The Bling Ring: Duas chapadas bem dadas
"The Bling Ring", de Sofia Coppola, com Emma Watson, Katie Chang, Israel Broussard, Claire Julien e Taissa Farmiga.
Quando eu era pequenina nunca me deram duas bofetadas
Talvez eu esteja a ficar velho e irritadiço. Talvez seja por não ter a paciência que a paternidade parece dar aos pais com filhos adolescentes. Ou talvez eu seja simplesmente pouco tolerante, mas quando li nos jornais a história real que deu origem ao filme de Sofia Coppola, "The Bling Ring", pensei que aqueles adolescentes ricos mereciam duas chapadas bem dadas. Melhor, fizeram o que fizeram porque nunca levaram duas chapadas.
Bling Ringo foi o nome dado pelos meios de comunicação norte-americanos a uma gangue de jovens (entre os 16 e os 17 anos) que invadia casas de famosos em Los Angeles para roubar produtos de marca.
A escolha das celebridades a assaltar não era aleatória: tratava-se de jovens estrelas nos quais o grupo se revia.
A história do filme de Sofia Coppola baseia-se em factos reais e chegou às mãos da realizadora através de uma reportagem de Nancy Jo Sales, publicada na revista Vanity Fair.
Coppola interessou-se imediatamente pelas personagens e sobretudo pelos seus originais delitos, revelou em conferência de imprensa no festival de Cannes.
A filha de Francis Ford começou a informar-se sobre o assunto e decidiu rapidamente avançar com um filme.
"The Bling Ring" foi um dos mais aguardados filmes no Festival de Cannes, tendo inaugurado a competição da secção paralela Un Certain Regard.
Coppola revelou uma dificuldade inicial: encontrar os actores para desempenhar os papéis principais. Para alguns dos escolhidos foi necessário um intenso trabalho em diversos domínios.
A britânica Emma Watson teve de descobrir o sotaque californiano. Israel Broussard foi obrigado a descobrir o mundo da moda sobre o qual pouco ou nada sabia.
A actriz Claire Julien, que mora em Los Angeles, serviu de referência para os seus colegas quanto ao estilo de vida dos jovens da região.
O filme tem vários méritos, além da história tão original. Sofia Coppola integra permanentemente uma contemporaneidade que torna desde logo "The Bling Ring" um filme interessante: Coppola foi inspirar-se na estética dos "reality shows", das redes sociais e da fotografia da era Facebook e Instagram.
A montagem é dinâmica e acelerada, reflectindo o tipo de comunicação que os jovens praticam virtualmente e que começa a desbotar para a vida de todos os dias. O espírito juvenil está patente no ecrã e na abordagem escolhida. A narrativa é leve e bem disposta, gozando um bocado com as personagens.
A realizadora não deixa espaço para o desenvolvimento da psicologia das personagens, mas esse não é o caminho escolhido por Sofia Coppola, talvez infelizmente.
Os nomes dos jovens do Bling Ring foram mudados para não lhes oferecer a projecção que eles tanto procuraram. Além de gostarem de roupas do último grito e de imitarem as suas estrelas preferidas, estes miúdos tinham vontade – antes de mais nada – de serem famosos.
Coppola mantém, no entanto, os nomes das estrelas, chegando ao ponto de filmar nas verdadeiras casas das vedetas. Paris Hilton foi uma das escolhidas e "The Bling Ring" torna-se assim num instrumento de "voyeurismo".
"The Bling Ring", de Sofia Coppola, com Emma Watson, Katie Chang, Israel Broussard, Claire Julien e Taissa Farmiga.
Raúl Reis
Publicado no CONTACTO em 19.06.2013