O cinema português e o público
Quinzena do Cinema Português no Luxemburgo 2013
"O Cônsul de Bordéus", filme que abriu a Quinzena de Cinema Português, que decorre até 18 de Junho
Infelizmente os portugueses não gostam de cinema português. Os números em Portugal confirmam a falta de interesse pelas produções nacionais. A frequência nas salas luxemburguesas quando são projectadas obras lusitanas também não é famosa, salvo raras excepções.
A Quinzena de Cinema Português no Luxemburgo – sendo uma excelente e necessária iniciativa – demonstra a mesma realidade. As salas não enchem a não ser por convite ou porque há croquetes no fim do filme.
O divórcio entre público e autores portugueses é antigo e reflecte o estado do cinema em Portugal e, em certa medida, na Europa. Quando um realizador tem a sorte de rodar tenta criar a obra mais perfeita que pode e aproveitar os subsídios e fundos recolhidos para fazer o trabalho mais elaborado que tem em mente. Esta atitude resulta frequentemente em filmes cuja pretensão artística divorcia a obra dos espectadores.
Não há solução para este dilema. Até porque o cinema evolui graças aos criadores de filmes "arthouse". O cinema precisa de obras ousadas que procurem novos caminhos. Contudo, o cinema não pode divorciar-se do público e as películas mais democráticas, que agradem a uma vasta maioria, são necessárias. Desde logo para permitir que os cinemas continuem a funcionar e que toda a indústria se desenvolva.
A quinzena de cinema português que decorre actualmente no Luxemburgo é uma prova clara de que, em Portugal, se faz cinema para todos os públicos. Longe vão os tempos em que as obras de Manoel de Oliveira definiam todo o cinema português.
O prazer de ver cinema português passa também pelos actores. Portugal – por ter uma produção reduzida – não tem, obviamente, um "star system". A galáxia de actores portugueses de cinema sobrepunha-se sobretudo à do teatro. Actualmente, muitos dos actores que aparecem no grande ecrã migraram do pequeno. Este facto contribuiu para uma maior identificação do público com os intérpretes e contribui claramente para aumentar o espaço do cinema português.
A Quinzena de Cinema Português no Luxemburgo contribui para provocar o mesmo efeito no Luxemburgo. É uma oportunidade de descobrir o cinema português, numa mistura – que se quer equilibrada – de géneros. Já o escrevi aqui: a quinzena peca por ser apenas uma vez no ano. Os portugueses do Luxemburgo – e todas as outras nacionalidades presentes no Grão-Ducado – precisam de ter um contacto mais permanente com o novo cinema português.
Não será por simples hábito que os portugueses se reconciliarão com a sua Sétima Arte mas, sobretudo, por descobrirem que o cinema luso também pode entreter, e dar vontade de se sentar numa sala escura para ver e ouvir um filme falado na língua de Camões.
Raúl Reis
Publicado no CONTACTO em 12.06.2013