Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira
Vulto da cultura de Cabo Verde e uma das principais impulsionadoras da candidatura da morna a Património da Humanidade, Celina Pereira morreu esta quinta-feira, em Lisboa, aos 80 anos.
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A cantora cabo-verdiana Celina Pereira morreu, esta quinta-feira, 17 de dezembro, em Lisboa, onde residia, vítima de doença prolongada.
Considerada uma das maiores nomes da canção do país, era natural da ilha da Boavista, e sobrinha de Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde.
Celina Pereira viu o seu primeiro 'single' "Bobista, Nha Terra/Oh, Boy!", editado em 1979, mas só em 1986 lançou o primeiro disco "Força di Cretcheu" (Força do Meu Amor), que inclui histórias e cantigas de roda, brincadeira, casamento e trabalho.
Seguiu-se depois "Estória, Estória... No Arquipélago das Maravilhas" (1990), "Nós Tradição" (1993), "Harpejos e Gorjeios" (1998) e "Estória, Estória... do Tambor a Blimundo" (2004).
Em 2003, Celina Pereira foi condecorada com a medalha de mérito - grau comendadora - pelo Presidente português, Jorge Sampaio, pelo trabalho na área da educação e da cultura cabo-verdiana.
Em 2014, foi galardoada com o Prémio Carreira na 4.ª edição do Cabo Verde Music Awards (CVMA).
Além da carreira musical, trabalhou como hospedeira da TAP, e destacou-se, mais tarde, também como escritora, dedicando-se sempre a várias atividades de promoção da cultura cabo-verdiana.
A notícia da morte de Celina Pereira, de 80 anos, foi confirmada pelo ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, que, à Lusa, disse estar em contacto com o embaixador de Cabo Verde, em Portugal, para tratar da posterior homenagem à cantora.
“Neste momento inicial, todos os contactos estão a ser feitos para o senhor embaixador em Portugal que está a passar a informações para sabermos como é que nós podemos organizar aqui, para sabermos se podemos participar, estar presentes, honrar a memória da Celina”, afirmou o ministro.
Definida por Abraão Vicente como um “grande vulto da cultura cabo-verdiana”, o ministro sublinhou que Celina Pereira é ainda um “figura incontornável” não só da cultura, como artista de palco, mas também como investigadora.
“É alguém que, ligando a diáspora a Cabo Verde, tinha uma ligação muito especial com Cabo Verde, com a Boavista e com São Vicente, mas uma pessoa que se notabilizou pela forma pedagógica, pela sua entrega à causa cabo-verdiana, também como escritora e como amante da cultura total cabo-verdiana”, prosseguiu.
Defensora da morna como Património da Humanidade
Abraão Vicente sublinhou ainda que Cabo Verde perdeu a primeira pessoa que verbalizou a ideia de se candidatar o género musical morna a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o que acabou por acontecer há precisamente um ano.
“O que fizemos no ano passado foi concluir o sonho de toda uma geração e Celina, com certeza, está no pelotão da frente dos que mais batalharam e mais fizeram para que o dossier de candidatura da morna tivesse sucesso no ano passado”, declarou.
O ministro disse que no ano passado gostaria que a cantora estivesse em plena saúde para fazer parte da comitiva que se deslocou a Bogotá, na Colômbia, o que seria “um prémio merecido para ela”.
Abraão Vicente garantiu que a cantora já está perpetuada na memória coletiva de Cabo Verde, estando entre as figuras que foram homenageadas recentemente na Casa da Morna, em São Nicolau, e será uma das “figuras centrais” da mesma estrutura projetada para a ilha da Boa Vista.
“Celina Pereira estará sempre entre as figuras a lembrar e a marcar como parte da daquilo que é o percurso do folclore cabo-verdiano”, concluiu o ministro nas declarações à Lusa.
Uma artista multifacetada e dedicada a Cabo Verde
Celina Pereira morreu no mesmo dia - 17 de dezembro - que Cesária Évora, que partiu há nove anos.
Sem ter tido a carreira internacional de Cesária, Celina Pereira é considerada uma das maiores cantoras cabo-verdianas.
"Era uma grande cantora, tinha uma voz singular e majestosa, e impressionava também pela sua presença forte em palco, sempre com as vestes tradicionais", descreveu à Lusa, o ex-presidente da Associação Caboverdeana de Lisboa, José Luís Hopffer Almada.
Mas, como lembrou o antigo dirigente, o seu percurso não se esgotou na música. Mais recentemente, Celina Pereira, destacou-se também como "contadora de histórias, de contos tradicionais".
Era ainda um membro ativo da comunidade cabo-verdiana, em Portugal, sendo uma das cantoras "mais conhecidas e também das mais ligadas às atividades da associação" em Lisboa.
O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, salientou que a cantora “marcou gerações” e que “o seu legado será preservado e lembrado”.
com Lusa