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"Não seria músico se não tivesse crescido nos musseques de Luanda"

"Bonga é um verdadeiro embaixador da cultura. E isto não só através da música, pois fala da cultura angolana há 40 anos”, afirmou Helena Monteiro, ao apresentar o cantor angolano na conferência que teve lugar no sábado, no Centro Cultural Camões, na cidade do Luxemburgo.

Bonga começou "como cantor de intervenção contra o colonizador, contra o dominador", diz o cantor.

Bonga começou "como cantor de intervenção contra o colonizador, contra o dominador", diz o cantor. © Créditos: Félix Andrade

Anunciada como uma conferência sobre a maneira de falar o português em Angola, o cantor optou por falar da forma como a cultura angolana moldou a sua carreira.

"Comecei como cantor de intervenção contra o colonizador, contra o dominador”, lembrou.

"Não seria músico se não tivesse crescido nos musseques de Luanda onde, apesar de analfabetos, os velhos do musseque eram verdadeiros transmissores de cultura. Por isso sei que não há culturas superiores - só há outras culturas”, disse Bonga.

Sempre preocupado em transmitir a pulsação africana, Bonga contou como iniciou o seu percurso pelos países europeus, durante o exílio entre o início dos anos 1970 e 1975.

Foi em Roterdão que lançou, em 1972, o primeiro álbum, "Angola 72", que lhe valeu a perseguição da PIDE/DGS, a polícia política do Estado Novo.

Apesar de viver a maior parte do tempo noutros países, Bonga diz que tem mais afinidades com quem fala português.

"Em contacto com povos com quem não sinto grandes afinidades, sinto-me logo melhor quando posso falar português, e melhor ainda se for angolano”, explicou o cantor, que se considera um representante da África lusófna.

"Sempre que canto, sinto que represento todos os países africanos de expressão portuguesa”.

Bonga relembrou a sua primeira actuação em Paris, quando assegurou "uma espécie de aperitivo para o concerto de Charles Aznavour".

"Quando comecei a cantar o choradinho africano, aquele choro chorado, fiz os franceses ouvir”, recordou.

Quem também o ouviu no seu camarim foi Charles Aznavour, e gostou tanto que insistiu com o apresentador para que não cortasse a intervenção de Bonga ao fim do terceiro tema e o deixasse cantar mais.

Nesta sua passagem pelo Luxemburgo, Bonga actuou nessa mesma noite no Centro Cultural de Hollerich (ver artigo anexo).

Vera Herold

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