José Manuel Saraiva publica conto inspirado na cidade do Luxemburgo
O escritor português José Manuel Saraiva, residente no Luxemburgo, contribuiu com o conto "Símbolo e Testemunho" para uma colectânea de histórias em torno de 30 cidades capitais. "Contos Capitais" reúne outros tantos autores – 26 portugueses e quatro de língua espanhola.
Um conto inspirado na capital luxemburguesa integra a colectânea "Contos Capitais", que reúne histórias de 30 cidades. O autor, José Manuel Saraiva, a viver no Luxemburgo, inspirou-se no cemitério americano de Hamm © Créditos: M. Dias
O livro é como uma viagem pelo mundo com paragens em Lisboa, Praga, Londres, Paris, Montevideu, La Paz, Washington e muitas outras cidades, que se revelam ao leitor através do olhar dos autores e dos ilustradores ou fotógrafos que aceitaram este desafio da nova editora Parsifal.
Entre os escritores que responderam à chamada, incluem-se Mário de Carvalho, José Riço Direitinho, Maria do Rosário Pedreira, Miguel Real e Urbano Tavares Rodrigues.
Escrito na primeira pessoa, o conto de José Manuel Saraiva é inspirado pelo cemitério militar norte-americano do Luxemburgo, que o autor visita desde que começou a vir regularmente a esta cidade onde agora reside.
Ali jazem mais de cinco mil soldados americanos que perderam a vida na "impiedosa batalha das Ardenas, travada pouco antes do fim do III Reich, entre o Inverno de 1944 e a Primavera de 1945", conta-se na história. É ali também que se encontra a campa do general George S. Patton, que comandou o 3o Exército dos Estados Unidos.
A partir deste local, o autor tece uma história em torno da personagem Franz Diederich, que todos os anos deposita uma flor em homenagem ao general e aos milhares de soldados que morreram quando libertaram o país.
Franz Diederich representa aquilo que poderá bem ter sido a experiência vivida por muitos luxemburgueses ainda crianças em 1940, mas que se lembram da invasão do país pela Wehrmacht.
O III Reich via o Luxemburgo como uma extensão do seu território e baniu a utilização da língua francesa, perseguindo os 1.800 judeus que ainda viviam no país e obrigando-os a sair do país ou deportando-os para os campos de concentração, de onde nem 50 regressaram com vida.
Os nazis perseguiam também todos os que escondiam ou ajudavam judeus, e integraram os homens luxemburgueses na Wehrmacht, obrigando-os a combater ao lado das forças do Eixo.
O conto é um murro no estômago, o mesmo que José Manuel Saraiva sentiu quando visitou pela primeira vez o cemitério de Hamm. A história conta num estilo despojado, mas com grande emoção, o destino da família de Franz Diederich.
Esta não é a primeira vez que o autor se debruça sobre a temática da guerra, que conhece bem, já que foi combatente na Guiné entre 1968 e 1970. Um país a que regressou para filmar um documentário sobre um episódio particularmente sangrento da guerra colonial.
Aquando da exibição de "O corredor da morte" no Festival das Migrações de 2012, José Manuel Saraiva, em declarações ao CONTACTO, citou um capitão que dizia "a guerra não acaba nunca".
Pode bem ser essa a razão por que o autor, que é também um estudioso da história militar da Segunda Guerra Mundial, não esquece que o chão que pisa no Luxemburgo e nas zonas vizinhas da França e Bélgica é testemunha dos combates ferozes e sangrentos que custaram a vida a mais de 17 mil soldados.
A dois quilómetros de Hamm, fica o cemitério alemão, com as 12 mil campas dos soldados que combateram na última ofensiva do III Reich.
Vera Herold
(O jornal CONTACTO publicou a versão integral do conto de José Manuel Saraiva na edição de 05/06/2013, com o acordo do escritor e da editora)