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OpiniãoCrítica de cinema

"Little Duke". No Grão-Ducado há um pequeno duque em dificuldades

Filme narra a história de dois irmãos que herdaram um pub irlandês na Cidade do Luxemburgo.

© Créditos: DR

Crítico de cinema

Eles são dois irmãos. Na minha terra e no meu tempo diríamos que são uns castiços. Já não são jovens, o que é uma forma muito simpática de dizer que têm uma certa idade, o que é mais agradável do que dizer que ambos se sentem velhos. Os dois irmãos pouco jovens são Schumi e Mill. Estes são os seus nomes de guerra, apesar de não terem combatido em nenhuma. Na verdade, chamam-se Victor e Émile e são os herdeiros de um negócio que poderia ser florescente mas que não o é.

Ambos na casa dos 60, os irmãos herdaram o bar Little Duke após a morte do seu pai adotivo. Trata-se de um pub irlandês na idílica cidade baixa da rica cidade do Luxemburgo, mas o estaminé há muito que viveu os seus tempos de glória. O Little Duke – e os donos – estão fortemente endividados e, ainda por cima, o bar precisa de obras. Esta situação convém perfeitamente aos especuladores do setor da construção que querem reconstruir todo o bairro...

O realizador Andy Bausch é uma espécie de Ken Loach do Grão-Ducado.

Mill e Schumi estão perante um dilema: o que fazer? Recomeçar quando se preparavam para a reforma, ou revitalizar o bar? E porque não ceder à tentação e aceitar as ofertas pornográficas dos investidores?

O realizador luxemburguês mais social cá do burgo – ele é uma espécie de Ken Loach do Grão-Ducado – Andy Bausch conta a história e os dilemas de dois velhotes: um que é um pragmático realista e outro que é um otimista incorrigível. Andy Bausch nasceu em 1964 na cidade de Differdange, no Luxemburgo. Desde jovem demonstrou interesse pelas artes visuais e pela música, influenciado pela sua família de artistas. Estudou na Escola de Cinema de Paris e no Luxemburgo iniciou a carreira cinematográfica tornando-se uma referência da Sétima Arte no país.

Autor de “Troublemaker”, uma comédia sobre um músico de rock que foi um grande sucesso de bilheteria no Luxemburgo, Bausch é também reconhecido pela sua contribuição significativa para o cinema luxemburguês em geral, tendo dirigido vários filmes que são considerados importantes para a história do cinema no país.

A filmografia de Andy Bausch é extensa e diversificada, com mais de trinta filmes na sua carreira. Dirigiu a sua primeira longa metragem quando tinha apenas 20 anos. Desde então, dirigiu filmes que abordam temas sociais, com destaque para a imigração, a família e a identidade cultural.

Em geral, o luxemburguês propõe personagens complexas e multifacetadas, inclusivamente nas comédias explorando questões políticas importantes.

A técnica de realização de Bausch é marcada por uma forte estética visual e um estilo cinematográfico distinto. Todas as suas cenas são cuidadosamente coreografadas e filmadas, criando atmosferas e ambientes imersivos, e “Little Duke” não é exceção, fazendo-nos mergulhar na velha cidade luxemburguesa e nos seus contrastes. Diz quem sabe que Andy Bausch acredita num cinema colaborativo, trabalhando em estreita colaboração com os seus atores e toda a equipa.

Detentor de uma assinatura bem específica, Bausch é, contudo, acusado de perpetuar clichés sobre os luxemburgueses que nem sempre lhes serão muito favoráveis. Bausch defende-se dizendo que tem um enorme afeto pelas “pessoas simples que tentam sobreviver num país rico como é o Luxemburgo”.

“Little Duke” é uma súmula da carreira de Bausch, reunindo muito daquilo que o realizador foi fazendo, tanto em ficção como no formato de documentário. Os fãs do cineasta vão apreciar, enquanto que o que não gostam do Loach cá do burgo vão certamente evitar ir ao cinema rir-se com os desbocados irmãos Mill e Schumi.

“Little Duke” de Andy Bausch, com André Jung, Luc Feit, Valérie Bodson, Marco Lorenzini, Larisa Faber; Steve Karier, Marie Jung, Sophie Langevin e Hervé Sogne.