono de mais de 100 medalhas internacionais.

© Créditos: DR

39 Aventureira até mais não, a Elisabete Jacinto. Começa nas motos. Em 2002, interessa-se pelos camiões. O desafio é mais aliciante, o peso é maior. Literalmente. Inscreve-se na Afro Eco Race, a versão do Dakar para os camiões. As primeiras experiências assustam, claro. Depois, é só acelerar para a eternidade. É vice-campeã em anos seguidos (2011, 2012) e volta a fazer pódio em 2013 e 2014, com o terceiro lugar. À quinta é de vez, e é a primeira do pódio em 2019. Até recebe um voto de louvor da Assembleia da República.

40 Sandra Bastos é uma mulher no mundo de homens. Como tal, a Federação Portuguesa de Futebol lança-lhe o desafio de apitar jogos masculinos. A estreia é um Limianos vs. Gil Vicente. Dois meses mais tarde, um jogo dos ¼ final da Liga dos Campeões femininos entre Paris SG e Chelsea. Para fechar a época em beleza, outro jogo masculino da 3.ª divisão nacional, entre U. Leiria e Benfica Castelo Branco. Caaaalma, ainda há mais. Nesse verão de 2019, a FIFA designa-a a primeira árbitra portuguesa a dirigir um jogo do Mundial. No dia 17 de junho, Alemanha e África do Sul entram lado a lado com a Sandra.

41 O Flamengo é uma Nação. Que o diga Jorge Jesus, campeão sul-americano e brasileiro no mesmo fim-de-semana em dezembro 2019. Ganha uma final impossível vs. River Plate em Lima com dois golos nos últimos instantes (2:1) e, já no Rio de Janeiro, recebe a notícia do título brasileiro após a derrota do Palmeiras vs. Grémio. Dupla alegria em menos de 24 horas.

© Créditos: AFP

42 Miguel Oliveira queima etapas cá com uma velocidade. Pudera, anda de moto. Há três divisões, todas respeitáveis. Miguel Oliveira cumpre-as sempre com esforço, devoção, dedicação e glória. Quando sobre à 1.ª, é o delírio da massa associativa. No GP Áustria 2021, o português passa Espargaró por dentro na última curva e corta a meta em primeiro. É histórico, é uma sensação única entre todos nós, motoqueiros ou não.

43 Pany Varela, Pany Varela. Dois golos do número 11 português garantem o título de campeão mundial de futsal 2021, uma proeza inesquecível da equipa a cargo do inimitável Jorge Braz. A noite de Kaunas (Lituânia) é curta para tanta festa e também para a despedida do maior de sempre, Ricardinho.

44 Quatro meses depois do tal título de campeão mundial, ainda em 2021, Portugal é bicampeão europeu de futsal, em Amesterdão. A campanha merece os maiores elogios pela capacidade de resiliência nos dois últimos jogos, vs. Espanha (3:2) e Rússia (4:2). Em ambos, a seleção portuguesa começa a perder 2:0.

45 Eugene, EUA. O saldo português nos Mundiais de atletismo é de uma medalha, a de ouro. Ganha Pichardo, cubano naturalizado português e campeão no triplo salto com um salto de 17,95 metros à primeira tentativa. É o título que lhe falta, um ano depois do ouro olímpico em Tóquio – e, já agora, um ano do segundo ouro nos Europeus de pista coberta.

46 Um centímetro faz diferença, olá se faz. Veja-se o ouro de Patrícia Mamona nos Europeus de pista coberta em 2021, na Polónia. A atleta portuguesa salta 14.53 e ganha mesmo à justa vs. Peleteiro (Espanha) e Eckhardt (Alemanha), ambas com 14.52. É o seu segundo ouro nos Europeus, o outro é ao ar livre em 2016.

Ler mais:

47 Abel Ferreira sai de Portugal com um só título na carreira de treinador, o de campeão português de juniores pelo Sporting. No Palmeiras, o homem consegue a proeza de ganhar a Libertadores uma e outra vez. Isso mesmo, Abel (e o Palmeiras) é bicampeão sul-americano em 2021. E é campeão brasileiro no terceiro ano, que categoria.

© Créditos: Martin Rickett/PA Wire/dpa

48 Cristiano Ronaldo tem uma fixação pela baliza. Golos é com ele. Ao ponto de ser o rei na Liga dos Campeões, o rei no Real Madrid e o rei a nível de seleções. Só lhe falta o mundo. Meu dito, meu feito. Em março 2022, marca dois golos vs. Tottenham na primeira parte e ultrapassa o checoslovaco Josef Bican (805).

49 A alegria é grande, enorme, gigante, xxl. Portugal mete um português na NBA, a indústria desportiva mais valiosa do mundo. Neemias Queta é o nome da figura, joga nos Sacramento Kings. Até agora, cinco jogos e 12 pontos, 10 dos quais vs. Lakers em dezembro 2022.