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O Contacto no Festival de Cannes

A Croisette já está cheia desde o fim de semana passado e os hotéis estão com preços pela hora da morte.

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Crítico de cinema

O festival de Cannes de 2023 começa esta terça-feira. A Croisette já está cheia desde o fim de semana passado e os hotéis estão com preços pela hora da morte. A inflação na hotelaria cannense durante o festival de cinema, não sendo novidade nenhuma, este ano impressiona o mais pintado. Ainda há um ou outro quartinho nos hotéis mais emblemáticos da Croisette, como o Martinez ou o Carlton, mas não se arranja nada abaixo de 2.500 euros por noite. E desengane-se quem imaginar que vai dormir mais longe, a Juan-les-Pins ou Antibes; os preços subiram pelo menos 50% em relação ao ano passado.

Mas não é para falar dos hotéis de Cannes e das suas tarifas exorbitantes que aqui estou. Como sempre, no início do festival evitam-se prognósticos, mas listam-se as honrosas presenças portuguesas que podem não ser muitas, mas são sempre um prazer para o nosso orgulhoso, e igualmente modesto, coração lusitano.

Talvez a mais mediática presença portuguesa seja a de José Condessa, um jovem ator de 25 anos, filho de peixe, e que está pela primeira vez em Cannes, por causa do filme "Estranha Forma de Vida", de Pedro Almodóvar, no qual participa.

"Estranha forma de vida" é um 'western queer', como o próprio realizador espanhol o descreveu, sobre dois 'cowboys' que se reencontram mais de vinte anos depois de terem trabalhado juntos como pistoleiros a soldo.

A narrativa decorre em momentos temporais diferentes, contando com os atores Ethan Hawke e Pedro Pascal nos papéis de Jake e Silva. José Condessa interpreta a mesma personagem de Silva quando jovem. Apesar de se tratar de uma curta metragem, o filme de Almodóvar terá uma projeção enorme por ser assinado por quem é, e o charme do nosso homem português em Cannes já está a ser apreciado, depois do realizador espanhol não lhe ter resistido nos castings.

Quem também leva uma curta metragem à Croisette é Pedro Costa. "As filhas do fogo" foi integrada na seleção oficial do 76.º Festival de Cinema de Cannes.

A seleção Un Certain Regard conta com uma bela presença portuguesa. É o filme de João Salaviza, realizado as quatro mãos com a brasileira Renée Nader Messora. "A Flor do Buriti" foi rodado no Brasil, tendo o povo indígena Krahô como protagonista.

Portugal está também em Cannes com uma verdadeira armada na Quinzena dos Cineastas (anteriormente Quinzena dos Realizadores). Esta seleção paralela – a mais prestigiada de todas – exibe uma portuguesa num filme de Manoel de Oliveira. Trata-se de uma bela homenagem da organização ao cinema do mestre português, celebrando os 30 anos da passagem de "Vale Abraão" por aquele certame, tendo a organização escolhido uma fotografia de Leonor Silveira para servir de cartaz à quinzena.

A nova longa metragem de Filipa Reis e João Miller Guerra, produção de Uma Pedra no Sapato, também está neste certame. A dupla está selecionada também para a Quinzena dos Cineastas, com “Légua”.

A Fábrica dos Cineastas é uma das novidades da Quinzena. Este programa propõe-se apoiar novos talentos no cenário internacional, permitindo que quatro duplas de jovens cineastas recém-formados (um cineasta regional associado a um cineasta internacional) co-realizem um filme. E este ano o Norte de Portugal é convidado de honra.

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A Quinzena apresenta o fruto das colaborações: quatro curtas metragens co-escritas e co-realizadas por estas duplas.

Os oito cineastas selecionados também são iniciadores de projetos de longas metragens e aproveitarão a presença em Cannes para fazer o 'pitch' desses projetos para profissionais, sejam eles produtores, distribuidores ou vendedores.

Este projeto da Quinzena foi lançado com a produtora Bando à Parte, de Rodrigo Areias.

Entre as presenças portuguesas, também há um jurado pois o diretor de fotografia Rui Poças vai fazer parte do júri da Semana da Crítica, um dos programas paralelos do festival de Cannes, com programação própria de filmes e atribuição de prémios. 

"Corpos Cintilantes" é uma primeira obra da realizadora Inês Teixeira, com produção da Terratreme Filmes, que foi justamente selecionada para a competição de curtas metragens da Semana da Crítica.

Se esqueci algum português presente em Cannes, perdoem-me. Tentarei penitenciar-me e corrigir-me na semana que vem. Entretanto, tenho mesmo que ir porque uns amigos ofereceram-me dormida e não vou desperdiçar a oportunidade de poupar dois mil euros...