Óscares 2021. Hollywood entre covid e confissões
Na noite dos Óscares, como em qualquer outro evento de prémios deste tipo, há sempre vencedores, aqueles que deviam ter sido vencedores e aqueles que nós preferíamos que vencessem.
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Na noite dos Óscares, como em qualquer outro evento de prémios deste tipo, há sempre vencedores, aqueles que deviam ter sido vencedores e aqueles que nós preferíamos que vencessem.
Este fenómeno acontece nos festivais de cinema, em concursos de misses, em eventos literários e todas as competições não objetivas. Todas as escolhas subjetivas são isso mesmo... subjetivas. É por essa razão que os prémios deste género deixam muita gente feliz, mas também muita gente zangada a gritar “injustiça!”.
A noite para mim começou bem. Sou um imenso fã de “Promising Young Woman”, o filme que Emerald Fennell escreveu e realizou é uma história surpreendente sobre a qual escrevi neste espaço há uma semana. A inglesa, extremamente grávida, recebeu o primeiro Óscar da noite, destinado ao melhor argumento original.
Logo a seguir, o meu filme estrangeiro preferido levou o prémio para a Dinamarca. “Drunk” de Thomas Vinterberg é uma obra brilhante sobre a vida e sobre estar-se a marimbar para as consequências das decisões mais parvas.
A noite foi esquisita por causa da pandemia. Pouca gente, muitos presentes apenas por vídeo e um ambiente no mínimo estranho. A realização de Steven Soderbergh deixava antecipar maravilhas mas foi apenas diferente. Não havia ovos suficientes e o realizador não conseguiu uma omelete saborosa.
Esta foi a 93.ª edição dos Óscares, que já deveria ter acontecido no final de fevereiro, mas acabou por ser empurrada para abril por causa da covid-19. A cerimónia aconteceu no Dolby Theatre, com audiência muito limitada, no edifício da estação de comboios Union Station, em Los Angeles, e noutros locais internacionais via satélite, sobretudo para trazer à festa alguns dos nomeados.
Com "Mank" a liderar as nomeações com 10 possibilidades, esperava-se que a obra dirigida por David Fincher acabasse a noite com uma bela lista de estátuas douradas. A noite acabou e dois prémios de consolação foram entregues a esta excelente película: Melhor Cenografia e Melhor Direção de Arte.
As últimas semanas tinham demonstrado que "Nomadland" se destacava como favorito, e assim foi. O filme de Chloé Zhao, indicado para sete estatuetas, tinha acabado de arrecadar quatro prémios Spirit, os chamados Óscares do cinema independente: melhor filme, melhor realização, melhor montagem e melhor fotografia.
Protagonizado por Frances McDdormand, o filme conta a história de uma mulher que viaja pela América como nómada, vivendo numa caravana, trabalhando em empregos temporários e sobrevivendo na estrada, num contexto de crise económica.
Embora “Nomadland” seja uma ficção, a obra assenta em testemunhos reais de norte-americanos que vivem na estrada, sempre em movimento, numa comunidade nómada envelhecida e quase marginal.
Chloé Zhao, sino-americana, é a primeira mulher asiática nomeada para os Óscares, e a segunda realizadora a obter o Óscar do melhor filme. Apesar da sua conquista, as autoridades chinesas não ficaram contentes e tentaram ignorar o feito. Numa entrevista em 2013, a realizadora tinha declarado que na China "há mentiras por todo o lado". O comentário foi recuperado nas redes sociais, com internautas nacionalistas a acusarem Zhao de traição.
O Óscar de Melhor Ator foi atribuído a Anthony Hopkins pelo fabuloso desempenho em "The Father", do francês Florian Zeller. Para o Óscar de Melhor Atriz estavam nomeadas Carey Mulligan ("Promising Young Woman"), Frances McDormand ("Nomadland"), Viola Davis ("Ma Rainey"), Vanessa Kirby ("Pieces of a Woman") e Andra Day ("The United States vs. Billie Holiday"). Frances McDormand acabou por vencer.
Daniel Kaluuya conquistou o Óscar de Melhor Ator Secundário, pelo trabalho em "Judas and the Black Messiah", enquanto que a coreana Yuh-Jung Youn recebeu o de Melhor Atriz Secundária, pelo desempenho em "Minari", de Lee Isaac Chung.
A atriz nascida na Coreia do Norte que protagoniza o filme de Lee Isaac Chung, declarou-se contrária ao espírito competitvo e, num divertido discurso de aceitação do Óscar, interrogou-se como podia comparar-se a Glenn Close, que teve este ano a sua oitava nomeação.
Mas o discurso emocional do ano – e que ficará nos anais dos Óscares – foi o de Thomas Vinterberg, que conquistou com “Drunk” o prémio para Melhor Filme Estrangeiro. O dinamarquês contou a morte da sua filha de 19 anos num acidente de automóvel na Bélgica, durante a primeira semana de rodagens. O realizador dedicou a obra à filha e protagonizou o momento mais marcante de um evento cinzento.